quinta-feira, 31 de março de 2011

REFLEXÃO PRAGMÁTICA ACERCA DA MORTE

QUEM? Alexandre Quaresma (1967). Escritor e editor desse blog. ******************************************************************** REFLEXÃO "O quanto antes nos dermos conta de nossa condição inexorável de viventes e morrentes, melhor será para que a nossa breve passagem por aqui possa ser aprazível e proveitosa do ponto de vista do sujeito que nasce e tem que morrer. Conclusão: a perspectiva da morte aviva a vida."

terça-feira, 29 de março de 2011

ROMANCE BAUDOLINO DE UMBERTO ECO: A CONCEPÇÃO DE DEUS SEGUNDO A PERSONAGEM IPÁSIA


QUEM?

Umberto Eco (1932). Escritor e semioticista.
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COMENTÁRIO

Deus enquanto concepção e significação simbólica suprema de fé e/ou descrença sempre foi um assunto controverso e escorregadio que se encontra longe de achar repouso enquanto conclusão definitiva, até porque, seu pleno compreendimento enquanto dinâmica complexa de interação sígnica passa - inevitavelmente - pela questão basilar da subjetividade singular de cada um. Ou seja, não há como esperar devoção, por exemplo, dos que não crêem na hipótese de sua existência. Daí, dessa contingência, é que surgem as intermináveis pinimbas e desentendimentos oriundos sempre dos que desejam impor sua fé aos demais que não comungam das mesmas convicções. E, desse nó Górdio, por assim dizer, se originam todos os desentendimentos que alimentam as maiores e mais dramáticas formas de intolerância, que, por sua vez, levam aos horrores das principais guerras da história e da civilização. Na citação retirada do romance Baudolino, vemos a personagem Ipásia descrever sua concepção de Deus.
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CITAÇÃO

"[Ipásia] Disse: 'Deus é Único, e totalmente perfeito que não se parece com nenhuma das coisas que existem e com nenhuma das coisas que não existem; não o podes descrever usando a sua inteligência humana, como se fosse alguém que se deixa levar pela ira, se és mau, ou que se ocupa de ti por bondade, alguém que tenha boca, orelhas, rosto, asas, ou que seja espírito, pai ou filho, nem mesmo de si próprio. Do Único não podes dizer que existe ou que não existe, tudo abrange mas nada é; podes nomeá-lo apenas através da dessemelhança, porque é inútil chamá-lo Bondade, Beleza, Sabedoria, Amabilidade, Potência, Justiça, seria o mesmo que chamá-lo de Urso, Pantera, Serpente, Dragão ou Grifo, pois, não importa o que disseres, nunca poderás exprimi-lo. Deus não é corpo, figura, ou forma, não tem quantidade, qualidade, peso ou leveza, não vê, não ouve, não conhece desordem e perturbação, não é alma, inteligência, imaginação, opinião, pensamento, palavra, número, ordem, grandeza, não é igualdade nem desigualdade, não é tempo nem eternidade, é uma vontade sem objetivo; procura entender, Baudolino, Deus é uma lâmpada sem chama, uma chama sem fogo, um fogo sem calor, uma luz escura, um rumor silencioso, um relâmpago sem rumo, uma escuridão luminosíssima, um raio da própria treva, um círculo que se espande contraido-se no próprio centro, uma multiplicidade solitária, é... é...'" (pág376) [...] "Vês que ainda podes tornar-te sábio, Baudolino? Disseste em certa medida. Apesar do erro, uma parte do Único permaneceu em cada um de nós, criaturas pensantes, e também em cada uma das outras criaturas, dos animais aos corpos mortos. Tudo o que nos circunda é habitado por deuses, as plantas, as sementes, as flores, as raízes, as fontes, cada um deles, embora sofrendo por ser uma péssima imitação do pensamento de Deus, não quereria mais do que reunir-se com ele. Devemos encontrar a harmonia entre os opostos, devemos ajudar aos deuses, devemos reavivar estas centelhas, estas lembranças do Único, que jazem ainda sepultadas em nossa alma e nas próprias coisas." (pág380)
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LIVRO: Baudolino // AUTOR: Umberto Eco // EDITORA: Record, Rio de Janeiro, 2001

sexta-feira, 4 de março de 2011