domingo, 18 de outubro de 2009

HERÁCLITO DE ÉFESO: DEUS EM TODAS AS COISAS, LUGARES E INSTANTES

QUEM?
Heráclito de Éfeso (aprox. 540 a.C. - 470) foi um filósofo pré-socrático conhecido como "Obscuro" e também como o "pai da dialética". Sua alcunha advém, principalmente, da forma com que escreveu seu livro Sobre a Natureza que traz um estilo obscuro, próximo a sentenças oraculares.
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COMENTÁRIO
Debruçar-se sobre si mesmo e por sobre a natureza do ser e das coisas é tarefa, sem dúvida, ímpar. Sim! Porque compreender dói. Cega a vista, machuca o olhar, mutila a razão e pode mesmo aniquilar o ser frágil e perplexo que, diante de tudo, sente-se esmagado por sua aparente insignificância. E, por falar nesse (tudo), Heráclito viveu atento a tudo com um olhar penetrante e crítico que, por fim, viria a mudar radicalmente a maneira de pensarmos e compreendermos nós mesmos além dos fenômenos da Natureza. Dialética é uma 'coisa' muito simples e rudimentar - hoje - que praticamos todo o tempo quando pensamos, tomamos tino de algo, julgamos e tomamos decisões. É-nos tão natural que o fazemos sem pensar. Todavia, alguém teve que refletir sobre isso primeiro, de forma inusitada e inauguradora. Este foi Heráclito!
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Na citação escolhida, vemos o Mestre filósofo grego pronunciar-se sobre o conflito presente em tudo.
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CITAÇÃO
"O conflito é pai de tudo, de tudo é rei; designou uns para deuses, outros para homens; de uns fez escravos, de outros, livres." (pág232)
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LIVRO: Heráclito e seu (dis)curso // AUTOR: Donaldo Schüler // EDITORA: L&PM // Porto Alegre // 2000

terça-feira, 13 de outubro de 2009

OS DEUSES TÊM SEDE DE ANATOLE FRANCE: OS MUITOS LADOS DE UMA MESMA HISTÓRIA

QUEM?
Jacques Anatole François Thibault, mais conhecido como Anatole France (1844/1924) Talentoso escritor francês. Autor de Os Deuses Têm Sede. Outras obras são: Thais, 0 Lírio Vermelho, O poço de Santa Clara, A rebelião dos anjos entre outras.
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COMENTÁRIO
Não é de hoje que, vira e mexe, uma meia dúzia de três ou quatro malucos vêm, tomam o poder, e fazem dele um verdadeiro cavalo de batalhas, gerando calamidades das mais diversas espécies, e derramando o sangue de pessoas, muitas vezes, inocentes. Mesmos que estes malucos estejam lutando por mais liberdade, igualdade e fraternidade para a coletividade. O poder corrompe as intenções. Aleija a boa vontade e despedaça as ilusões. Sublima o indivíduo, destrói o ser. Turva o saber e cega a razão. Interesses, inveja, despeito, fundamentalismo, hipocrisia, tentação, cobiça, prevaricação, imprudência, corrupção, inveja, dinheiro, comodismo são apenas alguns dos sedutores atalhos que podem fazer o homem bom se desvirtuar. Difícil é estar imune trafegando nas proximidades do poder, onde a promiscuidade é regra e não a exceção, onde o virtuoso facilmente destoa do grupo que deveria integrar, presa de seu fisiologismo e de seus vícios mais sórdidos. Política: maldita profissão inferior que não requer referência de nenhuma espécie para restringir o ingresso da turba em suas fileiras. Afora, é claro, o sufrágio das urnas; ou seja, a voz do Povo que, diga-se, só a tem de fato de quatro em quatro anos, e olhe lá! Acontece, caro Leitor, que a voz do Povo é burra, pois o Povo é, em sua maioria esmagadora, analfabeto, quase sempre manipulável e volúvel - volátil mesmo, diria eu - e capaz das maiores atrocidades quando reunido em massa e irritado em seus brios mais íntimos de sua cidadania. Pois - como já escreveu sabiamente meu prezado amigo Roberto Raup da belíssima e histórica Rio Pardo/RS - quando aglomerados, passamos a reagir instintivamente às situações do ambiente que nos contém numa espécie de Síndrome de Manada, onde retornamo-nos animais brutos e de novo irracionais, a ponto de esmagar tudo em nosso caminho, incluído nossos semelhantes. Foi assim nas Cruzadas, na Santíssima Inquisição, no nazismo, na Ditadura Militar brasileira, na África do Sul, no Vietnã, no Mundo inteiro e, como não poderia deixar de ser, também na Revolução Francesa. As tais liberdade, igualdade e fraternidade foram conquistadas - 'em parte', na ampla aplicabilidade e compreensão do termo aqui empregado - com suor, lágrimas e sangue, muito sangue! Quando a realeza privilegiada da França do Século XVIII caiu, não perdeu apenas o direito às suas posses terrenas e materiais, suas riquezas e luxos, mas também às próprias cabeças que ficavam, até então, firmes com empáfia em cima de seus pescoços, antes de serem guilhotinadas pelos representantes do povo na Convenção e no Tribunal Revolucionário. Não é brincadeira não! Montanhas de cabeças decepadas, oriundas de julgamentos sumários e viciados; um banho de sangue; paranóia, medo, perseguição, filhos denunciando pais com objetivos sórdidos e pecuniários, vizinhos traindo vizinhos, irmãos, pais, padres, soldados, companheiros; perseguidos, presos e mortos; enfim, uma lástima. E, vale notar, isso tudo se dava ao mesmo tempo em que nasciam os primeiros raios da luz que, radiante, iluminaria as mentes humanas mais elevadas, no sentido da aplicação prática dos lemas altruístas já mencionados aqui que, posteriormente, viriam a servir de estrutura sólida e base, para espelhar a constituição moral do Velho Mundo e das demais nações do mundo ocidental, na hora de forjar suas Cartas Magnas, Constituições e seus tratados democráticos de civismo. Lições importantes, apreendidas através dos tempos a ferro e a fogo! Verdades que nos ensinam muito até hoje, mesmo que salvaguardadas nos tempos idos de outrora, lacradas com o selo do passado.
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Para vivermos em grupo, tivemos que criar uma série de dispositivos complexos e complicados de poder e de controle, sem os quais a vida social se torna impossível e inviável. Olhar para trás, através das lentes - mesmo que distorcidas - da história - pois sempre há a ótica parcial do punho que detém a pena que registra os fatos - e isto nos permite uma constatação plena da nossa incapacidade e insuficiência tácita em compreender a nós mesmos, especialmente, quando nos juntamos, nos revoltamos e resolvemos juntos e à força mudar o Mundo. Força estranha e poderosa que assusta e subjuga qualquer oposição, que soergue o panteão da sabedoria, mas que, de igual modo, assinala no anais da história nossa fragilidade indelével diante das seduções do poder, jogando na lama imunda da infâmia e da indignidade toda uma espécie. Ser humano, sem dúvida, é ação e reação; revolução e ilusão; contradição; ser humano é conflito.
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Nas citações escolhidas a dedo dentro da interessantíssima obra que é Os Deuses Tem Sede de Anatole France vemos patente a marca certeira do gênio que sabe, com poucas palavras, passar toda uma miríade de nuances e sensações que, o tolo escrevinhador comum, gastaria páginas e páginas para descrever, sem sucesso e sem a menor graça. Os Deuses Tem Sede é um livro muito bem escrito que serve - entre muitas outras coisas - para nos reconhecermos a nós mesmos como falíveis e humanos, principalmente, quando expostos às feridas pútridas da política e do poder, pústulas repugnantes e contagiosas estas que, pululam na sociedade contemporânea, mas que, todavia, vez por outra, desempenham papéis fundamentais nas conquista de avanços inestimáveis para a humanidade, mesmo que a um altíssimo preço.
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Um abraço livre, igual e fraterno para os meus poucos e fiéis Leitores.
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Da Redação.
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CITAÇÕES
Sobre a autêntica filantropia num diálogo entre o personagem humanista e ex-financeiro Brotteaux, e um padre que este acolheu na rua condenado á prisão e provavelmente à morte, sob pena de ser ele mesmo Brotteaux, incriminado:
"Deu o colchão ao seu hóspede e guardou a palha para si, mas o religioso reclamou-a por humildade, com tal convicção que teve de o satisfazer. Depois de terminar as arrumações, Brotteaux soprou na vela, por economia e por prudência.
- Senhor - Disse-lhe o religioso - reconheço o que faz por mim; mas, tem pouco interesse para o senhor que eu o considere bom. Possa Deus recompensá-lo! Isso sim, teria interesse para o senhor. Mas Deus só leva em conta o que é feito para Sua glória e o que provém de uma virtude puramente natural. É por isso que lhe suplico, senhor, que faça por Ele o que foi levado a fazer por mim.
- Meu pai - respondeu Brotteaux - não tenha a menor preocupação e não pense dever-me algum reconhecimento. O que faço neste momento, e de que exagera o mérito, não o faço por amor ao senhor: porque, afinal, embora o senhor seja amável, conheço-o há pouco tempo para o amar. Também não o faço por amor à humanidade: pois não sou como Don Juan paracrer, como ele, que a humanidade tem direitos; e estepreconceito num espírito tão livre como o seu, aflige-me. Faço-o por aquele egoísmo que inspira ao homem todos os atos de generosidade e dedicação, fazendo-o reconhecer-se em todos so miseráveis, dispondo-o a lamentar o bseu próprio infortúnio no infortúnio alheio e levando-o a auxiliar um mortal semelhante a ele pela natureza e pelo destino, até acreditar que socorre a si mesmo socorrendo-o. Faço-o também por passatempo: porque a vida é agora tão insípida que é preciso arranjar distração a todo custo, e a benfeitoria é um divertimento bastante enfadonho a que nos damos na falta de outreos mais saborosos; faço-o, enfim, por espírito de sistema e para lhe mostrar do que é capaz um ateu." (pág159)
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Mais adiante, no mesmo debate filosófico entre os dois - o padre e Brotteaux - numa citação de Epicuro feita pelo segundo sobre o poder de Deus:
"Epicuro disse: Ou Deus quer impedir o mal e não pode, ou pode e não quer. Se quer e não pode, é impotente; se pode e não quer, é perverso; se não pode nem quer, é impotente e perverso; se pode e quer, por que não o faz, meu pai?" (pág181)
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Sobre uma passagem dramática quando Evaristo Gamelin, jurado do tribunal revolucionário, um dos personagens principais da história com amplos poderes, e sua amante, Elodie, numa cena, literalmente, de amor e ódio, se digladiam e se amam:
"-Estás vingada - disse. - Jacques Maubel já não existe. A carruagem que o conduzia à morte passou de baixo da tua janela, rodeadea de archotes.
Ela compreendeu:
- Miserável! Foste tu que o mataste, e não era o meu amante. Não o conhecia... nunca o vi... Que homem era esse? Era um jovem, amável... inocente. Mataste-o, miserável! Miserável!
Caiu desvanecida. Mas, nas sombras desta morte, sentia-se ao mesmo tempo inundada de horror e de voluptuosidade. Reanimou-se; as suas pesadas pálpebras descobriam o branco dos olhos, a garganta arquejava, as mãos procuravam o seu amante. Apertou-o nos braços, enterrou-lhe as unhas na carne e deu-lhe, com os seus lábios atormentados, o mais mudo, o mais surdo, o mais longo, o maisn doloroso e o mais delicioso dos beijos.
Ela amava-o de todo o coração e, quanto mais ele lhe aparecia terrível, cruel, atroz, quanto o mais o via coberto do sangue das suas vítimas, mais tinha fome e sede dele." (pág206)
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LIVRO: Os Deuses Têm Sede // AUTOR: Anatole France // EDITORA: Otto Pierre Editores // Lisboa // Sem data
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sexta-feira, 9 de outubro de 2009

OS DEUSES TÊM SEDE DE ANATOLE FRANCE: A REVOLTA E O AUTO-JULGAMENTO DE UM POVO E DE UM TEMPO

QUEM?
Jacques Anatole François Thibault, mais conhecido como Anatole France (1844/1924) Talentoso escritor francês. Autor de Os Deuses Têm Sede. Outras obras são: Thais, 0 Lírio Vermelho, O poço de Santa Clara, A rebelião dos anjos entre outras.
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COMENTÁRIO
A França, desde sempre, tem sido o berço e a Pátria das luzes e das grandes reflexões e conquistas sociais que hora gozamos, e os franceses sempre foram ferrenhos empreendedores dos direitos universais do ser humano, mesmo que por caminhos tortuosos e sangrentos. Neste intrincado contexto histórico de conflito, eis que surge a Convenção e, com ela, a famigerada guilhotina, símbolo de uma época importante, sem dúvida, mas eregida por sobre os escombros da antiga, herdando seus vícios e defeitos; afinal, precisavam construir um 'novo mundo' onde pudessem ser mais livres, menos desiguais e mais fraternos. Anatole France em Os Deuses Tem Sede fala sobre isso, e ambienta sua estória justamente aí, no âmago da revolta, no coração da revolução, no centro de um 'mundo novo' que estava por se criar. Tarefa árdua! Mundo este que, em sua fúria demandou milhares de almas obstinadas que lutaram por mais dignidade nas fronteiras sociais, históricas, morais, culturais e religiosas, transformando este mundo num lugar mais justo, ou seja, a realidade que nos cerca agora, hoje, mais digna e democrática, até porque, como dizia Winston Churchill, ex-presidente norte-americano, "...a democracia é o pior regime político que existe, depois de todos os outros! ".
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O título da própria obra é tão interessante e sugestivo que nem é preciso dizer de que os deuses tinham sede. Nesta época ímpar de outrora, onde nasciam valores que perdurariam até hoje no mundo ocidental, vemos este inteligente autor francês retratar através de sua pena leve e sua prosa elegante - num sentido até de modo clássico de escrever romances, que não podia deixar de contar com amores brutos e arrebatadores, artistas e intelectuais revoltos e entrechocantes, cenário histórico de importância nótavel, enfim - um mundo admirável e fabuloso, agônico e pungente; perfeito para uma grande história. Trata-se de uma obra magnífica, sem dúvida, para quem admira e curte a velha linguagem mais floreada e gentil, mais rebuscada e mais sóbria aos mesmo tempo; por fim, um livro feito à moda antiga. Para quem gosta, como este humilde Escriba que aqui escreve - digo - digita e clica, é uma verdadeira maravilha.
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Na citação escolhida, vemos o autor esbanjar de seu tom crítico e filosófico ao dar voz a um de seus personagens, o velho Brotteaux, homem ateu que, segundo o que o próprio autor deixa claro em seu texto, - "usava este seu ateísmo como uma abundante fonte de delícias" - no caso aqui, nesta citação, usa como argumento dentro de uma discussão ideológica complicada que trava lá pelas tantas do livro em plena rua da Paris pós - digo - plena-revolução. Isso na fila do pão, pois além da revolta das massas, a França era também, violentamente, assoitada pela fome e pela escassez total de víveres. Muitos, de fato, passaram fome. Uma grande estória Anatole France. Vale a pena!
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CITAÇÃO
"Vejo, cidadão Gamelin, que, revolucionário por tudo quanto há na Terra, é, quanto ao Céu, conservador e mesmo reacionário. Robespierre e Marat são-no tanto como o senhor. E acho singular que os franceses, que já sofrem de rei mortal, se obstinem em guardar um imortal muito mais tirânico e feroz. Pois o que é a Bastilha, e mesmo a câmara-ardente, junto do Inferno? A humanidade copia os seus deuses dos seus tiranos, e o senhor, que rejeita o original, guarda a cópia!" (pág75)
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LIVRO: Os Deuses Têm Sede // AUTOR: Anatole France // EDITORA: Otto Pierre Editores // Lisboa // Sem data
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quinta-feira, 8 de outubro de 2009

O ESTILO ELEGANTE E DESENVOLTO DO FRANCÊS XAVIER DE MAISTRE

QUEM?
Xavier de Maistre (1763/1792). Escritor francês, mais conhecido pelo seu famoso livro Viagem à roda do meu quarto, e sua continuação Expedição noturna à roda do meu quarto.
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COMENTÁRIO
Rápido como quem rouba, sem mais tró-ló-ló, vão aqui três citações magníficas deste grande escritor francês que é Xavier de Maistre, onde poderemos perceber claramente a marca indelével da pena elegante e desenvolta do artista, em fragmentos literários primorosos de seu clássico: Viagem à roda do meu quarto.
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CITAÇÕES
Sobre a amizade:
"Quem pode, de resto, gabar-se de viver sempre com as pessoas que estima? Semelhantes aos enxames de mosquitos que se vêem redemoinhar nos ares durante as noites de verão, os homens se encontram por acaso e por bem pouco tempo. E muito felizes são se, no seu movimento rápido, tão destros como os mosquitos, não quebram as cabeças de encontro uns aos outros!" (pág86)
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Sobre a fragilidade humana e a infinita vastidão cósmica:
"Espectador efêmero de um espetáculo eterno, o homem levanta um instante os olhos para o céu e fecha-os para sempre; mas, durante esse instante rápido que lhe é concedido, de todos os pontos do céu e desde os confins do universo, um raio consolador parte de cada mundo, e vem ferir-lhe os olhares para lhe anunciar que existe uma relação entre a imensidão e ele, e que ele está associado à eternidade." (pág102)
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Sobre um grande amor perdido:
"Ah! Aquele zéfiro, aquele olhar, aquele sorriso, está tão longe de mim como as aventuras de Ariadne; no fundo do meu coração não existe já senão saudades e vãs lembranças; triste mistura sobre a qual a minha vida sobrenada ainda, como um navio despedaçado pelo temporal flutua algum tempo sobre o mar agitado!..." (pág121)
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LIVRO: Viagem à roda do meu quarto // AUTOR: Xavier de Maistre // EDITORA: Estação Liberdade // São Paulo // 19898 // ILUSTRAÇÃO (rodapé): Gustave Doré

A PROSA CULTA, ELEGANTE, ESPIRITUOSA E BEM TEMPERADA DE BRILLAT SAVARIN


QUEM?
Jean Anthelme Brillat-Savarin (1755-1826). Advogado, político e escritor francês que ganhou fama como grastrônomo e epicurista. Autor do esplêndido e inesquecível livro A Fisiologia do Gosto.
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COMENTÁRIO
O chef sabe! Cozinhar é como fazer amor: o que pensamos na hora influencia diretamente na receita e no resultado que se quer alcançar com o processo em si. Sim! Porque para tanto, para cozinhar bem, há que se ter espírito, alma - não dá para ir fazendo a 'coisa' de qualquer jeito - a despeito, é claro, de sermos nós a sorver o 'caldo' que, de má vontade, prepararmos para nós mesmos. Sem falar do arrependimento que dá quando literalmente 'erramos a mão' e acabamos comendo uma porcaria qualquer. Para gozar satisfatoriamente dos prazeres da mesa e até da cama, exige-se calma, paciência, amor e dedicação do sujeito que se lança intrépido a tais desfrutes. Requer-se ainda entrega plena e integridade plena - digo - faz-se nescessário estar-se inteiro no lance, de corpo e alma; pois aí, meu caro e prezado Leitor(a), tudo rola legal, tranquilo e em harmonia. Do jeito que é bom! Sabe como é, não?! Do jeito que 'deve' ser.
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Neste sentido, de cozinha bem trabalhada e iguarias bem preparadas e degustadas, Brillat Savarin era um gênio, um mestre - dir-se-ia - inigualável, especialmente, se considerarmos a época em que viveu: 1755/1826, há quase três Séculos, na província francesa. Sua obra prima A Fisiologia do Gosto é um livro, simplesmente, impagável. Escrito belamente sob a forma de ensaios, com a prosa fina, elegante e bem temperada que este nobre autor francês soube imprimir em seu estilo, deparamo-nos com um volume - como direi - indispensável aos bons amantes da cozinha, da filosofia e da gastronomia requintada Mundo afora. Atualmente, tal título encontra-se esgotado, por um motivo que, confesso, desconheço - pois é notório o grande número de escrivinhamentos menores que são indiscriminadamente impressos, vendidos e lidos nos dias atuais - em contraposição à esmagadora qualidade filosófica, literária e gastronômica de Mestre Savarin. De todo o modo, vale tentar encontrá-lo nos sebos ou na Estante Virtual. E atenção! Se por acaso você achar um exemplar de A Fisiologia do Gosto, compre-o imediatamente, pois alguém sem cultura ou destraído se desfez desta jóia sem preço, sem saber direito o que estava fazendo. Leitura bem humorada e ilustrativa, que irá ajudar a compreender um pouco mais sobre o inspiradíssimo mundo da gastronomia.
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A citação escolhida vem da Meditação XX, com o título Da influência da dieta sobre o repouso, o sono e os sonhos, número 94, parágrafo primeiro.
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Da Redação.
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CITAÇÃO
"O homem mal alimetado não suporta por muito tempo a fadiga de um trabalho prolongado. Seu corpo fica coberto de suor, em breve as forças o abandonam e, para ele, o repouso não é outra coisa que a impossibilidade de trabalhar. Se se trata de um trabalho do espírito, as ideias nascem sem vigor e precisão; a reflexão se recusa a agir e o cérebro se cansa nesses vãos esforços, e dorme-se no campo de batalha." (pág203)
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LIVRO: "A FISIOLOGIA DO GOSTO" // AUTOR: BRILLAT SAVARIN // EDITORA: SALAMANDRA RIO DE JANEIRO, 1989 // PRIMEIRA EDIÇÃO: 1848
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quarta-feira, 7 de outubro de 2009

CRENTES E NÃO CRENTES POR UMBERTO ECO

QUEM?
Umberto Eco é escritor e professor titular da cadeira de Semiótica e diretor da Escola Superior de Ciências Humanas na Universidade de Bolonha. Autor do clássico O Nome da Rosa.

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COMENTÁRIO
Crer ou não crer? Eis uma, em meio a muitas questões importantes e notáveis quando resolvemos prestar atenção à vida. Filosofar é um perigo! Não dá para desligar o olhar filosófico na hora de dormir, por exemplo, ou na hora de remunerar seu servo pessoal, pois a própria doutrina exige um grau de entrega e consciência tal que, na prática, impediria uma ação exploradora, e você acabaria convidando seu serviçal para morar em seus domínios e comungar de suas provisões, seus víveres - o que não seria, diga-se, nada mal. Ver, perguntar porque, pode ser complicado. Prescrutar a própria existência e o Mundo ao redor é para quem quer se meter em encrenca, em confusão - digo - quer ser rebelde, confrontar as hipocrisias postas e perpetuadas; ou seja, não é brincadeira. Tentar entender Deus então, nem se fala! Dá trabalho, é empreita longa e complexa - diria - para toda uma vida e, quase sempre, não é possível enxergar verdadeiros avanços numa só existência, pois as conquistas neste profundo terreno, neste campo metafísico, são lentas e graduais, e assim talvez filosofar seja algo unicamente para os convictos verdadeiros. Sim! Para aqueles e aquelas que desejam - a despeito do êxito ou do fracasso - fazer alguma coisa prática e objetiva para influenciar positivamente o Mundo, e esta balbúrdia que é estar vivo nos precipícios vertiginosos deste terceiro e veloz Milênio. Falei?!?!
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Da Redação.
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CITAÇÃO
"Não gostaria que se instaurasse uma oposição seca entre quem acredita em Deus transcendente e quem não crê em nenhum princípio supra-individual. Gostaria de recordar que era dedicado justamente à Ética, o grande livro de Spinoza que começa com uma definição de Deus como causa de si mesmo. Salvo que essa divindade spinozana, bem o sabemos, não é nem transcedente, nem pessoal: mesmo assim, também da visão de uma grande e única substância cósmica, na qual um dia seremos todos reabsorvidos, pode emergir uma visão da tolerância e da benevolência, exatamente porque é no equilíbrio e na harmonia da substância única que estamos todos interessados." (pág88)
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LIVRO: Em que crêem os que não crêem? // AUTORES: Umberto Eco e Carlo Maria Martini // EDITORA: Record // Rio de Janeiro // 2001

NAUFRÁGIOS DE AKIRA YOSHIMURA: UMA VIDA DE MISÉRIAS NO JAPÃO MEDIEVAL

QUEM?
Akira Yoshimura (1927/2006). Notável escritor japonês. Foi presidente da União Japonesa de Escritores. Autor do interessantíssimo livro Naufrágios.
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COMENTÁRIO
É admirável observarmos a coragem humana em lançar-se destemidamente ao mar à revelia das possibilidades. Nós, tão frágeis, e eles, os Oceanos, tão vastos e profundos, repletos de mistérios. Mesmo quando o fazemos em embarcações náuticas robustas, somos nada diante do mar infinito, e seu humores instáveis. Quando as forças da Natureza resolvem se revoltar e consternar, não há nada que se possa fazer de fato a bordo destas verdadeiras casquinhas de noz, exceto buscar abrigo e refúgio próximo à costa, se for possível, é claro, e, se não, resta apenas e tão somente tentar manter-se firme, e rezar para que a embarcação e as vidas nela contidas sejam poupadas por esta força avassaladora que é o mar revolto em forma de tormenta.
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Neste sentido, de aventura e coragem, de confrontação de forças diversas e desproporcionais a nós, os naufrágios são, sem sombra de dúvida, acontecimentos dramáticos em si, capazes de cativar nossa atenção e imaginação, justamente por suas características de drama e colapso, de tragédia e até mesmo de história, atraindo escritores e historiadores a pesquisá-los, o que traz à tona uma série de histórias fascinantes e fantásticas. Histórias que, muitas vezes, podem trazer piratas e conflitos bélicos, perda de vidas e bens, além da própria fatalidade em si que é o naufrágio de uma embarcação, que traz a inequívoca sensação de impotência, fracasso, perda e morte diante do imponderável.
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Se não bastasse tudo isso, Akira Yoshimura, neste cativante romance que é Naufrágios, adiciona à trama uma condição de miséria quase que absoluta, ambientando sua narrativa nos recôntidos de uma pequena aldeia isolada do Mundo, situada em um cabo (acidente geográfico) do Japão Medieval, e nos oferece ainda, como protagonista, um simpático menino de nove anos de idade: Isaku. Por lá, o evento de um naufrágio pode ter significados surpreendentes dos quais, neste momento, privarei o Leitor que pretende ler a obra - como direi - por motivos de não estragar a surpresa. Naufrágios de Akira Yoshimura: dica Escriba oriunda da fina literatura japonesa. Livro para ler em terra firme, é claro, e deixar a cabeça viajar em alto mar em tempos idos do passado. Sensacional!
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A seguir, citações da obra que, certamente, permitirão transparecer o delicado e profundo estilo deste notável autor japonês que faleceu em 2006.
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Da Redação.
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CITAÇÕES
Sobre a morte:
"Em uma aldeia que lutava contra a fome, um inválido era considerado morto. As pessoas lamentariam durante algum tempo, mas como acreditavam em reencarnação, aceitariam rapidamente a perda. A vida era dada às pessoas pelos deuses e, com a morte, o espírito partia para um lugar distante nos mares mas depois de algum tempo retornava à aldeia, para abrigar-se no útero de uma mulher e reencarnar numa criança. A morte era apenas um período de sono profundo antes do retorno do espírito; lamentações excessivas perturbavam o repouso da pessoa morta. As lápides dos túmulos ficavam de frente para o mar para guiar os espíritos na direção certa, quando chegasse o momento de regressar." (pág8)
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Sobre a chegada de um O-fune-sama (naufrágio):
"Isaku colocou a mão no peito. A chegada de O-fune-sama devia-se à intervenção divina, e Isaku queria oferecer uma oração de gratidão, do fundo do coração. O som das ondas quebrando ao pé do promotório parecia reverberar até o centro da terra. Antes que se desse conta, ele já estava dormindo." (pág92)
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LIVRO: Naufrágios // AUTOR: Akira Yoshimura // EDITORA: Best Seller // São Paulo // 2003

terça-feira, 6 de outubro de 2009

O GRANDE IRMÃO DE GEORGE ORWELL EM SUA ONIPRESENÇA ATERRORIZANTE E ESMAGADORA

QUEM?
Eric Arthur Blair (1903/1950). Talentoso jornalista, ensaísta e romancista britânico, que escreveu sob o pseudônimo George Orwell. Autor do clássico espetacular 1984.
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COMENTÁRIO
Tomo novamente da pena - digo - do teclado, do mouse, do monitor e da cpu (a máquina fala-escreve do livro), com satisfação para comentar e citar este brilhante e visionário escritor britânico. Ao lê-lo, recentemente, tive a desagradável sensação que aquilo tudo ali contido - toda a paranóia, a tortura, o controle, a teletela, a polícia do pensamento - tinham mais a ver comigo do que eu sequer podia imaginar, pois ao adentrar uma obra escrita há mais meio Século atrás, imaginei - por pura ingenuidade minha, confesso - encontrar um enredo menos complexo, além de uma estória menos tocante e contundente. Nada disso. O mais desconcertante e assustador de tudo - quero dizer - o mais impressionante e estranho para mim em 1984 foi perceber que, lendo a referida obra, tive a nítida percepção de que o talentoso autor em questão descrevia exatamente o mundo veloz, raso e desumano onde somos manipulados e controlados até em nossos próprios pensamentos, ou seja, o Mundo que nos cerca. Mestre Orwell quiz dizer em suas obras - e, eu repito aqui neste artigo, sem papas na língua: "- Humanidade, olho vivo com os direitos humanos, do trabalhador e do consumidor, e com a manipulação da vida." Atentemos! Pois o tempo urge! Populações globais: olhai com atenção as nanotecnologias, as bionanotecnologias, a clonagem, a liberdade civil, a democracia e o meio ambiente. Sob pena de sucumbirmos diante de nosso próprio e desmedido poder. Não é justo nem com as atuais nem com as futuras gerações.
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Como um desagradável mau presságio, 1984 de Orwell, com seu famigerado Grande Irmão, é um livro para nos ajudar a acordar. Sim! Para auxiliar-nos na árdua tarefa que é despertar e sair do torpor lânguido da subserviência viciada e degradante que é servi-lo - ao Grande Irmão - sem nem mesmo se dar conta disto, enquanto que a vida vai fugindo dia após dia, incessantemente. Trata-se de uma ficção grotesca e criativa que começa a tomar seus contornos mais que reais neste conturbado início de terceiro Milênio em que vivemos. Era veloz que, sem a devida articulação e participação social, promete degringolar-se por si própria, engolindo-nos em seu engolfo espasmódico, inconsciente, acéfalo e arrebatador.
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Haja vista que o livro resenhado aqui se encontra mais atual do que nunca, tendo ainda a capacidade de antever alguns 'lançes do jogo' capitalista e tecnocientífico, e seus inevitáveis desdobramentos socioambientais e culturais; e, justamente por isso, é indicação especial deste Escriba para uma leitura de qualidade garantida. Abaixo, algumas passagens geniais do mestre britânico da pena e da ficcção cacotópica.
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CITAÇÕES
Sobre o Grande Irmão:
"O que o Partido fizera de terrível era persuadir os seus membros de que meros impulsos, meras sensações, não tinham importância, ao mesmo tempo que lhes roubava todo o poder sobre o mundo material. Uma vez no jugo do Partido, o que a pessoa sentisse ou não, o que fizesse ou deixasse de fazer, literalmente não fazia diferença. Acontecesse o que acontecesse, o indivíduo sumia, nem ele nem seus atos eram jamais mencionados. Era banido do rio da história." (pág155)
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Sobre a guerra:
"O essencial da guerra é a destruição, não necessariamente de vidas humanas, mas dos produtos do trabalho humano. A guerra é um meio de despedaçar, ou de libertar na estratosfera, ou de afundar nas profundezas do mar, materiais que doutra forma teriam de ser usados para tornar as massas demasiado confortáveis e portanto, com o passar do tempo inteligentes." (pág179)
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Sobre as massas:
"As massas nunca se revoltarão espontaneamente, e nunca se revoltarão apenas por ser oprimidas. Com efeito, se não se lhes permite ter padrões de comparação nem ao menos se darão conta de que são oprimidas." (pág194)
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LIVRO: 1984 // AUTOR: George Orwell // EDITORA: Companhia Editora Nacional // 1949

A QUEDA DO ANJO ATRAVÉS DA PENA HÁBIL DE XAVIER DE MAISTRE

QUEM?
Xavier de Maistre (1763/1792). Escritor francês, mais conhecido pelo seu famoso livro Viagem à roda do meu quarto, e sua continuação Expedição noturna à roda do meu quarto.
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COMENTÁRIO
Maistre escrevia que é uma beleza! Deitava tinta ao papel com graça, desenvoltura, mas também fazia citações notáveis de peso, como é o caso da passagem escolhida, onde vemos o autor fazer menção à queda do anjo de Milton, e também à admirável coragem deste ente mitíco - braço direito de Deus, o próprio Criador do Universo - que viria a personificar o famigerado anjo demoníaco Satanás do mito cristão, tão temido e odiado pelos frágeis crédulos maniqueístas.
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Da Redação.
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CITAÇÃO
"Que vasto projeto! E que arrojo na sua execução!
Quando as espaçosas e triplas portas dos infernos se abriram de repente diante dele, e o profundo fosso do nada e da noite lhe apareceu aos pés em todo o seu horror, percorreu com olhar intrépido o sombrio império do caos; e, sem hesitar, abrindo as vastas asas, que teriam podido cobrir um exército inteiro, preciptou-se no abismo." (pág61)
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LIVRO: Viagem à roda do meu quarto // AUTOR: Xavier de Maistre // EDITORA: Estação Liberdade // São Paulo // 19898 // ILUSTRAÇÃO: Gustave Doré
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quinta-feira, 1 de outubro de 2009

1984 DE GEORGE ORWELL: UM CLÁSSICO DA CACOTOPIA FICCIONAL

QUEM?
Eric Arthur Blair (1903/1950). Talentoso jornalista, ensaísta e romancista britânico, que escreveu sob o pseudônimo George Orwell. Autor do clássico espetacular 1984.
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COMENTÁRIO
Quem leu sabe: 1984 é uma porrada! Pois fala com extrema precisão de um mundo - e, vejamos que o autor escreveu a referida obra em 1949, ou seja, longe de nossos dias, lá nos meados do século XX - onde, com uma lucidez impressionante, transporta-nos para a dramática e instigante trama de terror social, de desumanidades e de regime de controle absoluto e exacerbado até mesmo do pensamento dos indivíduos, dando origem - mesmo que a maioria das pessoas, que não leu o livro e usa a expressão, não saiba - ao termo Grande Irmão, muito em voga hoje em dia, neste Mundo atual e vulgar do terceiro Milênio, que é com efeito assolado pela nanotecnologia, pela bionanotecnologia e bioengenharia, pela clonagem, pela genômica e pelas demais formas que a humanidade - digo - o homem (homosuicidasapiens) descobriu e inventou para dominar e controlar, e, acima de tudo, tentar subjugar a Natureza que o gerou, além de corromper sua própria essência; se é que temos uma. Neste complexo contexto onde o Ser Humano brinca impunemente de Deus, as repercuções práticas de tal bobardeio tecnológico são desastrosas além de imprevisíveis, especialmente se for mais uma vez exercido - como sempre de fato é - tendo única e exclusivamente o lucro máximo a nortear as ações que dizem respeito e afetam à sociedade como um todo e de forma ampla, marcante e singular.
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Trata-se sem dúvida de uma obra fantástica, muito bem escrita, de extrema habilidade crítica, de uma veracidade contundente e desconcertante, que nos faz refletir, digamos assim, 'à força' sobre este mesmo Mundinho besta que vivemos hoje, isso tudo há mais de meio Século atrás na ocasião inspirada de sua redação, quando este visionário e brilhante escritor britânico previu - e que nós mesmos, através de nossas existências e de nossas escolhas sóciopolíticas e de consumo, ajudamos a construir e dar forma - toda esta loucura que está à nossa volta - digo - a cultura na qual estamos inseridos. No livro vemos pessoas manipuladas e indiscriminadamente controladas, sem tempo para si mesmas, servindo submissamente, vazias de consciência mas repletas de agonia voraz de uma imcompletude descomunal, a ponto de permitirem a terceirização de suas próprias vidas, de suas existências e, especialmente, manobradas segundo interesses escusos e egoístas que sempre privilegiam uma mesma minoria; enfim, isso nos lembra alguma coisa? É duro compreender que nós, a humanidade, coletivamente falando, possamos ser apenas uma gigantesca e formidável massa global de consumo inconsciente de si mesma, que se digladia e se mata trabalhando e doando a própria vida para mover a inominável e cruel máquina capitalista que está em toda parte; ou seja, o famigerado, o dito, o repetido e cultuado Grande Irmão. É exatamente disso que fala 1984 e não se engane: o autor, mesmo que privado de uma visão real do futuro que estaria por vir diante de si, soube trazer à tona notáveis fantasmas que, com toda certeza, de fato assombram os nossos dias atuais.
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1984: Dica da pesadíssima para quem não quer errar na escolha de um bom livro. Obra para ler e pirar - digo - refletir e agir. Assim, sem medo de me equivocar, indico honrosamente 1984, obra esta muito interessnate, e que me foi indicada por uma pessoa especial e querida, amada e admirada, a quem dedico estas humildes linhas virtuais jogadas ao léu na grande rede neste momento lúdico, perfilando-a junto a grandes obras do gênero cacotópico futurista de ficção, como o incrível Admirável Mundo Novo, de Huxley, e o THX 1138 (filme), de Copolla.
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Deste modo, segue aqui, apenas a título de petisco literário, um trecho bombástico escolhido especialmente a dedo por este velho Escriba pós-tudo da veloz Era digital.
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Da Redação.
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CITAÇÃO
"Era possível, sem dúvida, imaginar uma sociedade em que a riqueza, no sentido de posse pessoal e de bens e luxos, fosse igualmente distribuída, ficando o poder nas mãos de uma pequena casta privilegiada. Mas na prática tal sociedade não poderia ser estável. Pois se o lazer e a segurança fossem por todos fruídos, a grande massa de seres humanos normalmente estupidificada pela miséria aprenderia a ler e aprenderia a pensar por si; e uma vez que isso acotecesse, mais cedo ou mais tarde veria que não tinha função a minoria privilegiada, e acabaria com ela. De uma maneira permanente, uma sociedade hierárquica só é possível na base da pobreza e da ignorância" (pág178)
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LIVRO: 1984 // AUTOR: George Orwell // EDITORA: Companhia Editora Nacional // 1949