quarta-feira, 7 de outubro de 2009

CRENTES E NÃO CRENTES POR UMBERTO ECO

QUEM?
Umberto Eco é escritor e professor titular da cadeira de Semiótica e diretor da Escola Superior de Ciências Humanas na Universidade de Bolonha. Autor do clássico O Nome da Rosa.

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COMENTÁRIO
Crer ou não crer? Eis uma, em meio a muitas questões importantes e notáveis quando resolvemos prestar atenção à vida. Filosofar é um perigo! Não dá para desligar o olhar filosófico na hora de dormir, por exemplo, ou na hora de remunerar seu servo pessoal, pois a própria doutrina exige um grau de entrega e consciência tal que, na prática, impediria uma ação exploradora, e você acabaria convidando seu serviçal para morar em seus domínios e comungar de suas provisões, seus víveres - o que não seria, diga-se, nada mal. Ver, perguntar porque, pode ser complicado. Prescrutar a própria existência e o Mundo ao redor é para quem quer se meter em encrenca, em confusão - digo - quer ser rebelde, confrontar as hipocrisias postas e perpetuadas; ou seja, não é brincadeira. Tentar entender Deus então, nem se fala! Dá trabalho, é empreita longa e complexa - diria - para toda uma vida e, quase sempre, não é possível enxergar verdadeiros avanços numa só existência, pois as conquistas neste profundo terreno, neste campo metafísico, são lentas e graduais, e assim talvez filosofar seja algo unicamente para os convictos verdadeiros. Sim! Para aqueles e aquelas que desejam - a despeito do êxito ou do fracasso - fazer alguma coisa prática e objetiva para influenciar positivamente o Mundo, e esta balbúrdia que é estar vivo nos precipícios vertiginosos deste terceiro e veloz Milênio. Falei?!?!
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Da Redação.
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CITAÇÃO
"Não gostaria que se instaurasse uma oposição seca entre quem acredita em Deus transcendente e quem não crê em nenhum princípio supra-individual. Gostaria de recordar que era dedicado justamente à Ética, o grande livro de Spinoza que começa com uma definição de Deus como causa de si mesmo. Salvo que essa divindade spinozana, bem o sabemos, não é nem transcedente, nem pessoal: mesmo assim, também da visão de uma grande e única substância cósmica, na qual um dia seremos todos reabsorvidos, pode emergir uma visão da tolerância e da benevolência, exatamente porque é no equilíbrio e na harmonia da substância única que estamos todos interessados." (pág88)
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LIVRO: Em que crêem os que não crêem? // AUTORES: Umberto Eco e Carlo Maria Martini // EDITORA: Record // Rio de Janeiro // 2001

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