QUEM?
Akira Yoshimura (1927/2006). Notável escritor japonês. Foi presidente da União Japonesa de Escritores. Autor do interessantíssimo livro Naufrágios.
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COMENTÁRIO
É admirável observarmos a coragem humana em lançar-se destemidamente ao mar à revelia das possibilidades. Nós, tão frágeis, e eles, os Oceanos, tão vastos e profundos, repletos de mistérios. Mesmo quando o fazemos em embarcações náuticas robustas, somos nada diante do mar infinito, e seu humores instáveis. Quando as forças da Natureza resolvem se revoltar e consternar, não há nada que se possa fazer de fato a bordo destas verdadeiras casquinhas de noz, exceto buscar abrigo e refúgio próximo à costa, se for possível, é claro, e, se não, resta apenas e tão somente tentar manter-se firme, e rezar para que a embarcação e as vidas nela contidas sejam poupadas por esta força avassaladora que é o mar revolto em forma de tormenta.
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Neste sentido, de aventura e coragem, de confrontação de forças diversas e desproporcionais a nós, os naufrágios são, sem sombra de dúvida, acontecimentos dramáticos em si, capazes de cativar nossa atenção e imaginação, justamente por suas características de drama e colapso, de tragédia e até mesmo de história, atraindo escritores e historiadores a pesquisá-los, o que traz à tona uma série de histórias fascinantes e fantásticas. Histórias que, muitas vezes, podem trazer piratas e conflitos bélicos, perda de vidas e bens, além da própria fatalidade em si que é o naufrágio de uma embarcação, que traz a inequívoca sensação de impotência, fracasso, perda e morte diante do imponderável.
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Se não bastasse tudo isso, Akira Yoshimura, neste cativante romance que é Naufrágios, adiciona à trama uma condição de miséria quase que absoluta, ambientando sua narrativa nos recôntidos de uma pequena aldeia isolada do Mundo, situada em um cabo (acidente geográfico) do Japão Medieval, e nos oferece ainda, como protagonista, um simpático menino de nove anos de idade: Isaku. Por lá, o evento de um naufrágio pode ter significados surpreendentes dos quais, neste momento, privarei o Leitor que pretende ler a obra - como direi - por motivos de não estragar a surpresa. Naufrágios de Akira Yoshimura: dica Escriba oriunda da fina literatura japonesa. Livro para ler em terra firme, é claro, e deixar a cabeça viajar em alto mar em tempos idos do passado. Sensacional!
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A seguir, citações da obra que, certamente, permitirão transparecer o delicado e profundo estilo deste notável autor japonês que faleceu em 2006.
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Da Redação.
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CITAÇÕES
Sobre a morte:
"Em uma aldeia que lutava contra a fome, um inválido era considerado morto. As pessoas lamentariam durante algum tempo, mas como acreditavam em reencarnação, aceitariam rapidamente a perda. A vida era dada às pessoas pelos deuses e, com a morte, o espírito partia para um lugar distante nos mares mas depois de algum tempo retornava à aldeia, para abrigar-se no útero de uma mulher e reencarnar numa criança. A morte era apenas um período de sono profundo antes do retorno do espírito; lamentações excessivas perturbavam o repouso da pessoa morta. As lápides dos túmulos ficavam de frente para o mar para guiar os espíritos na direção certa, quando chegasse o momento de regressar." (pág8)
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Sobre a chegada de um O-fune-sama (naufrágio):
"Isaku colocou a mão no peito. A chegada de O-fune-sama devia-se à intervenção divina, e Isaku queria oferecer uma oração de gratidão, do fundo do coração. O som das ondas quebrando ao pé do promotório parecia reverberar até o centro da terra. Antes que se desse conta, ele já estava dormindo." (pág92)
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LIVRO: Naufrágios // AUTOR: Akira Yoshimura // EDITORA: Best Seller // São Paulo // 2003
2 comentários:
Esse livro parece mesmo muito interessante.
Li todo há pouco. O final é de fazer soltar um gemido tal bem como o descrito. Forte, sem dúvida.
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