sexta-feira, 9 de outubro de 2009

OS DEUSES TÊM SEDE DE ANATOLE FRANCE: A REVOLTA E O AUTO-JULGAMENTO DE UM POVO E DE UM TEMPO

QUEM?
Jacques Anatole François Thibault, mais conhecido como Anatole France (1844/1924) Talentoso escritor francês. Autor de Os Deuses Têm Sede. Outras obras são: Thais, 0 Lírio Vermelho, O poço de Santa Clara, A rebelião dos anjos entre outras.
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COMENTÁRIO
A França, desde sempre, tem sido o berço e a Pátria das luzes e das grandes reflexões e conquistas sociais que hora gozamos, e os franceses sempre foram ferrenhos empreendedores dos direitos universais do ser humano, mesmo que por caminhos tortuosos e sangrentos. Neste intrincado contexto histórico de conflito, eis que surge a Convenção e, com ela, a famigerada guilhotina, símbolo de uma época importante, sem dúvida, mas eregida por sobre os escombros da antiga, herdando seus vícios e defeitos; afinal, precisavam construir um 'novo mundo' onde pudessem ser mais livres, menos desiguais e mais fraternos. Anatole France em Os Deuses Tem Sede fala sobre isso, e ambienta sua estória justamente aí, no âmago da revolta, no coração da revolução, no centro de um 'mundo novo' que estava por se criar. Tarefa árdua! Mundo este que, em sua fúria demandou milhares de almas obstinadas que lutaram por mais dignidade nas fronteiras sociais, históricas, morais, culturais e religiosas, transformando este mundo num lugar mais justo, ou seja, a realidade que nos cerca agora, hoje, mais digna e democrática, até porque, como dizia Winston Churchill, ex-presidente norte-americano, "...a democracia é o pior regime político que existe, depois de todos os outros! ".
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O título da própria obra é tão interessante e sugestivo que nem é preciso dizer de que os deuses tinham sede. Nesta época ímpar de outrora, onde nasciam valores que perdurariam até hoje no mundo ocidental, vemos este inteligente autor francês retratar através de sua pena leve e sua prosa elegante - num sentido até de modo clássico de escrever romances, que não podia deixar de contar com amores brutos e arrebatadores, artistas e intelectuais revoltos e entrechocantes, cenário histórico de importância nótavel, enfim - um mundo admirável e fabuloso, agônico e pungente; perfeito para uma grande história. Trata-se de uma obra magnífica, sem dúvida, para quem admira e curte a velha linguagem mais floreada e gentil, mais rebuscada e mais sóbria aos mesmo tempo; por fim, um livro feito à moda antiga. Para quem gosta, como este humilde Escriba que aqui escreve - digo - digita e clica, é uma verdadeira maravilha.
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Na citação escolhida, vemos o autor esbanjar de seu tom crítico e filosófico ao dar voz a um de seus personagens, o velho Brotteaux, homem ateu que, segundo o que o próprio autor deixa claro em seu texto, - "usava este seu ateísmo como uma abundante fonte de delícias" - no caso aqui, nesta citação, usa como argumento dentro de uma discussão ideológica complicada que trava lá pelas tantas do livro em plena rua da Paris pós - digo - plena-revolução. Isso na fila do pão, pois além da revolta das massas, a França era também, violentamente, assoitada pela fome e pela escassez total de víveres. Muitos, de fato, passaram fome. Uma grande estória Anatole France. Vale a pena!
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CITAÇÃO
"Vejo, cidadão Gamelin, que, revolucionário por tudo quanto há na Terra, é, quanto ao Céu, conservador e mesmo reacionário. Robespierre e Marat são-no tanto como o senhor. E acho singular que os franceses, que já sofrem de rei mortal, se obstinem em guardar um imortal muito mais tirânico e feroz. Pois o que é a Bastilha, e mesmo a câmara-ardente, junto do Inferno? A humanidade copia os seus deuses dos seus tiranos, e o senhor, que rejeita o original, guarda a cópia!" (pág75)
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LIVRO: Os Deuses Têm Sede // AUTOR: Anatole France // EDITORA: Otto Pierre Editores // Lisboa // Sem data
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