sexta-feira, 5 de novembro de 2010

GUERRA: O TRIBUNAL FINAL DOS ASSUNTOS HUMANOS POR GERHARD LENSKI

QUEM?
Gerhard Emmanuel Lenski (1924). Sociólogo norte-americano.
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COMENTÁRIO
Poder e Privilegio - Teoria de la estratificación social de Gerhard Lenski é um livro muito interessante. A obra trata da distribuição de bens e renda entre as camadas sociais e tem como pano de fundo a evolução humana, desde as sociedades de catadores e coletores nômades nos longíncuos tempos ancestrais até as atuais sociedades de produção e consumo, passando pelas sociedades horticultoras primárias, secundárias, agrícolas e industriais. Certo, um estudo profundo muito bem elaborado e didático da teoria da extratificação social que deixa claríssimo o modelo político-econômico que perpetuamos através dos tempos imemoriais de desigual distribuição de riquezas e poder dentro das sociedades humanas.
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CITAÇÃO
"...la supervivência es la meta principal de la mayoría de los hombres. Si es así, se deduce que la capacidad para quitar la vida es la forma más eficaz de poder. En otras palabras, mayor número de hombres respoderán con más prontitud a la amenaza del empleo de la fuerza que a cualquier otra. En realidad, consttuye el tribunal final de apelación en los asuntos humanos; el único recurso ante la fuerza en una situación determinada es el ejercicio de una fuerza superior" (pág.62)
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LIVRO: Poder e Privilégio // AUTOR: Gerhard Lenski // EDITORA: Paidos // Lisboa: 1966

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

EDITORA ESCRIBA LANÇA LIVRO DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA: NANOTECNOLOGIAS: ZÊNITE OU NADIR? POR ALEXANDRE QUARESMA

QUEM?
Alexandre Quaresma (1967). Escritor e editor deste blog.
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COMENTÁRIO
É com enorme prazer que apresentamos a última e mais recente publicação desta Editora Escriba. Trata-se do livro de Alexandre Quaresma intitulado Nanotecnologias: zênite ou nadir? Que já está disponível para aquisição na Livraria Cultura, mesmo antes do lançamento oficial que se dará no VII SEMINANOSOMA - Seminário Internacional de Nanotecnologia, Sociedade e Meio Ambiente (dias 10, 11 e 12.11.2010 no Hotel Softel, Copacabana, Rio de Janeiro, RJ). Este livro é o resultado de intensas pesquisas sobre o tema 'nanotecnologias' realizadas por ALEXANDRE nos últimos cinco anos junto à RENANOSOMA [1], e mais especialmente depois do VI SEMINANOSOMA (2009, Manaus, AM), donde foram extraídas as conclusões.
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[1] RENANOSOMA - Rede de Pesquisa em Nanotecnologias, Sociedade e Meio Ambiente, coordenada pelo Prof. Dr. Paulo Roberto Martins.
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LIVRO: Nanotecnologias: zênite ou nadir? // AUTOR: Alexandre Quaresma // CAPA: Juliano Thuran // EDITORA: Escriba // Rio de Janeiro: 2010

LINKS
* versão impressa na Livraria Cultura
* versão e-book no Clube de Autores
* entrevista no programa "Nanotecnologia do Avesso" na AllTV
* artigo "Livro discute impactos das nanotecnologias" no site Inovação Tecnológica

sábado, 18 de setembro de 2010

A ILUSÃO DE LIBERDADE DOS SUJEITOS ECONÔMICOS NA SOCIEDADE BURGUESA

QUEM?
Max Horkheimer (1895/1973). Filósofo e sociólogo alemão.
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COMENTÁRIO
Teorizar sobre a teoria é tarefa hercúlea. Própria às cabeças privilegiadas e aos espíritos não resignados quanto às incertezas do mundo factual a seu redor, e que se lançam à inprovável aventura de conhecer o mundo na tentativa de representá-lo metafisicamente através de aproximações o mais exatas possíveis. Trata-se de captar, catalogar e ordenar os fatos de modo que estes possam ser acessados por qualquer um que domine os signos empregados nas abstrações com o máximo de objetividade. Teoria Tradicional e Teoria Crítica é um texto de Horkheimer dedicado a isso: a elucidar a complexa dinâmica dessas representações.
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CITAÇÃO
"Nem a estrutura da produção industrial e agrária nem a separação entre funções diretoras e funções executivas, entre serviços e trabalhos, entre atividade intelectual e atividade manual, constituem relações eternas ou naturais, pelo contrário, estas relações emergem do modo de produção em formas determinadas de sociedade. A aparente autonomia nos processos de trabalho, cujo decorrer se pensa provir de uma essência interior a seu objeto, corresponde à ilusão de liberdade dos sujeitos econômicos na sociedade burguesa. Mesmo nos cálculos mais complicados, eles sãoexpoentes do mecanismo social invisível, embora creiam agir segundo suas decisões individuais." (pág.131)
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LIVRO: Textos Escolhidos // AUTORES: Max Horkheimer // Título: Teoria Tradicional e Teoria Crítica // EDITORA: Abril Cultural // COLEÇÃO: Os Pensadores // São Paulo: 1975 // 1a edição

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

PETER SLOTERDIJK: CARTAS A CAMINHO DE AMIGOS DESCONHECIDOS

QUEM?
Peter Sloterdijk (1947). Filósofo alemão.
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COMENTÁRIO
Regras para o parque humano é um livro contundente. Logo de cara, quando apresentado num evento na Baviera (1999), gerou uma polêmica fortíssima que se arrasta até os dias atuais, pois o assunto é muito novo e deveras instigante: a criação, manipulação e controle de seres humanos por seres humanos. Seara profunda e escorregadia que se faz importante devido ao exponencial avanço das bionanotecnociências. Certo, um dos pontos nevrálgicos da temática pós-humanismo, já tratada anteriormente aqui neste blog.
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Nessas brilhantes passagens de clareza flagrante vemos o autor descrever com grande maestria as nuances do trabalho literário dos escritores filósofos que, de um modo ou de outro, fazem suas apostas cegas num possível leitor não-identificado do amanhã, e no próprio futuro como possibilidade imanifesta que repousa serenamente no por-vir - digo - no vir-a-ser.
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CITAÇÕES
"Faz parte das regras do jogo da cultura escrita que os remetentes não possam antever seus reais destinatários; não obstante, os autores lançam-se à aventura de pôr suas cartas a caminho de amigos não-identificados." (pág.8)
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"... o remetente desse gênero de cartas de amizade envia seus escritos ao mundo sem conhecer os destinatários - ou, caso os conheça, está consciente de que o envio das cartas os ultrapassa e consegue criar uma multiplicidade indeterminada de oportunidade de estreitar amizades com leitores anônimos muitas vezes ainda nem nascidos." (pág.9)
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"A escrita não só estabelece uma ponte telecomunicativa entre amigos manifestos vivendo espacialmente distantes um do outro no momento do envio da correspondência, mas também põe em marcha uma operação rumo ao que não está manifesto: ela lança uma sedução ao longe, um actio in distans, no idioma da magia da antiga Europa, com o objetivo de revelar o amigo desconhecido enquanto tal e levá-lo a ingressar no círculo de amigos." (pág.10)
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LIVRO: Regras para o parque humano // AUTOR: Peter Sloterdijk // EDITORA: Estação Liberdade // São Paulo: 2000

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

HORKHEIMER E ADORNO: A DOMINAÇÃO SOCIAL PELA DIVISÃO DO TRABALHO

QUEM?
Max Horkheimer (1895/1973). Filósofo e sociólogo alemão.
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Theodor Ludwig Wiesengrund-Adorno (1903/1969). Filósofo, sociólogo, musicólogo e compositor alemão. É um dos expoentes da chamada Escola de Frankfurt.
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COMENTÁRIO
O Conceito de Iluminismo de Max Horkheimer e Theodor Adorno é um texto antológico. Nele, os autores mostram toda sua competência ao dissertar sobre as dinâmicas deste momento histórico tão importante da humanidade (Iluminismo), e como ele influenciou o mundo que nos cerca e a forma como o compreendemos.
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Nessa citação escolhida a dedo teremos uma descrição perfeita da estrutura de dominação social que se perpetua na civilização desde que o mundo é mundo, infiltrando-se também no pensamento.
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Da redação.
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CITAÇÃO
"A dominação confere maior força e consistência ao todo social no qual se estabelece. A divisão do trabalho, na qual a dominação se desenvolve socialmente, serve á autoconservação do todo dominado. Mas com isso, o todo como tal, a atividade da razão a ele imanente, torna-se execução do particular. A dominação faz frente ao indivíduo a título de geral, de razão na esfera da realidade. O poder de todos os membros da sociedade, que enquanto tais não dispõem de outra saída aberta, soma-se, sempre de novo, pormeio da divisão de trabalho que lheséimposta, para a realiozação justamente do todo, cuja racionalidade assim é por sua vez multiplicada. O que éfeito a todos por poucos, perfaz-se sempre pela subjugação de alguns por muitos: a opressão da sociedade exibe sempre, ao mesmo tempo, os traços da opressão exercida por um coletivo. É essa unidade de coletividade e dominação, e não a imediata generalidade social, a solidariedade, que se sedimenta nas formas dopensamento." (pág.110)
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LIVRO: Textos Escolhidos // AUTORES: Max Horkheimer e Theodor Adorno // Título: Conceito de Iluminismo // EDITORA: Abril Cultural // COLEÇÃO: Os Pensadores // São Paulo: 1975 // 1a edição

terça-feira, 14 de setembro de 2010

MAX HORKHEIMER E THEODOR ADORNO: O MITO EXPIANDO-SE A SI

QUEM?
Theodor Ludwig Wiesengrund-Adorno (1903/1969). Filósofo, sociólogo, musicólogo e compositor alemão. É um dos expoentes da chamada Escola de Frankfurt, juntamente com Max Horkheimer, Walter Benjamin, Herbert Marcuse, Jürgen Habermas e outros.
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Max Horkheimer (1895/1973). Filósofo e sociólogo alemão.
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AFORISMO
"Nos mitos, todo acontecer tem que expiar seu ter acontecido." (pág.103)
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COMENTÁRIO
Nós, da Editora Escriba, também nos ocuparemos em refletir longamente sobre isso.
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LIVRO: Textos Escolhidos // AUTORES: Max Horkheimer e Theodor Adorno // Título: Conceito de Iluminismo // EDITORA: Abril Cultural // COLEÇÃO: Os Pensadores // São Paulo: 1975 // 1a edição

PÓS-HUMANO: SERIA ESSE O NOSSO FUTURO?

CITAÇÕES
“A diferença entre o artificial e o natural desapareceu, o natural foi tragado pela esfera do artificial...” (HANS JONAS 2006:44)
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“Nenhum objeto, nenhum espaço, nenhum corpo é, em si, sagrado; qualquer componente pode entrar em uma relação de interface com qualquer outro desde que se possa construir o padrão e o código apropriados, que sejam capazes de processar sinais por meio de uma linguagem comum.” (DONNA HARAWAY 2009:62)

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“Uma das características mais notáveis desta nossa era (chamem-na pelo nome que quiserem: a mim, ‘pós-moderna’ não me desagrada) é precisamente a indecente interpenetração, o promíscuo acoplamento, a desavergonhada conjunção entre o humano e a máquina. Em um nível mais abstrato, em um nível ‘mais alto’, essa promiscuidade generalizada traduz-se em uma inextrincável confusão entre ciência e política, entre tecnologia e sociedade, entre natureza e cultura.” (TOMAZ TADEU 2009:11)

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“...há muitos entusiastas que estão convencidos de que com computadores mais poderosos e novas abordagens à computação, como as redes neurais, estamos no limiar de uma revolução em que computadores mecânicos alcançarão a consciência. Tem havido conferências e discussões sérias na tentativa de definir se seria moral desligar uma máquina como essa se e quando esse avanço ocorrer, e se precisaríamos atribuir direitos a máquinas conscientes.” (FRANCIS FUKUYAMA 2003:174)

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“Pode uma inteligência criar outra inteligência mais inteligente do que ela própria?” (RAY KURZWEIL 2007:67)

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“Este fenômeno que Turing
havia previsto: o de que a inteligência das máquinas se tornasse tão penetrante, tão confortável e tão bem integrada à nossa economia baseada em informação que as pessoas sequer conseguiriam se dar conta disso.” (RAY KURZWEIL 2007:108)
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“A maioria dos aplicativos de rede neural com base em computadores, hoje, simulam seus modelos de neurônios em software.” (RAY KURZWEIL 2007:118)

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“As ciências da comunicação e a biologia caracterizam-se como construções de objetos tecnonaturais de conhecimento, nas quais a diferença entre máquina e organismo torna-se totalmente borrada; a mente, o corpo e o instrumento mantêm, entre si, uma relação de grande intimidade.” (DONNA HARAWAY 2009:67)


segunda-feira, 13 de setembro de 2010

AFORISMO FREUDIANO

QUEM?
Conceito: Sigmund Freud (1856/1939). Médico neurologista austríaco
judeu pai da psicanálise.

Aforismo: Alexandre Quaresma (1967). Escritor e editor desse blog.
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COMENTÁRIO
Para Sigmund Freud nós - irremediavelmente - internalizamos sempre uma série de valores e conceituações da realidade à nossa volta através das experiências sensórias na construção de nossa personalidade e sua acomodação dentro da cultura, valores esses que vão se sobrepondo uns aos outros com o desenvolvimento do indivíduo rumo à maturidade física e psíquica. Segundo ele, tais fenômenos - que impulsionam a vida - operam em cada pessoa através da interação de figuras alegóricas criadas por ele para explicar seu funcionamento, que representariam as forças primordiais e primevas que se contrapõem e se complementam na dinâmica interior da manifestação da psiquê humana. Dentro do universo freudiano o Superego (parte da mente que se ocupa com as questões éticas e morais) cumpre o importante papel de não deixar o Ego (que age a partir do Id e controla sua manifestação) fugir de controle, bem como o de administrar as invenções e aprontações treslocadas do Id (fonte da energia psíquica humana, ou seja, a libido).
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Neste contexto, então, surge a analogia metafórica e aforística em tela.
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Da redação.
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AFORISMO
"A epistemologia bioética é o super-ego da tecnociência pós-moderna."
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sábado, 11 de setembro de 2010

FRIEDRICH NIETZSCHE: SOBRE AS CONVICÇÕES

QUEM?
Nietzsche perto da morte.
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COMENTÁRIO
Na imagem acima vemos o filósofo em seus últimos dias sobre a face da Terra sob a forma carnal. Pois seus escritos e pensamentos sobreviveriam a ele... Iriam adiante... Ele sabia.
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AFORISMO
"Convicções são prisões." (pág.365)
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LIVRO: Obras Incompletas // AUTOR: Friedrich Nietzsche // Coleção Os Pensadores // volume XXXII // EDITORA: Abril Cultural // São Paulo: 1974 // 1a edição

NIETZSCHE: CRÍTICA AOS FUNDAMENTOS DA LIBERDADE CIVILIZADA

QUEM?
Friedrich Nietzsche (1844/1900). Filósofo niilista alemão.
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COMENTÁRIO
O que significa liberdade? O termo, o verbo, mas também sua essência e significado mais pleno que reside aí, nele, e que, de certa forma, implica-nos irreversivelmente a todos num enredamento invisível e extremamente absorvente. Tudo para que os homens e mulheres desse pobre e miserável mundo pudessem se amontoar e se digladiar na infame vida em sociedade. As cidades, os rebanhos, as multidões bovinas, as guerras, as crenças, as farsas, enfim, a hipocrisia humana.
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CITAÇÃO
"Pois o que é liberdade? Ter a vontade de responsabilidade própria. Manter firme a distância que nos separa. Tornar-se indiferente a cansaço, dureza, privações, e mesmo à vida. Estar pronto a sacrificar à sua causa seres humanos, sem excluir a si próprio. Liberdade significa que os instintos viris, que se alegram com a guerra e a vitória, têm domínio sobre outros instintos, por exemplo, sobre o da 'felicidade'. O homem que se tornou livre, e ainda mais o espírito que se tornou livre, calca sob seus pés a desprezível espécie de bem-estar com que sonham merceeiros, cristãos, vacas, mulheres, ingleses e outros democratas." (pág.349)
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LIVRO: Obras Incompletas // AUTOR: Friedrich Nietzsche // Coleção Os Pensadores // volume XXXII // EDITORA: Abril Cultural // São Paulo: 1974 // 1a edição

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

A RECURSIVIDADE OUROBÓRICA NIETZSCHEANA

QUEM?
Friedrich Nietzsche (1844/1900). Filósofo niilista alemão.
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COMENTÁRIO
Ler o filósofo alemão Friedrich Nietzsche é para quem não sofre de vertigem. Sim, pois ele nos leva às alturas - e não devemos refugar em sua companhia ou de seus pensamentos - e de lá, do alto de suas ideias niilistas se respira, como ele mesmo nos diz, e podemos experimentar em seus pensamentos, ares mais puros de paragens mais amplas e abertas. E, de lá, dos picos enregelados da solidão do ser desamparado de um Deus, não há mais embustes nem mentiras que possam desviar nosso olhar ou nossa atenção mortal. Não há mais crença, não há mais verdades, que dirá absolutas ou permanentes, sobrando apenas - com sorte - nossa vontade mais vital e essencial diante da razão e da experiência individual: que nada mais é que - usando as palavras do próprio Nietzsche - vontade de potência.
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CITAÇÃO
"Homem! Tua vida inteira, como uma ampulheta, será sempre desvirada outra vez e sempre escoará outra vez, - um grande minuto de tempo no intervalo, até que todas as condições, a partir das quais vieste a ser, se reúnam outra vez no curso circular do mundo. E então encontrarás cada dor e cada prazer e cada amigo e inimigo e cada esperança e cada erro e cada folha de grama e cada raio de sol outra vez, a inteira conexão de todas as coisas. Esse anel, em que és um grão, resplandece sempre outra vez." (1974:397-398)
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LIVRO: Obras Incompletas // AUTOR: Friedrich Nietzsche // Coleção Os Pensadores // volume XXXII // EDITORA: Abril Cultural // São Paulo: 1974 // 1a edição

FRIEDRICH NIETZSCHE: A DEPENDÊNCIA VISCERAL DO CRENTE


QUEM?
Friedrich Nietzsche (1844/1900). Filósofo niilista alemão.
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COMENTÁRIO
Nietzsche detestava os carolas, os otários, os crentes. Acreditava que eram seres menores embrulhados por seus próprios pares, por impostores espúrios igualmente inferiores e, o que é pior, ludibriados por vontade própria e pura inclinação voluntária: como cordeiros, como rebanho, como imbecis enganados e manipulados. Culpados, punidos e castigados previamente por uma moral fantasiosa de mundos improváveis pós-mundo, de compensações e castigos intermináveis que - de fato - transformam o mundo real num verdadeiro inferno invivível; pura balela. Para Nietzsche, isso era anti-vida, puro desperdício, perda de tempo. Vidas em vão... Consumidas... Para nada, para uma mentira.
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Nessa passagem, retirada de seu livro O Anticristo, vemos transpirar em seus poros essa agonia que sentia ao divisar ou pensar sobre os cordeirinhos pastando docilmente em torno de seus pastores impostores e suas doutrinas infames. Rascante, profundo, definitivo: Nietzsche.
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CITAÇÃO
"O homem da crença, o 'crente' de toda espécie, é necessariamente um homem dependente - um homem que não é capaz de se propor como fim, que em geral não é capaz de propor fins a partir de si. O 'crente' não se pertence, só pode ser meio, tem de ser consumido, necessita de quem o consuma." (1974:366)
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LIVRO: Obras Incompletas // AUTOR: Friedrich Nietzsche // Coleção Os Pensadores // volume XXXII // EDITORA: Abril Cultural // São Paulo: 1974 // 1a edição

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

NIETZSCHE: O MÍNIMO POSSÍVEL DE ESTADO!

QUEM?
Friedrich Nietzsche (1844/1900). Notável filósofo alemão.
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AFORISMO
"O mínimo possível de Estado!" (pág.184)

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COMENTÁRIO
Nietzsche: "Todas as relações políticas e econômicas não merecem que precisamente os espíritos mais dotados possam e devam ocupar-se com elas: um tal consumo do espírito, no fundo, é pior do que um estado de indigência. São e permanecem domínios de trabalho para cabeças pequenas, e outras cabeças que não as pequenas não deveriam estar em serviço nessas oficinas..." (pág.184)
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LIVRO: Obras Incompletas // AUTOR: Friedrich Nietzsche // Coleção Os Pensadores // volume XXXII // EDITORA: Abril Cultural // São Paulo: 1974 // 1a edição

O CRENTE E O ESPÍRITO LIVRE SEGUNDO FRIEDRICH NIETZSCHE

QUEM?
Friedrich Nietzsche (1844/1900). Notável filósofo alemão.
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COMENTÁRIO
Nietzsche era inclemente com os imbecis. O tolos, ingênuos e cândidos (mesmo os volterianos) não tinham melhor sorte com ele. Na passagem extraída do livro Gaia Ciência vemos esse brilhante filósofo alemão niilista esbanjar seu talento e tino filosófico desalojando toda certeza crédula de falsos dogmas, transportando-as para um universo de ceticismo ateu desesperado, amparado sempre e apenas pela velha razão e experiência: grandes mestras e companheiras de jornada de todo filósofo, seja ele amador ou profissional.
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CITAÇÃO
"Onde um homem chega à convicção fundamental de que é preciso que mandem nele, ele se torna 'crente'; inversamente, seria pensável um prazer e força da autodeterminação, uma liberdade da vontade, em que um espírito se despede de toda crença, de todo desejo de certeza, exercitado, como ele está, em poder manter-se sobre leves cordas e possibilidades, e mesmo diante de abismos dançar ainda. Um tal espírito seria o espírito livre par execellence."(pág.223)
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LIVRO: Obras Incompletas // AUTOR: Friedrich Nietzsche // Coleção Os Pensadores // volume XXXII // EDITORA: Abril Cultural // São Paulo: 1974 // 1a edição

FRIEDRCH NIETZSCHE: O PERFIL DE CLANDESTINIDADE DO DEUS CRISTÃO

QUEM?
Friedrich Nietzsche (1844/1900). Notável filósofo alemão.
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COMENTÁRIO
Nietzsche tinha um língua extremamente afiada. Seu pensamento, não menos poderoso, exibia e ostentava em igual potência seu ceticismo e poder crítico descomunais, ainda mais quando o assunto era fé, crença e valores e outros espinhos.
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Aqui, nessa mordaz passagem de Assim Falou Zaratustra, esse rebelde incorrigível alemão simplesmente arrasa com as bases da doutrina cristã de uma vez por todas. Para ler e refletir.
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CITAÇÃO
"Ele era um Deus escondido, cheio de clandestinidade. Em verdade, ele só chegou a ter um filho por vias dissimuladas. À porta de sua crença está o adultério." (pág.264)
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LIVRO: Obras Incompletas // AUTOR: Friedrich Nietzsche // Coleção Os Pensadores // volume XXXII // EDITORA: Abril Cultural // São Paulo: 1974 // 1a edição

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

NIETZSCHE: A MORTE DE DEUS?! CONTORNOS E PRENÚNCIOS DO PÓS-HUMANO

QUEM?
Friedrich Nietzsche (1844/1900). Notável filósofo alemão.
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COMENTÁRIO
A morte de Deus, o Pós-Humano... O próprio Friedrich Nietzsche esclarece as complexas e espinhosas questões em tela...
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CITAÇÃO
“De fato, nós filósofos e ‘espíritos livres’ sentimo-nos à notícia de que ‘o velho Deus está morto’, como que iluminados pelos raios de uma nova aurora; nosso coração transborda de gratidão, assombro, pressentimento, expectativa – eis que enfim o horizonte nos aparece livre outra vez, posto mesmo que não esteja claro, enfim podemos lançar outra vez ao largo nossos navios, navegar a todo perigo, toda ousadia do conhecedor é outra vez permitida, o mar, nosso mar, está outra vez aberto, talvez nunca dantes houve tanto ‘mar aberto’.” (pág220)
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LIVRO:Obras Incompletas // AUTOR: Friedrich Nietzsche // Coleção Os Pensadores // volume XXXII // EDITORA: Abril Cultural // São Paulo: 1974 // 1a edição

SENTIMENTO E SUA ORIGEM NOS JUÍZOS POR FRIEDRICH NIETZSCHE

QUEM?
Friedrich Nietzsche (1844/1900). Notável filósofo alemão.
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COMENTÁRIO
Nietzsche era inimigo declarado das verdades absolutas. Ele sabia que ser humano é ser mutável, diverso, contraditório e não, ao contrário, estável, imutável e inabalável. Nessa passagem escolhida, vêmo-lo desconstruir um ditado popular de sua época que, de certa maneira, é válido e usado até os dias atuais. Em seu texto "Confia em teu sentimento!", que seria algo próximo de "Siga teu coração!" em nossos dias.
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Sem dúvida, trata-se de um rebelde extremamente fundamentado e talentoso elaborando uma crítica feroz contra o estabelecido, e que, além de tudo, com a pena em punho, escrevia com paixão e clareza filosófica arrebatadoras: puro deleite intelectual para o leitor reflexivo.
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CITAÇÃO
"Sentimentos e sua origem nos juízos. - 'Confia em teu sentimento!' - Mas sentimentos não são nada de último, originário, por trás dos sentimentos há juízos e estimativas de valor, que nos foram legados na forma de sentimentos (propensões e aversões). A inspiração que provém do sentimento é o neto de um juízo - e muitas vezes de um juízo falso! - e, em todo caso, não de teu próprio juízo! Confiar em seu sentimento - isto significa obedecer mais ao seu avô e à sua avó e aos avós deles do que aos deuses que estão em nós: nossa razão e nossa experiência."
(pág.171)
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LIVRO: Obras Incompletas // AUTOR: Friedrich Nietzsche // Coleção Os Pensadores // volume XXXII // EDITORA: Abril Cultural // São Paulo: 1974 // 1a edição

PULSÃO DE MORTE: A CESSAÇÃO DEFINITIVA DOS DESEJOS

QUEM?
Conceito: Jacques Lacan (1901/1981). Célebre psicanalista francês.
Aforismo: Alexandre Quaresma (1967). Escritor e editor deste blog.
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AFORIMO
"Pulsão de morte é o desejo [incontrolável*] de não ter mais desejos." (*por isso pulsão)
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COMENTÁRIO
Para Lacan toda pulsão é de morte. Isso se dá por força de uma eterna incompletude e desemparo que todo humano experimenta desde muito cedo ao perceber que é um ser individual, despregando-se deste estado confortável de plenitude e completude com o todo, e se inscrevendo num contexto de por-gozar que, de fato, nunca se conclui, nunca se completa, pois os desejos se suscedem uns aos outros indefinidamente durante toda existência humana, e a cada desejo saciado, surge imediatamente um outro objeto de desejo, substituindo uma plenitude inalcansável, e assim, este breve gozar nunca é realmente pleno, projetando o indivíduo num mar de desejos insaciáveis sucessivos que engolem literalmente os dias e as horas da vida. Assim, pulsão de morte seria um desejo de não ter mais desejos, situação impossível, já que só na morte nada mais se deseja, daí o conceito de Lacan e o aforismo deste Escriba. Da Redação.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

FRIEDRICH NIETZSCHE: SABEDORIA É CALAR

QUEM?
Friedrich Nietzsche (1844/1900). Notável filósofo alemão.
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COMENTÁRIO
Falar é fácil, difícil é fazer, ou seja, concretizar, realizar, concluir, enfim: superar. Calar, então, neste contexto, torna-se suprema sabedoria. Ver, enxergar, refletir... e calar: eis a sábia proposição deste incurável rebelde alemão chamado Friedrich Nietzsche.
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AFORISMO
"Deve-se falar somente quando não se pode calar; e falar somente daquilo que se superou - tudo o mais é tagarelice,'literatura', falta de disciplina. (pág.131)
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LIVRO: Obras Incompletas // AUTOR: Friedrich Nietzsche // Coleção Os Pensadores // volume XXXII // EDITORA: Abril Cultural // São Paulo: 1974 // 1a edição

sexta-feira, 16 de julho de 2010

ANTROPOLOGIA: HOMENS E CÃES ATRAVÉS DOS TEMPOS E DA HISTÓRIA POR J BAMBERG

QUEM?
Professor J. Bamberg. Caro amigo antropólogo colaborador deste blog.
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COMENTÁRIO
J. Bamberg é figura ímpar que essa vida me deu meio que sem querer, cabra que escreve com a alma brasileira na ponta da pena - digo - na ponta do teclado e do mouse, sempre que pode estar diante de sua tela internautica computadora digital. E é ali, diante da máquina fala-escreve orweliana, que ele se solta e escreve como ninguém. Aqui, nestes textos, temos uma aula sobre a história domundo e as relações homens/cães, e já que estes gentís animais tem sido foco de nossas elocubrações literárias nesses dias fugidios da pós-modernidade, com vocês o professor J. Bamberg, nosso mais novo colaborador nesse editorial, em bamberguês original.
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EDITORIAL
"Caríssimo Don Alejandro, El Escriba, Um ditado velho,lá dos 60/70, época da 'durêta' no couro de todos nós, diz:'...sofre mais que mulher de comunista e cachorro de índio!...'.Essa fala aponta numa direção curiosa,se,não, bizarra. O nosso 'índio', em geral,até recentemente não queria cachorro beirando seus terrais,nem...A vara 'comia' no couro dos canídeos,via de regra..."-...xê-têt-têêê-ì !!!.....", em ofensa irretratável a expurgá-los do campo de visão de qualquer tupynâmbo,em geral... O que o R.Linton aponta é um traço do 'indio',comanche,sioux,oglala e muitos mais, lá dos EEUU,havendo muitos outros que não os tolerava.Lá e cá, o ocorrido com o cavalo,o boi, e, com o cachorro,em especial, tem diferenças interessantes,pois. Aquí,e,claro,lá, o cachorro veio com o colonizador e em maioria de vêzes,em persiga do nosso 'primeiro-dono-da-terra', o 'negro-da-terra',leia-se,o'indio', que,porisso mesmo o odiava e sequer o caçava para comer...Ódio figadal,já descrito e muito bem, por Bartolomé de las Casas, em obra simple e belíssima!...Depois, com as saudabilíssimas misturanças dos povos de lá com os de cá,e com,principalmente,a meu rude ver,muito mais do que o colono,entradista,bandeirante ou lavrador,à exceção do vaqueiro ou negríndio, a presença do negro-escravizado-e-fugido, já aquilombado nas aldeias mais a dentro e protegido pelo 'indio' e,maioria das vêzes, por lá ficando, casando-se, tornando-se um cunhado,já um familiar,com direito a plantar roças e tanto o mais, o cachorro - trazido pelo colonizador como ferramenta,arma de guerra e depois,também,companheiro dêsses 'outros'-veio junto,para ficar e fazer parte do contexto. Lembremos: presença dos cães nas diversas culturas africanas é bem comum, seja no pastoreio,principalmente, também,na guarda,nas guerras e na caça ou enquanto 'companhia',havendo casos múltiplos de 'entêrros',sepultamentos, onde o cão está ao lado do seu dono/a,todos já mortos,óbvio, 'seguindo juntos a grande viagem'...Entre os egípcios,uma constante para quem os tivesse em zêlo.No nosso caso,não.E,a princípio,isso ocorre depois da apropriação cavalo e do boi,por exemplo.O cavalo enquanto 'ferramenta-de-guerra' e o boi,ainda arisco,perdido,na mata, no mato,aos primeiros tempos, um animal-mítico,maior do que o tapyr, a anta, e com chifres fortes e mortais, que solta urros como um Iyaguá-açú-caang-uçú...Um novo 'ente' na sua imagétika-mítica de curupiyras, caapóras e tanto mais...Êsse, estranho ser, que,só recentemente entra para a dieta da maioria dos Povos Indígenas- especialmente,daquí,Sul da América,no,hoje,Brasil."
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"Lá,ao lado norte da América, só depois da mortandade absurda dos buffalos,pelos colonizadores,cowboys,soldados e outros aventureiros até internacionais, alí,apenas pela simples caçada, e a consequente escassez de carnes e couros,necessários ao enfrentamento dos tempos invernais,por parte dos Povos Indígenas,lá instalados desde quase sempre e então invadidos e perseguidos,terras de cultivos tomadas e sei lá mais o que a lhes conduzir para as 'reservas',os mais verdadeiros campos de concentração a céu aberto e escola maldita para outras experiências semelhantes,já em tempos posteriores,o século,ocidentalmente dito,20 ... - enquanto ítem da alimentação diária, a concorrer ou substituir o peixe e a caça, as frutas e mel,insetos e outros mais.Há linhas etnológicas que pensam a presença dos cães junto aos humanos,até enquanto contributivo,significante, para a instalação dos grandes grupos, famílias e mais a definirem o que ,depois da simples socialização viesse a se transformar e evoluir para a Sociedade atual. O cão ,depois da domesticação,passa a ser ,quase, um 'ente da família', coisa que, de fato, vem a ocorrer na contemporaneidade. O companheiro da caça e da guerra evolúi para o'melhor amigo' que se transforma no 'seu filho' bem como num belo pitéu mercadológico, com gordíssimas fatias de participação no ambiente do grande-consumo.Comida,remédios,brinquedos,roupas e sei lá mais quantos outros tantíssimos ítens à disposição dos bichinhos e dos seus embevecidos donos/as-papais-mamães'.Bela matéria, a vossa, lá no Escriba, que não consigo 'acessar',para postar as minhas bestidades comentárias... Como fazê-lo,pois?!...Escrevo a'palavra-código',do quadradinho,me qualifico,ponho o password, e... Nada...Coisas dessa maquininha infernal!...Grande e confraterno abraço,para vossência e d.Cris,e a mais, em aguardo do amigo Escriba,para uma 'churrascada- sangrenta', de fazer cachorro babar, aquí em BsB, 'terra-que-muito-cachorro-manda-e-manda-muito'...Do seu mano mais rude, e ex-quadrúpede,quase bípede e atual,trípede,"JB
13 de julho de 2010 18:44

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Continua...

sexta-feira, 9 de julho de 2010

ANTROPOLOGIA: O INDUBTÁVEL VALOR DOS CÃES NAS CULTURAS HUMANAS

COMENTÁRIO
Os cães têm, dentre muitas outras, a qualidade simples e fundamental do perdão. Eles não nos guardam rancor nem ressentimento e sabem sem dúvida nos perdoar por todas as nossas desumanidades. Mesmo que alguns desses sujeitos mais sortudos sejam mimados, acariciados, tratados com dignidade e respeito, com admiração e verdadeiramente com amor por alguns donos menos desumanos; outros, por sua vez, são destratados como seres inferiores e podem de fato ser trancados, acorrentados, mal-tratados e até mesmo torturados e mortos por nós, animais ditos superiores; e, ainda assim, independentemente de tudo, guardam-nos afeição e matêm-se firmes ali, do nosso lado, faça chuva ou faça sol. São seres vibrantes, valentes, briosos, e podem ser companheiros de uma vida toda - digo deles - podendo viver mais de uma década ao lado de seu dono, fielmente, sem nunca fraquejar ou duvidar de sua devoção e admiração pelo ser que escolheu como companheiro de jornada. Alguns esotéricos afirmam, e eu concordo com eles: Os cães nos escolheram para companheiros no decorrer e desenrolar da história de ambas as espécies, e não o contrário.
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A propósito, esse cara da foto é o Jojoba, um cão interesantíssimo que descende de uma linhagen de cães nobres que viviam no Altiplano brasileiro em meio às árvores retorçidas e belíssimos córregos de águas puras e cristalinas. Jojoba, esse cara-de-pau oportunista e malandrão, é filho do Sansão, um cachorro especialíssimo que me acompanhou por mais de uma década - cuja memória me é saudosa até os dias atuais - e que, por sua vez, foi filhote de uma cadela Fila fantástica de um amigo chamada Odara. Ou seja, esses caras quadrúpedes me acompanham pela vida desde que me entendo por gente.
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Numa lista mais abrangente entrariam certamente outros cães e gatos notáveis com os quais tive a oportunidae e a honra de conviver na vida: Duque, Dalila, Linguiça, Zugui, Sansoquinha, Braveza, Loba, Kinco, Croquete, Dark, Mio e Pilsining (gato) cuja memória é evocada sempre e com profunda saudade em nossa família. Estes seres fazem parte de nossas vidas e têm mais a ver conosco do que imaginamos. Sistemicamente, eles se acoplaram a nós com enorme perfeição, o que veio a acarretar a eficiência de ambas as espécies. Definitivamente, estes seres merecem a nossa admiração.
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O antropólogo norte-americano Ralph Linton, em seu clássico O Homem: Uma introção à antropologia, faz menção à íntima relação social dos Comanche com seus cães. Estes fantásticos animais eram tratados praticamente como iguais, gozando de um status de partícipe da própria cultura desses ameríndios do Norte por puro mérito e competência.
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Da Redação.
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CITAÇÃO
"Os Comanche possuem dois animais domésticos, o cavalo e o cachorro. Os cavalos tinham para a tribo uma importância econômica extrema, pois deles dependiam quase todas as técnicas de caça, bem como o padrão todo da sua vida nômade. Por outro lado, a única utilidade possível dos cachorros era dar alarma contra um ataque noturno; utilidade, porém, que nunca vinha mencionada nas histórias comanches. Os antigos cachorros dos Comanche eram animais pequenos, nunca empregados para seguir rastros, nem para transporte [tração], nem para alimentação. Eram mantidos apenas como animais de estimação e dependiam tanto de seus donos que muitas vezes eram carregados a cavalo, quando um bando mudava de acampamento. Não obstante, parece que os cavalos eram considerados mais ou menos como consideramos as máquinas. Não tinham nomes, a não ser os nomes puramente descritivos, baseados na cor; e parece que seus donos tinham por eles pouca afeição e interesse. Nenhuma história se contava a respeito de um determinado cavalo; e o máximo que qualquer Comanche diria, a respeito dos que tivesse possuído, seria que um certo cavalo era bom na pista e na caça. Ainda mais impressionante é que os cavalos não parecem ter ocupado nenhum lugar na vida cerimonial da tribo. talvez fossem oferecidos numa dança, ou dados em pagamento a um médico-feiticeiro. Mas, nessas ocasiões, apresentavam apenas um valor intrínseco. Nunca apareciam em visões ou sonhos significativos, a não ser como pormenores acidentais; e eram, entre os animais conhecidos pelos Comanches, dos poucos a que nunca se atribuiu poder sobrenatural.
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Os cachorros, ao contrário, tinham nomes individuais, bem como o que podemos chamar de 'personalidades sociais'. Todos no bando conheciam suas indiossincrasias individuais e tratavam os cachorros quase como a crianças. Um velho contava uma história de uma cachorra preta, que tinha sido como uma segunda mãe para ele em sua meninice. E todo homem falaria durante horas sobre os cahorros que tinha conhecido. O presente de um cachorro de estimação estava em plano emocional muito diferente do presente de um cavalo, indicando a existência de uma relação mais pessoal e íntima que profissional ou cerimonial. Considerava-se como especialmente precioso o cachorro de estimação dado por um amigo ou parente falecido. Essa atitude se refletia no costume de pedir um desses animais como parte da indenização a ser paga a um marido ultrajado pelo amante de sua mulher. Em tais situações, o marido procurava mais a vingança que o lucro; e a perda do cachorro penalizaria mais um homem do que a perda de vários cavalos. matar um cachorro, ainda que fosse estranho, é ainda considerado de mau agouro e suscetível de provocar a morte dos filhos do matador. Finalmente, os cachorros apareciam em sonhos como figuras centrais, embora pareça que não eram dotados de poder. De tudo se depreende que, embora o cavalo ultrapasse muito o cachorro, em importância econômica, o cachorro ultrapassa muito o cavalo na avaliação do interesse. Embora usando mais o cavalo, muito mais necessário para a sua sobrevivência, os Comanche atribuíam maior significado ao cachorro. Talvez se alegue que não é justo comparar o interesse por um animal de trabalho com o interessse por um animal de estimação, porque esse último é, na realidade, membro da sociedade e, portanto, considerado pelo grupo, por assim dizer, como que pertencendo ao lado humano. Imediatamente, porém, surgiria o problema: - por que os Comanche não fizeram dos cavalos seus animais de estimação, como tantas outras sociedades? A resposta é que não tinham interesses suficiente por eles. Podemos assim fechar um dos círculos em que os elementos culturais se dispõem onde quer que estudemos um continuum cultural tomado em um único ponto de sua extensão." (pág. 404-405)
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LIVRO: O Homem: Uma introdução à antropologia // AUTOR: Ralph Linton // EDITORA: Martins Fontes // SãoPaulo: 1987 (12a edição brasileira) // FOTO: Juliano Thuran
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AS MULTIPLICIDADES ORGANIZACIONAIS E SOCIAIS DA VIDA GREGÁRIA

QUEM?
Ralph Linton (1893/1953). Antropólogo norte-americano. Autor de Cultura e Personalidade e O Homem: Uma introdução à antropologia.
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COMENTÁRIO
Em meio à teoria antropológica profunda, Ralph Linton nos propõe noções de realidade bastante críticas e contundentes para as manifestações culturais que tal doutrina se inclina a estudar. Um pensador competente com uma prosa clara: eis a fórmula do sucesso - digo - do pleno deleite do leitor instruído.
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CITAÇÃO
"A cidade moderna [1936], com sua multiplicidade de organizações de toda espécie, dá a imagem de uma massa de indivíduos que perderam seus bandos e estão tentando, de maneira incerta e tateante, substituí-los por alguma outra coisa." (pág226)
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LIVRO: O Homem: Uma introdução à antropologia // AUTOR: Ralph Linton // EDITORA: Martins Fontes // SãoPaulo: 1987 (12a edição brasileira) // IMAGENS: Alexandre Quaresma
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terça-feira, 6 de julho de 2010

A MENOPAUSA SOBRENATURAL DA MULHER COMANCHE PELA PENA DE RALPH LINTON

QUEM?
Ralph Linton (1893/1953). Antropólogo norte-americano. Autor de Cultura e Personalidade e O Homem: Uma introdução à antropologia.
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COMENTÁRIO
A vida é constituída e configurada segundo uma série complexa de crenças e valores. Os Comanches acreditavam que as mulheres só deviam ter contato com o mundo do além depois de chegarem a uma certa idade. E assim o era. Por quê? Peculiaridade cultural da sociedade em questão.
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CITAÇÃO
"Assim, as mulheres Comanche ficavam liberadas, depois da menopausa, da proibição de lidar com o sobrenatural. Tinham permissão para manejar os objetos sagrados, adiquirir poder por meio de sonhos e entregar-se às práticas dos xamãs, coisas que eram proibidas às mulheres que ainda estavam em idade de procriar." (pág122)
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LIVRO: O Homem: Uma introdução à antropologia // AUTOR: Ralph Linton // EDITORA: Martins Fontes // SãoPaulo: 1987 (12a edição brasileira)

A ANTROPOLOGIA DE RALPH LINTON: O CANIBALISMO E A ACULTURAÇÃO

QUEM?
Ralph Linton (1893/1953). Antropólogo norte-americano. Autor de Cultura e Personalidade.
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COMENTÁRIO
Vão aqui duas pérolas, por assim dizer, escolhidas na excelente obra O Homem - Uma introdução a antropologia de Ralph Linton. A primeira é instigante e trata de hábitos culturais de humanos comendo outros humanos. A segunda trata da aculturação sofrida por povos vencedores em processos de conquista e colonização. Em ambas a narrativa é teórica, mas temos a nítida sensação de estarmos vendo um filme ou presenciando os acontecimentos em si, desdobrando-se socioculturalmente diante de nossos olhos - digo - na nossa imaginação. Realmente muito bom! Da Redação.
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CITAÇÕES
"O mesmo grupo honesto e bondoso em seu trato interno pode ser traiçoeiro e friamente cruel no seu trato com estranhos. Assim, os membros de uma tribo marquesana, extraordinariamente bondosos e respeitosos entre si, encaravam o fato de comer um membro de sua tribo de maneira muito aproximada á maneira pela qual encaramos o canibalismo. As suas histórias a respeito de indivíduos culpados desse crime refletem o mesmo horror das nossa lendas de papões e feitiçeiros antropófagos. Mais comiam sem nenhum escrúpolo os membros de outras tribos. É verdade que no comer guerreiros inimigos entravam elementos de serimonial e de vinçança, mas mulheres e crianças estranhas eram devoradas simplesmente porque sua carne era apreciada. Esses marquesanos caçavam os membros de outras tribos mais ou menos como caçavam porcos; e tratavam com inconsciente crueldade os seus prisioneiros. Quando havia maior número de prisioneiros que o necessário para um festim, suas pernas eram quebradas a fim de evitar que fugissem e de guardá-los para quando fossem necessários." (pág233)
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"Este processo exemplifica principalmente a aculturação. A fusão cultural de conquistadores e conquistados torna-se inevitável logo que os conquistadores perdem o contato uns com os outros. Sem um núcleo de indivíduos que estejam em associação constante, as culturas não podem manter-se intactas. O vencedores talvez façam um esforço consciente para manter sua antiga cultura em benefício de seu prestígio social e pode ser que consigam manter a maioria de suas formas exteriores. Não poderão, porém, manter seus elementos mais sutis e mais vitais. Uma das caracteristicas dos aristocratas, em todo o mundo, é que eles relutam de cuidar de seus próprios filhos, o que é bem compreensível para quem conheça o trabalho de tomar conta de duas ou três crianças ao mesmo tempo. Esta árdua tarefa é relegada aos escravos ou servos tirados do grupo de vencidos. Quer dizer que a criança fica exposta à cultura deste grupo durante o período de formação por excelência. Apreende a lígua dos vencidos antes de apreender sua própria língua e inconscientemente absorve a maior parte de suas atitudes, o que aliás constitui para ela uma vantagem, porque mais tarde terá de tratar principalmente com os dominados. Mas significa a destruição dos conquistadores como unidade social e cultural integrada." (pág.240)
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LIVRO: O Homem: Uma introdução à antropologia // AUTOR: Ralph Linton // EDITORA: Martins Fontes // SãoPaulo: 1987 (12a edição brasileira) IMAGEM: Ilhas Marquesas (Polinésia francesa)

domingo, 4 de julho de 2010

O INDIVÍDUO MEDIANO NA ANTROPOLOGIA ELEGANTE DE RALPH LINTON

QUEM?
Ralph Linton (1893/1953). Antropólogo norte-americano. Autor de Cultura e Personalidade.
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COMENTÁRIO
Ralph Linton escreve com clareza. Qualidade importantíssima num homem de letras. Em seu estilo marcado pela objetividade o autor trata de questões complexas com muita simplicidade e eficiência, enfim, entendemos plenamente o que ele quer nos dizer. Ou seja, há a tão almejada comunicação! Sem dúvida, premissa seminal de quem escreve. E, deveras, sua mensagem é contundente. Na citação escolhida, podemos vê-lo se referir à essa massa de pessoas que compõem a média geral e que quase nada influenciam na coleção de valores culturais da humanidade. Crítica direta e visceral, sem nenhuma espécie de rodeio ou pudor. Competentíssimo.
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Da Redação
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CITAÇÃO
"Em toda sociedade, o indivíduo mediano parace ser um portador bastante passivo da cultura, recebendo-a de seus predecessores e transmitindo-a a seus descendentes, sem modificações especiais." (pág.62)
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LIVRO: O Homem: Uma introdução à antropologia // AUTOR: Ralph Linton // EDITORA: Martins Fontes // SãoPaulo: 1987 (12a edição brasileira)
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domingo, 20 de junho de 2010

AS VISÕES DE FUTURO DE MICHIO KAKU

QUEM?
Michio Kaku (1947). Físico teórico norte-americano. É professor e co-criador da teoria de campos de corda, um ramo da teoria das cordas. Autor do livro Hiperespaço.
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COMENTÁRIO
Visões do Futuro é um livro onde o autor tenta fazer previsões sobre o que acontecerá nos próximos 20, 50 e 100 anos, com o advento das novas tecnologias, e com a interação destas com a sociedade. Como ele escreveu o referido livro em 1997, hoje em 2010, 13 anos depois, podemos conferir algumas de suas previsões na prática, constatando acertos e erros, peculiarmente, em igual medida, o que prova na prática que o campo das previsões, especialmente em se tratando de tecnociências, não é um campo fácil de se atuar. Na citação, vemos uma das muitas previsões interessantes que ele nos oferece em seu livro.
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CITAÇÃO
"No passado, os biólogos aprendiam sobre a vida analisando o interior de espécimes vivos (isto é, in vivo). No último século, eles aprenderam a estudar a vida no vidro (isto é, in vitro). No futuro, estudarão a vida através de computadores (isto é, in silico)." (pág.190)
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LIVRO: Visões de Futuro - Como a ciência revolucionará o século XXI // AUTOR: Michio Kaku // EDITORA: Rocco // Rio de Janeiro: 2001

sábado, 19 de junho de 2010

O SUCESSO SEGUNDO WINSTON CHURCHILL

QUEM?
Sir Winston Leonard Spencer-Churchill (1874/1965). Estadista, escritor e jornalista britânico. Foi o primeiro-ministro do Reino Unido durante a Segunda Guerra Mundial.
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DEFINIÇÃO
"Sucesso nada mais é do que ir de fracasso em fracasso com inquebrantável entusiasmo." (pág.169)
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LIVRO: Visões de Futuro // AUTOR: Michio Kaku // EDITORA: Rocco // Rio de Janeiro: 1997