terça-feira, 6 de julho de 2010

A ANTROPOLOGIA DE RALPH LINTON: O CANIBALISMO E A ACULTURAÇÃO

QUEM?
Ralph Linton (1893/1953). Antropólogo norte-americano. Autor de Cultura e Personalidade.
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COMENTÁRIO
Vão aqui duas pérolas, por assim dizer, escolhidas na excelente obra O Homem - Uma introdução a antropologia de Ralph Linton. A primeira é instigante e trata de hábitos culturais de humanos comendo outros humanos. A segunda trata da aculturação sofrida por povos vencedores em processos de conquista e colonização. Em ambas a narrativa é teórica, mas temos a nítida sensação de estarmos vendo um filme ou presenciando os acontecimentos em si, desdobrando-se socioculturalmente diante de nossos olhos - digo - na nossa imaginação. Realmente muito bom! Da Redação.
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CITAÇÕES
"O mesmo grupo honesto e bondoso em seu trato interno pode ser traiçoeiro e friamente cruel no seu trato com estranhos. Assim, os membros de uma tribo marquesana, extraordinariamente bondosos e respeitosos entre si, encaravam o fato de comer um membro de sua tribo de maneira muito aproximada á maneira pela qual encaramos o canibalismo. As suas histórias a respeito de indivíduos culpados desse crime refletem o mesmo horror das nossa lendas de papões e feitiçeiros antropófagos. Mais comiam sem nenhum escrúpolo os membros de outras tribos. É verdade que no comer guerreiros inimigos entravam elementos de serimonial e de vinçança, mas mulheres e crianças estranhas eram devoradas simplesmente porque sua carne era apreciada. Esses marquesanos caçavam os membros de outras tribos mais ou menos como caçavam porcos; e tratavam com inconsciente crueldade os seus prisioneiros. Quando havia maior número de prisioneiros que o necessário para um festim, suas pernas eram quebradas a fim de evitar que fugissem e de guardá-los para quando fossem necessários." (pág233)
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"Este processo exemplifica principalmente a aculturação. A fusão cultural de conquistadores e conquistados torna-se inevitável logo que os conquistadores perdem o contato uns com os outros. Sem um núcleo de indivíduos que estejam em associação constante, as culturas não podem manter-se intactas. O vencedores talvez façam um esforço consciente para manter sua antiga cultura em benefício de seu prestígio social e pode ser que consigam manter a maioria de suas formas exteriores. Não poderão, porém, manter seus elementos mais sutis e mais vitais. Uma das caracteristicas dos aristocratas, em todo o mundo, é que eles relutam de cuidar de seus próprios filhos, o que é bem compreensível para quem conheça o trabalho de tomar conta de duas ou três crianças ao mesmo tempo. Esta árdua tarefa é relegada aos escravos ou servos tirados do grupo de vencidos. Quer dizer que a criança fica exposta à cultura deste grupo durante o período de formação por excelência. Apreende a lígua dos vencidos antes de apreender sua própria língua e inconscientemente absorve a maior parte de suas atitudes, o que aliás constitui para ela uma vantagem, porque mais tarde terá de tratar principalmente com os dominados. Mas significa a destruição dos conquistadores como unidade social e cultural integrada." (pág.240)
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LIVRO: O Homem: Uma introdução à antropologia // AUTOR: Ralph Linton // EDITORA: Martins Fontes // SãoPaulo: 1987 (12a edição brasileira) IMAGEM: Ilhas Marquesas (Polinésia francesa)

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