sábado, 31 de janeiro de 2009

AS TENTAÇÕES DE PADRE SÉRGIO POR TOLSTÓI


QUEM?
Leão Tolstói (1828-1910), ou, simplesmente, Лев Николаевич Толстой - eminente escritor russo.

CITAÇÃO
"Páchenka, por favor, receba as palavras que lhe direi agora como uma confissão, como palavras ditas a Deus na hora da morte. Páchenka, não sou um homem santo, não sou nem mesmo um homem simples e comum: sou um pecador torpe, abjeto, um pervertido, um pecador orgulhoso, e se não sou o que há de pior na raça humana, estou entre os piores." (pag95)

COMENTÁRIO
Leão Tolstói era um gênio. Um mago da literatura universal de todos os tempos. Sua prosa clássica natural da Mãe Rússia cruza o globo de ponta à ponta e já foi traduzida em quase todas as linguas e idiomas do planeta. O obstinado personagem Padre Sérgio, desta citação, retrata um homem religioso em crise existencial, sob o jugo da tentação que pode provocar a presença de uma bela mulher. Tema quente e picante, trazido à luz para a imortalidade pela pena do Mestre Leão, que era, além de fazendeiro, escritor e humanista, homem dado à filosofia e à reflexão - numa crítica forte contra a fé católica ortodoxa - para o puro deleite do leitor. Categoria Escriba: cinco peninhas de ouro para Tolstói.

LIVRO: Padre Sérgio // Autor: Leão Tolstói // Editora: Cosacnaify // São Paulo // 2006

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

OS COMPROMISSOS DE DON MIGUEL RUIZ

QUEM?
Don Miguel Ángel Ruiz (1952) escritor, professor, nagual e shaman mexicano, expoente da cultura Tolteca.

CITAÇÃO
"Se você der o melhor de si na procura de liberdade pessoal, na busca do amor-próprio, vai descobrir que é apenas uma questão de tempo até conseguir o que deseja. Não se trata de sonhar acordado ou passar horas em meditação. Você precisa levanter-se e ser humano. Precisa honrar o homem ou a mulher que é. Respeite, aproveite e ame seu corpo; alimente-o, limpe-o e cure-o. Exercite-o e faça o que ele se sente bem em fazer. Esse é o 'puja' de seu corpo, isso é a comunhão entre você e Deus." (pag74)

COMENTÁRIO
Os Toltecas e sua cultura são fascinantes. Curandeiros, bruxos, shamans, gente sábia e poderosa.
Quem não leu Carlos Castaneda? Pois é, só aqui não falamos de romance. Os Quatro Compromissos de Don Miguel Ruiz trás à luz toda uma riqueza de ensinamentos destes povos pré-mexicanos que acreditam na força dos espíritos divinos e da natureza em toda sua pungência e seus infinitos sinais.

LIVRO: Os Quatro Compromissos // AUTOR: Don Miguel Ruiz // EDITORA: Best Sller // 1997

OS CRUÉIS CONTOS DE L'ISLE-ADAM

QUEM?
Jean-Marie-Mathias-Philippe-Auguste, comte de Villiers de l'Isle-Adam (1838-1889). Talentoso e competente escritor simbolista francês.
COMENTÁRIO
Escrever lançando mão do simbolismo existente em tudo - como faria um Shaman - eis o que fazia brilhantemente Villiers de l'Isle-Adam. Em seus Contos Cruéis, no espetacular conto Lembranças Ocultas, ele esbanja seu talento usando e abusando deste interessante tipo de linguagem literária: os sígnos. Ferramenta esta, interessantíssima, que confere a seus escritos um 'que' quase que interpretativo, para o leitor completar suas estórias com a sua própria imaginação. Leitura fina Escriba, categoria cinco peninhas.
CITAÇÃO
"O silêncio é rompido apenas pelo deslizar dos crótalos que ondulam pelos fustes derrubados das colunas e enroscam-se, sibilando, sob os musgos ruivos. Às vezes, em crepúsculos tempestuosos, o grito longínquo do homíono, alternando tristemente com o barulho do trovão, inquieta a solidão. Sob as ruínas, prolongam-se galerias subterrâneas cujos acessos estão perdidos. Ali, há muitos séculos, dormem os primeiros reis dessas estranhas regiões, dessas nações mais tarde sem donos, dos quais nem mesmo o nome existe mais." (pag62)
LIVRO: Contos Crúeis // AUTOR: Villiers de l'Isle-Adam // EDITORA: Iluminuras // São Paulo // 1987

OS VENTOS DE DAUDET

QUEM?
Alfhonse Daudet (1840-1897) Escritor e romancista francês conhecido por seu estilo elegante que unia realismo e poesia.

COMENTÁRIO
A prosa de Alfhonse Daudet soa como o vento Transmontano trazendo em seu furor ares frios e renovados para a província a seu bel prazer. Seus escritos são carregados visceralmente de um sentimento de aprazibilidade muito confortável e reconfortante, que transporta o leitor para o ambiente e para o clima que ele quer: a singularidade. A vida campestre do interior de França. Seus heróis, ou melhor, seus personagens, são quase sempre faroleiros, moedores, músicos, camponeses, cocheiros, agricultores, padres, enfim, pessoas simples inseridas em seus cotidianos singelos e delicados; carregando na linguagem clássica e elegantede, sempre com um olhar humano e poético mas, acima de tudo, com habilidade e talento notáveis. O trecho escolhido é do belo Conto de Daudet, Elixir do Reverendo Padre Gaucher, e conta a divertida aventura de um padre sedento às voltas com a receita de um maravilhoso licor. Simplesmente espetacular!

CITAÇÃO
"Durante o dia, tudo ia bem. O Padre permanecia assaz calmo: preparava os fornos, os alambiques, escolhia cuidadosamente suas ervas, todas ervas de Provença, finas, cinzentas, de bordos dentados, queimadas de pewrfumes e de sol... Mas à tarde, quando as plantas estavam em infusão e o elixir fervia nos grandes tachos de cobre vermelho, o martírio do pobre homem começava. (pág91)

LIVRO: Histórias de Alfhonse Daudet // EDITORA: Cultrix // São Paulo // MCMLXIV

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

O CÉREBRO DE OURO DE DAUDET


QUEM?
Alfhonse Daudet (1840-1897) Escritor e romancista francês conhecido por seu estilo elegante que unia realismo e poesia.
COMENTÁRIO
Daudet escrevia com classe. Não no sentido restrito de seleção elitista, mas em um sentido de harmonização plena do verbo. Suavidade, ócio, vento, paz, solidão... Este é o mundo de Alfhonse Daudet. Seus belíssimos escritos nos remetem a lugares longínqüos, onde o tempo passa mais lenta e suavemente: o interior da França na época dos moinhos de vento; e seus personagens perdidos em meio à imensidão da província. A citação escolhida, foge um pouco ao estilo do próprio autor, pois trata-se de um elegante Conto construído a partir da ótica do realismo fantástico: "A Lenda do Homem do Cérebro de Ouro". Através desta genial alegoria emblemática e escatológica, ele insinua sua crítica à exploração das boas criações da mente humana por ganância, lançando luz nos aspectos intrínsecos desta condição, e tudo que ela pode gerar - quem sabe falando até de si mesmo - sempre, com grande habilidade e graça, com um final mais que surpreendente. Literatura fina, prosa elegante, estilo delicado e singelo; numa só palavra: Alfhonse Daudet.
CITAÇÃO
"Aos dezoito anos, somente, foi que seus pais lhe revelaram o dom misterioso herdado do destino; e, como eles o tinham criado e nutrido até ali, pediram-lhe um pouco de seu ouro. O rapaz não hesitou; imediatamente - como? por que meios? a lenda não diz, - arrancou do crânio um pedaço de ouro maciço do tamanho de uma noz e lançou-o altivamente aos joelhos da mãe... Depois, orgulhoso das riquezas que carregava na cabeça, tomado de ambições, embriagado pelo poderio, deixou a casa paterna e se foi pelo mundo, gastando o seu tesouro."(pág78)
LIVRO: Histórias de Alfhonse Daudet // EDITORA: Cultrix // São Paulo // MCMLXIV

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

OS MAGNÍFICOS ENSAIOS DE MONTAIGNE


QUEM?
Michel de Montaigne (1533-1592) Brilhantíssimo escritor e filósofo francês, que imortalizou o estilo literário Ensaio.
COMENTÁRIO
Ler de um só folego os Ensaios de Montaigne é obra hercúlea. Sim, porque são 504 páginas, coluna dupla, letra corpo 8, de conteúdo denso e escrito em linguagem da época: fina e rebuscada. Ainda assim, faz o leitor persistente indubitavelmente perceber, o rico universo de prosa livre e elegante do formato Ensaio - imortalizado pelo autor - além de gozar de um banho de cultura geral através de sua nobilíssima e incontestável sapiência, bem como saber detalhes interessantíssimos deste admirável tempo de outrora. Vale notar que Montaigne viveu exatamente naquelas décadas notáveis das grandes descobertas ultramarinas das quais nós, sul-americanos somos resultado, com suas intermináveis e sem número de barbáries brutais. Fora isso, através dos bem escritíssimos Ensaios, é possível conhecer a vida dos grandes personagens importantes da história antiga, escritores célebres e também, as intrigas da corte européia e, especialmente, refletir com ele sobre as questões filosóficas espinhosas e imortais, que o Mestre Michel de Montaigne destrincha como ninguém. Nesta citação, vemos a narrativa de uma trágica passagem da presença bárbara européia no Novo Mundo. Humano, nobre, crítico, sensível, filosófico, bem humorado, inteligente, talentosíssimo; numa palavra: Montaigne.
CITAÇÃO
"Para voltar a nossos coches, direi que desconheciam no Novo Mundo. Em lugar de carros, havia homens que carregavam os viajantes nos ombros. No dia em que o aprisonaram, o rei do Peru fazia-se assim transportar, sobre um assento de ouro, durante o combate. Queriam-no vivo os espanhóis, mas à proporção que matavam os carregadores, outros surgiam para substituir os mortos e o soberano só foi detido afinal quando um cavaleiro o derrubou por terra."
LIVRO: Coleção: OS PENSADORES // Volume: Michel de Montaigne // Livro: ENSAIOS I // Editora: Abril Cultural // São Paulo: 1972, 1a. edição

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

A PROSA ELEGANTE DE FLAUBERT


QUEM?
Gustave Flaubert, (1821-1880) Brilhante e renomado escritor francês.

COMENTÁRIO
Flaubert era daqueles escritores terríveis, no bom sentido, é lógico. Gênio da literatura universal, escreveu trabalhos lendários como Madame Bovary e a Educação Sentimental, e detinha um estilo único e marcante muito admirado através dos tempos por quem gosta de boa literatura. A citação escolhida advém do livro Três Contos.

CITAÇÃO
"O ar estava pesado, as estrêlas brilhavam, a enorme carroça de feno oscilava diante deles; e os quatro cavalos arrastavam as patas, levantavam poeira. Depois, sem precisar de ordens, dobraram à direita. Ele a abraçou mais uma vez. Ela desapareceu no escuro." (pag18)

LIVRO: TRÊS CONTOS // AUTOR: GUSTAVE FLAUBERT // EDITORA: COSACNAIFY // 2004

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

O GENTIL ESCRITURÁRIO DE MELVILLE

QUEM?
Herman Melville (1819-1891) Notório escritor norte-americano que, entre outras coisas, marinheiro que era, escreveu sobre as aventuras dos mares do mundo com grande talento.

COMENTÁRIO
Bartleby, O Escriturário é um personagem destes inesquecíveis. Faz lembrar alguns
japoneses menos privilegiados que dormem em gavetas por não terem condições financeiras de voltarem diariamente para casa. Com sua simplicidade e delicadeza marcantes, na belíssima construção dramática de Melville - criador da imortal baleia Moby Dick, e suas aventuras - vive-se o dilema de um patrão que se vê às voltas com um escriturário excêntrico, sistemático e miserável, que irá levá-lo às raias da loucura. Uma obra prima da literatura universal de todos os tempos. Humano, engraçado, triste, cômico, trágico, mágico, genial: Melville! Com os comprimentos do Editor Escriba.

CITAÇÃO
"Depois de examinar detidamente o local, conjecturei que já devia haver algum tempo que Bartleby comia, se vestia e dormia no meu escritório, e tudo isto sem prato, espelho ou cama. O assento estofado de um velho e desconjuntado sofá a um canto mostrava ainda a vaga marca do corpo raquítico que ali estivera deitado. Sob a sua escrivaninha encontrei um cobertor enrolado; sobre a grelha vazia da lareira, uma lata de graxa e uma escova; numa cadeira, uma bacia de alumínio, sabão e uma toalha esfarrapada; num jornal, algumas migalhas de bolinhos de gengibre e um pedaço de queijo. Sim, pensei, é evidente que Bartleby fez daqui a sua casa, o seu quarto de celibatário. Senti imediatamente o drama: que miserável desamparo, que solidão ali se revelavam!"

LIVRO: Bartleby, O Escriturário // AUTOR: Herman Melville // EDITORA: ROCCO // 1986

O CAPOTE DE GOGOL


QUEM?
Nicolau Gogol (1809-1852), brilhante escritor ucraniano.
*
COMENTÁRIO
Na Rússia de Gogol, vemos um povo de alma bela, forte e nobre, submetido às mais duras provações possíveis de se imaginar, onde muitas vezes o orgulho patriótico se mistura e se funde à submissão subserviente exacerbada e sem limites - algo parecido com a realeza britânica, com sua necessidade compulsiva por um herdeiro homem para o trono, um falo a que se cultuar - hábito antiquíssimo que remonta a própria história do homem na Terra - muito praticado em diversas culturas, originado da necessidade básica que afligiu os povos do Mundo em diferentes épocas - que é poder unir todo um povo, toda uma nação, sob uma única égide, um único soberano, especialmente, em territórios muito vastos e desunidos, em reinos muito extensos, como era o caso da Rússia do século XIX. A citação escolhida foi compilada do magnífico e imortal Conto de Nicolau Gogol "O Capote", e gira em torno da miserável situação social do povo russo à época, retratando com sabedoria e brilhantismo a burocracia vigente nas hierarquias governamentais, e o pseudo poder gozado pelos chefetes da vez, em contraste com a dura realidade das coisas simples e importantes da vida cotidiana, no caso aqui: um cidadão comum em meio a tantos outros, o frio extremo da mãe Rússia e um casaco, ou melhor, um capote, como se diz por lá em terras asiáticas. Literatura de altíssimo nível com recomendação especial deste humilde Editor. É só conferir e se deleitar!
*
CITAÇÃO
"O espírito de imitação infectou fortemente nossa santa Rússia, cada um quer bancar o chefe e imitar alguém maior: certo conselheiro titular chamado a dirigir uma repartição sem importância apressou-se, dizem, a arrumar, com ajuda de uma divisória, uma espécie de quarto, pomposamente chamado de 'gabinete do diretor'; porteiros de colarinho vermelho e galões em todas as costuras abriam a quem chegasse a porta de seu antro, onde mal cabia uma modestíssima mesa. Nosso personagem importante afetava um ar nobre e maneiras altivas. Seu sistema, dos mais simples, baseava-se unicamente na severidade. - Severidade, mais severidade, sempre severidade! , repetia ele sem cessar fulminando seu interlocutor com um olhar significativo ainda que supérfluo; os dez ou doze empregados que tinha sob suas ordens estavam cheios de respeito e de temor salutar: assim que eles o viam chegar, abandonavam suas ocupações e esperavam, estáticos em posição de sentido, que ele se dignasse atravessar o escritório. Se ele dirigisse a palavra a um inferior seu, era sempre num tom áspero, e para o mais das vezes uma das três perguntas seguintes: - Onde adquiriu essa arrogância? Sabe com quem está falando? Sabe diante de quem você está?

Era, no entanto, um homem bom, muito prestativo, e ainda havia pouco de um trato agradável com seus amigos; mas o título de Excelência lhe havia virado a cabeça. Assim que obteve este título, seu espírito se perdeu, e ele perdeu todo controle sobre si mesmo. Com seus iguais, conduzia-se ainda como um homem bem educado, nada burro sob muitos aspectos; mas, se porventura se misturassem à sua companhia pessoas inferiores, ainda que apenas de um grau abaixo da categoria que ele ocupava na hierarquia, ele se tornava de imediato insuportável, esquecia toda polidez e não dizia palavra. Isso não o empedia de se dar conta de que poderia ter passado o tempo de uma maneira muito mais agradável." (pag33)
*
LIVRO: CONTOS RUSSOS ETERNOS // AUTOR: NICOLAU GOGOL // EDITORA BOM TEXTO // RIO DE JANEIRO // 2004.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

MÉRIMÉE NÃO ERA UM IMBECIL


QUEM?
Prosper Mérimée (1803-1870), dramaturgo, contista, historiador e arqueologista francês.
COMENTÁRIO
Prosper Mérimée nasceu bem: filho de artistas abastados, viveu e recebeu a nobre cultura européia no seio de sua própria família, encarando com naturalidade o refinamento das artes e das altas rodas da nobreza, ou seja, tinha tudo para ser uma besta quadrada, como dizia meu avô: um imbecil. Mas não o era, pelo contrário, escrevia com competência e arte, e soube descrever com precisão e bom gosto, os meandros deste mundo rico e privilegiado, com todas as suas indubtáveis hipocrisias inerentes mas, igualmente, carregado de espirito e bom gosto inegáveis. A citação escolhida aqui advem do inspirado conto "Il Viccolo di Madama Lucrezia", e remonta uma cituação notável pela qual todos nós já passamos alguma vez, onde um grupo de pessoas afins se juntam ao acaso do destino para contarem estórias sobrenaturais, e o torpor interessante que tais situações instigam. Literatura fina.
CITAÇÃO
"Iniciado o capítulo dos histórias sobrenaturais, não há nada que interrompa. Cada um de nós tinha um caso para conter. Também participei do cocerto daquelas narrativas terrificantes; de maneira que, quando nos separamos, estávamos todos passavelmente emocionados e cheios de respeito para com os poderes do diabo."

LIVRO: "HISTÓRIAS IMPARCIAIS" // AUTOR: PROSPER MÉRIMÉE // EDITORA CULTRIX // RIO DE JANEIRO // MCMLIX

domingo, 18 de janeiro de 2009

A CIGANA CARMEM DE MÉRIMÉE


QUEM?
Prosper Mérimée (1803-1870), dramaturgo, contista, historiador e arqueologista francês.
COMETÁRIO
No interessante Conto Carmem, o viajante Mérimée realiza um esquadrinhamento da cultura nômade espanhola e europeia, fazendo um um raio X detalhado dos hábitos dos ciganos, seus costumes e suas longíncuas origens. Um dramática História de amor, morte e paixão arrebatadora.
CITAÇÃO
"Não obstante a miséria em que vivem, e a espécie de aversão que inspiram, os ciganos gozam de certa consideração entre pessoas pouco esclarecidas, e disso muito se envaidecem. Sentem que pertecem a uma raça superior pela inteligência, e desprezam cordialmente o povo que os acolhe." (pag124)


LIVRO: "HISTÓRIAS IMPARCIAIS" // AUTOR: PROSPER MÉRIMÉE // EDITORA CULTRIX // RIO DE JANEIRO // MCMLIX

sábado, 17 de janeiro de 2009

A HISTÓRIA DE UM CAVALO POR LEÃO TOLSTÓI

QUEM?
Leão Tolstói (1828-1910) ou, simplesmente, Лев Николаевич Толстой - eminente escritor russo.
COMENTÁRIO
Alguns críticos, talvez por não terem o que dizer de concreto sobre a literatura da mãe Rússia e seus inumeráveis talentos, arriscam dizer sobre algum escritor aqui e ali, independentemente de sua nacionalidade, fazendo menção a uma certa maneira de explorar as misérias do dia-a-dia, dizendo que estes são 'russos demais'. Puro despeito, pois seus verdadeiros expoentes, como é o caso de Tolstói , Gorki, Tchékhov, Dostoiéviski entre muitos outros, são escritores fantásticos, que souberam escrever muito bem sobre as mazelas e qualidades de sua Pátria e de seu povo. A citação escolhida aqui, vem de um conto interessantíssimo, onde o Mestre conta toda a história do ponto de vista subjetivo do personagem principal: Kholstomér; um cavalo muito simpático. Muito triste e emocionante, ainda assim, uma belíssima história que valoriza de forma brilhante a vida animal de uma maneira geral e que, com certeza, comoverá o leitor, assim como comoveu este dedicado Editor. Da Redação.
CITAÇÃO
"Quando dei a volta da vitória, a multidão me seguiu. E umas cinco pessoas ofereceram milhares de rublos ao príncipe. Ele apenas riu, mostrando os dentes brancos.
- Não, disse ele - ele não é um cavalo, é um amigo, e eu não o vendo nem por uma montanha de ouro. Até a vista, senhores - e acomodou-se no assento. - Para Stojinka. - Era o apartamento de sua amante. E nós voamos para lá. Foi nosso último dia feliz. Chegamos á casa dela. Ele dizia que ela era dele. Mas ela se apaixonou por outro e o deixou. Ele soube disso lá, no apartamento. Eram cinco horas e ele foi atrás dela sem me desatrelar. Coisa que nunca tinha acontecido: açoitaram-me com o chicote e me fizeram galopar. Pela primeira vez perdi o passo, fiquei com vergonha e quis acertar, mas, de repente, ouvi o príncepi gritar feito possesso: "Anda!". Fustigou-me com o chicote, senti a pontada e saí a galope batendoas patas no jogo dianteiro do coche. Nós a alcançamos vinte e cinco verstas adiante. Eu o levei até lá, mas passei a noite toda tremendo, nem comer eu consegui. De manhã deram-me água. Bebi, mas para o resto da vida deixei de ser o cavalo que era. Fiquei doente, atormentaram-me e me mutilaram - curaram-me, como dizem os homens. Meus cascos se soltaram, meu peito sumiu, a fraqueza e o abatimento tomaram conta de mim. Venderam-me a um negociante de cavalos."
LIVRO: O DIABO E OUTRAS HISTÓRIAS // AUTOR: LEÃO TOLSTÓI // EDITORA: COSACNAIFY // SÃO PAULO // 2000/2005.


sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

VOLTAIRE CÍNICO E INTELIGENTE

QUEM?
François-Marie Arouet (1694-1778), pseudônimo Voltaire, escritor ensaísta e filósofo francês.

COMENTÁRIO
Comentar e resenhar o Dicionário Filosófico de Voltaire é tarefa árdua pois tudo, ou quase tudo, ali escrito em forma de Ensaio, é muito bom, e assim, seria preciso citar a obra toda. E foi mais ou menos isto que acabei fazendo, pois este admiravel livro é recheado de pérolas do pensamento e por jóias da filosofia que merecem ser lidas e revisitadas. A citação escolhida aqui faz referência a esta força misteriosa presente em todas as coisa e lugares, que uns chamam de Natureza e outros chamam de Deus.

CITAÇÃO
"Admiramo-nos do pensamento; mas o sentimento é igualmente maravilhoso. Um poder divino lampeja na sensação do último dos insetos como no cérebro de Newton." (pag287)

Livro: DICIONÁRIO FILOSÓFICO // Autor: VOLTAIRE (1694-1778) // Editora: ATENA, SÃO PAULO, 1959
Imagem: Encontrada em... http://www.nndb.com/people/556/000024484

A PESTE DE CAMUS

QUEM?
Albert Camus (1913-1960), escritor e filósofo argelino-francês.

CITAÇÃO
"Desde que entrara para as brigadas sanitárias, Paneloux não abandonara os hospitais e os lugares onde se encontrava a peste. Tinha-se colocado, entre os salvadores, na posição que lhe parecia ser a sua. Quer dizer, no primeiro posto. Não lhe tinham faltado os espetáculos da morte. E embora, em princípio, estivesse protegido pelo soro, a preocupação com a sua própria morte não lhe era estranha. Aparentemente, mantivera sempre a calma. No entanto, a partir do dia em que vira longamente uma criança morrer, pareceu modificar-se." (pag193)

COMENTÁRIO
Em plena guerra, Mestre Camus escreve "A Peste". Era o artista tentando sobreviver e tirar alguma sabedoria e proveito desta empreita, indubitavelmente maléfica. Genial! Leitura obrigatória para quem ama literatura e filosofia.

LIVRO: "A PESTE" // AUTOR: ALBERT CAMUS // EDITORA RECORD // RJ/SP // 2004 // 15a. EDIÇÃO
Imagem: Encontrada em... http://www.consciencia.org/bancodeimagens/displayimage-lastcom-0-534.html

TAMANGO DE MÉRIMÉE


QUEM?
Prosper Mérimée (1803-1870), dramaturgo, contista, historiador e arqueologista francês.

COMENTÁRIO
Cena: Uma rebelião num barco negreiro no famigerado tempo das grandes navegações, e suas intermináveis atrocidades. Ação: Carnificina e vingança inter-racial. Drama: Uma nave desgovernada. Contexto: À bordo, homens desesperados e ignorantes das leis náuticas da navegação, perdidos em alto mar. Tudo isto, toda esta mistura de elementos instigantes, forma o ambiente perfeito para uma bela trama, com desfecho mais surpreendente ainda. Literatura clássica de altíssima qualidade, de um grande Mestre do Conto; é só ler e conferir! Da Redação Escriba.

CITAÇÃO
"Quando o cadáver do último branco, retalhado e cortado em pedaços, foi atirado ao mar, os negros, saciados de vingança, ergueram os olhos para as velas do navio que, enfunadas por um vento fresco, pareciam continuar a obedecer aos seus opressores e conduzir os vencedores, malgrado a vitória obtida, à terra da escravidão." (pags44-45)

"Tamango examinou demoradamente a bússola, mexendo os lábios, como se lesse os caracteres nela traçados; depois, levou a mão à testa e assumiu a atitude refletida de quem faz um cálculo mental. Os negros rodeavam-no, boca escarnada, olhos desmesuradamente abertos, acompanhando com ansiedade seus mínimos gestos. Finalmente, com a mistura de temor e de confiança que resulta da ignorância, imprimiu um movimento à roda do leme. A manobra inaudita fez o belo brigue Esperança saltar sobre as ondas como um fogoso corcel que se empina sob a espora de um cavaleiro imprudente. Dir-se-ia que, indignado, queria mergulhar, levando consigo o piloto ignorante."

LIVRO: "HISTÓRIAS IMPARCIAIS" // AUTOR: PROSPER MÉRIMÉE // EDITORA CULTRIX // RIO DE JANEIRO // MCMLIX
Imagem: Encontrada em... http://en.wikipedia.org/wiki/Prosper_M%C3%A9rim%C3%A9e

PROSPER MÉRIMÉE


QUEM?
Prosper Mérimée (1803-1870), dramaturgo, contista, historiador e arqueologista francês.
CITAÇÃO
"Então, priminho, queres este relógio? Fortunato, que olhava o relógio com o canto dos olhos, assemelhava-se a um gato a quem acenassem com um frango inteiro. Sentindo que escarnecem dele, não ousa erguer a pata e, de quando em quando, desvia os olhos para não sucumbir à tentação; mas lambe os beiços, continuamente, e parece dizer ao seu dono: - Que brincadeira cruel!" (pag23)
COMENTÁRIO
No belíssimo conto "Mateo Falcone", que abre o livro coletânea Histórias Imparciais, temos esta passagem de extrema tensão, onde um garoto pobre de apenas dez anos tenta resistir à tentação de aceitar o subordo oferecido - um relógio - para em troca revelar um possível acoitamento de um foragido da polícia que ali o interrogava. Mestre Mérimée usa de seu estilo elegante e, através de alegorias interessantes, faz-nos entender plenamente o que queria comunicar, e o faz com clareza e bem humorado êxito.
LIVRO: "HISTÓRIAS IMPARCIAIS" // AUTOR: PROSPER MÉRIMÉE // EDITORA CULTRIX // RIO DE JANEIRO // MCMLIX

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

O ESTRANGEIRO CAMUS

QUEM?
Albert Camus (1913-1960), escritor e filósofo argelino-francês.

COMENTÁRIO
Escrever é, sem sombra de dúvida, uma paixão. Para constatá-la, em espécie, basta ler um senhor argelino chamado Albert Camus, membro honrário da confraria restritíssima de escritores filósofos; diga-se de passagem, praticamente extinta. Sua pena deitava-se sem nenhuma piedade sobre os escritos do Absurdo. Absurdo que é estar vivo neste mundo de contradições e de belezas raríssimas. Ainda assim, para ser um escritor, não basta ter uma 'causa', ou tema 'principal' e ser apaixonado, é preciso também ter um senso muito preciso do que se quer comunicar em expressão artísticas, no caso aqui, através das Letras. O tal "Estrangeiro" é o próprio personagem, que, com toda certeza, reflete também a alma irriquieta do autor que, em sua busca por respostas, acaba, perplexo, diante de novas questões irrespondíveis, e do absurdo que é a frágil existência humana; se revoltando afinal. E, para um escritor, até mesmo a revolta filosófica apaixonada é superada por uma virtude insubistituível: a genialidade. O livro em questão é simplesmente espetacular, e especialmente recomendado para os rebeldes, artistas, alternativos, eruditos, loucos, gênios, diferentes, enfim, para todo mundo que acredite ser um extrangeiro em sua própria vida, e neste Mundo Louco que nos cerca a todos. Da Redação.


CITAÇÃO
"O advogado colocou a mão sobre meu pulso. Eu já não conseguia pensar. Mas o presidente perguntou se eu não tinha algo a declarar. Refleti. Respondi "não". Foi então que me levaram." (pag111)


LIVRO: "O ESTRANGEIRO" // AUTOR: ALBERT CAMUS // EDITORA: RECORD // RIO DE JANEIRO // 2005 26a EDIÇÃO // *****
Imagem: Encontrada em... http://ymy.blogs.sapo.pt/tag/albert+camus

MORTE FELIZ

QUEM?
Albert Camus (1913-1960), escritor e filósofo argelino-francês.

CITAÇÃO

"Mas o tempo nada tinha a ver com isso. Ele não é mais que um obstáculo e o irmão interior que gerara dentro de si, pouco importava que tivesse dois ou vinte anos. A felicidade era que ele tivesse existido." (pag138)


COMENTÁRIO
Em "Morte Feliz", Camus aborda com grande habilidade através de seus personagens a questão da vida e da morte, e todas as inespugnáveis contingências existenciais que assolam o coração dos que ousam se perguntar: Por que?

LIVRO: "MORTE FELIZ" // AUTOR: ALBERT CAMUS // EDITORA: RECORD // RIO DE JANEIRO // 2005 5a EDIÇÃO

Imagem: Encontrada em... http://void.weblog.com.pt/arquivo/097832.html

SARTRE POR CAMUS

QUEM?
Albert Camus (1913-1960), escritor e filósofo argelino-francês.

CITAÇÃO
"Há em Sartre um certo gosto pela impotência, no sentido pleno e no sentido fisiológico, que o leva a adotar personagens que chegam aos confins de si mesmos e que se chocam com o absurdo que não conseguem superar. Tropeçam em sua própria vida e, se ouso dizê-lo, por excesso de liberdade. Estes seres ficam sem amarras, sem princípios, sem fio de Ariadne, livres a ponto de ficarem desagregados, surdos aos apelos da ação ou da criação. Um único problema os preocupa e eles não o definiram. Daí, o prodigioso interesse das narrativas de Sartre e, ao mesmo tempo, sua maestria profunda."(pag138)

COMENTÁRIO
Esta dupla de peso da literatura francesa deu o que falar em sua época. Eram amigos e críticos ferrenhos um do trabalho do outro, independentemente da mútua admiração que nutriam. Esta citação é notável pois retratra um momento literário interessantíssimo onde, em grande estilo, como era de se esperar de Camus que, criticando o clássico livro "O Muro" de Jean-Paul Sartre, deixa todos os leitores no ar com relação às suas veradeiras intensões, como admirável criticador. Notemos que é dúbio o sentido da resenha e, no final, depois de arrasar e elogiar a referida obra e seus personagens em um mesmo parágrafo, torna impossível ao leitor saber ao certo se ele está falando bem ou mal da obra e do autor. Requintes de Albert Camus. A Editora Escriba indica este livro de Camus, pois é composto de belíssimas resenhas literárias publicadas em jornais de França, através das quais pode-se conhecer mais sobre grandes autores admirados por Camus e que lhe enfluenciaram como: Wilde, Melville, Gide, Grenier, Guilloux, Sartre entre outros. Livro bom para achar novos livros bons.

LIVRO: "A INTELIGÊNCIA E O CADAFALSO // AUTOR: ALBERT CAMUS // EDITORA: RECORD // 2002 2a EDIÇÃO
Imagem: Encontrada em... http://www.revistaogrito.com/page/08/02/2008/camus-e-sartre-o-fim-de-uma-amizade-no-pos-guerra

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

A SABEDORIA DE BRILLAT SAVARIN


QUEM?
Jean Anthelme Brillat-Savarin (1755-1826), advogado e político francês que ganhou fama como grastrônomo e epicurista.

CITAÇÃO
"Olhando de perto vemos que os elementos de que são feitos nossos prazeres são a dificuldade, a privação, o desejo e o gozo. Tudo isso encontrava-se no ato que rompia a abstinência. Eu vi dois dos meus tios-avós, pessoas sérias e sisudas, pasmarem de prazer no momento em que, no dia da Pascoa, viam cortar o primeiro pedaço de um presunto ou abrir um patê. Atualmente, raça degenerada que somos, não seríamos capazes de arrostar tamanhas sensações." (pag234)

COMENTÁRIO
Quem é do ramo sabe do que se trata. Quem não é, pode, pelo menos, imaginar o que isto significa: partir numa data especial um presunto curtido longamente sobre o fogão de lenha no interior da frança, ou mesmo, abrir um patê de champanhe abrigado gentilmente durante meio ano num daqueles porões ou adegas impenetráveis à luz, frios e sem variações térmicas. Vale notar aqui que todo hábito gastronômico e alimentar está intimamente ligado à Cultura de seu povo e de seu País de orígem. Tem tudo a ver com as necessidades e costumes locais, com as safras, com as estações do ano e até com o girar das estrêlas no céu, salpicando de luz o firmamento infinito. Mestre Brillat, elegante, como sempre, e sua sábia sensibilidade refinadíssima. Puro deleite para os sentidos.

LIVRO: "A FISIOLOGIA DO GOSTO" // AUTOR: BRILLAT SAVARIN // EDITORA: SALAMANDRA RIO DE JANEIRO, 1989. // PRIMEIRA EDIÇÃO: 1848

Imagem: Encontrada em... http://www.weinschloesschen-freiburg.de/WS

FISIOLOGIA DO GOSTO DE BRILLAT SAVARIN


QUEM?
Jean Anthelme Brillat-Savarin (1755-1826), advogado e político francês que ganhou fama como grastrônomo e epicuristista.

COMENTÁRIO
Para quem ama literatura e gastronomia, livros e cozinhas - duas paixões que, quando sucedem, arrebatam os corações incautos - têm que, indubitavelmente, ler o Nobre Senhor Brillat Savarin. Em seu clássico antológico, A Fisiologia do Gosto, ele retrata com sabedoria as origens francesas da gastronomia e dos grandes refinamentos culinários de almoços, jantares, festas e banquetes onde, invariavelmente, ia-se para comer e beber, além de conviver e celebrar a existência em si. O brilhante autor em questão é extremamente culto e dotado de um bom gosto agudo, além de possuir prosa de boa qualidade regada a vinho, degustações e bom humor. Estamos falando de uma ilustre figura que viveu lá nos idos do século 18, tendo nascido em 1755 e vindo a falecer em 1826, deixando para a posteridade toda a sua sensível percepção dos requintes da boa mesa e os seus preciosos estudos gastronômicos relativos à fisiologia e à riquíssima cultura de sua época. Escrito por Brillat Savarin em forma de Ensaios, a exemplo de Plutarco, Montaigne e Voltaire, seus predecessores, a digníssima obra em questão se apresentará leve e agradável aos olhos do leitor que se interessa pelos temas supracitados. Livro de cabeceira de chefs Mundo afora, é indicação ESCRIBA do mês de Janeiro de 2009 para os amantes da boa mesa e da boa leitura. Em específico, nesta citação escolhida, o Mestre gourmet francês, que mistura com habilidade Letras e Gastronomia, disserta irônica e graçiosamente sobre os apetites humanos para as bebidas alcoólicas e afins. Boas leituras e Saúde a todos!

CITAÇÃO
"Seja como for, esta sede de uma espécie de líquido que a natureza guardara escondida, este apetite extraordinário que age sobre todas as raças humanas, em todos os climas e temperaturas, são bem dignos de prender a atenção do observador filósofo. Pensei, como todos, e fiquei tentado a colocar o apetite pelos licores fermentados, desconhecido pelos animais, ao lado da peocupação com o futuro, que também desconhecem, e considerar ambos como os atributos diferenciadores da obra-prima da última revolução sublunar." (pag128)

LIVRO: "A FISIOLOGIA DO GOSTO" // AUTOR: BRILLAT SAVARIN // EDITORA: SALAMANDRA RIO DE JANEIRO, 1989. // PRIMEIRA EDIÇÃO: 1848.
Imagem: Encontrada em... http://www.vigneron-champagne.com/index.php/2005/08/20/8-reims-brillat-savarin

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

INTUINDO A NATUREZA DE DEUS

CITAÇÃO
"Quanto ao politeísmo, o bom senso vos dirá que, desde que existiram homens, isto é, frágeis animais capazes de razão e de loucura, sujeitos a todos os acidentes, à doença e à morte, esses homens sentiram a sua fraqueza e a sua depedência; reconheceram facilmente a existência de alguma cousa mais forte do que eles; sentiram uma força na terra que fornece seus alimentos, uma no ar que os destrói com frequência, uma no fogo que consome e na água que submerge. Que mais natural, em homens ignorantes, que o imaginar seres que presidissem a esses elementos? Que mais natural que venerar a força invisível que fazia luzir diante dos olhos o Sol e as estrelas? E, desde que se desejou formar uma idéia dessas forças superiores ao homem, que mais natural ainda que o figurá-las de uma maneira sensível? Poderia ser de outra forma? (pag187)
*
COMENTÁRIO
Mestre François-Marie Aroet, vulgo Voltaire, nasceu em Paris em 1694 e morreu em 1778. Teve uma vida intensa e deixou uma obra literária belíssima. Este maravilhoso escritor e filósofo francês conhecia profundamente a hipocrisia humana. Sabia que ser humano é, necessariamente, ser falível e frágil, material e mortal; susceptível às lufadas de vento do destino, o qual geralmente nos leva a seu bel prazer. Sabia que o tempo, em seu infinito poder de mudança, varreria suas sábias palavras sobre a concepções de Deuses alheios a nós mesmos, e sabia também que a poeira dos dias cobriria até memsmo a própria hipocrisia humana que nos cobre hoje e, em tom de chacota, escreve em grande estilo literário, falando de coisas seríssimas devem interessar a qualquer ser pensante neste Mundo Louco de Meu Deus: Voltaire!
*
Livro: DICIONÁRIO FILOSÓFICO // Autor: VOLTAIRE // Editora: ATENA, SÃO PAULO, 1959

VOLTAIRE IMORTAL

QUEM?
François-Marie Arouet (1694-1778), pseudônimo Voltaire, escritor ensaísta e filósofo francês.

CITAÇÃO
"Não há muito um piedoso hunguenote pregou e escreveu que um dia os pecadores teriam sua mercê, que cumpria haver proporção entre pecado e suplício, e que a falta de um momento não merecer castigo infinito. Os padres seus confrades depuseram este juiz indulgente. Disse-lhe um deles: - Meu caro, não creio no inferno mais do que você. Mas é bom que o creiam a sua criada, o seu alfaiate e também o seu procurador." (pag200)



COMENTÁRIO
O erudito Mestre, como sempre, manda ver com sua 'pena nervosa' de escriba habilidoso que é, e senta o 'pau' em cima, seja lá quem for a vítima da vez. Sim, porque Voltaire é mordaz e preciso, elegante e sinuoso, e sempre bem humorado, o que é uma virtude admirável. Mas seu humor generoso nunca excede seu bom senso rigoroso e, assim, poderíamos dizer que, o Cara não poupava ninguém. Nem nada, mesmo que assunto fosse a espinhosa questão das idelogias religiosas, e sua infindáveis pinimbas. Assim como Montaigne e J. J. Rosseau, Voltaire faz repetidas menções aos servos, estes fiéis companheiros 'indispensáveis', independentemente de guerras, viagens, expedições, passeios, compras etc. Um abraço da Redação Escriba.

Livro: DICIONÁRIO FILOSÓFICO // Autor: VOLTAIRE // Editora: ATENA, SÃO PAULO, 1959

A NOBRE ORDEM DESIGUAL

QUEM?
François-Marie Arouet (1694-1778), pseudônimo Voltaire, escritor ensaísta e filósofo francês.

CITAÇÃO
"Nos íntimos refolhos do coração todo homem tem direito de crer-se de todo ponto igual aos outros homens. Daí não segue dever o cozinheiro de um cardeal ordenar a seu senhor que lhe faça o jantar; pode todavia dizer:"Sou tão homem como meu amo; nasci como ele chorando; como eu ele morrerá nas mesmas angústias e com as mesmas cerimônias. Temos ambos as mesmas funções aniamis. Se os turcos se apoderarem de Roma e eu virar cardeal e meu senhor cozinheiro, tomá-lo-ei a meu serviço". Tudo isso é razoável e justo. Mas, enquanto o grão-turco não se assenhorear de Roma, o cozinheiro precisa cumprir suas obrigações, ou toda a humanidade se perverteria." (pag196)

COMENTÁRIO
Voltaire, por vezes, dispensa comentários.

Livro: DICIONÁRIO FILOSÓFICO // Autor: VOLTAIRE // Editora: ATENA, SÃO PAULO, 1959
Imagem: Encontrada em... http://nibiryukov.narod.ru/nb_pinacoteca/nbe_pinacoteca_philosophers_v.htm

domingo, 11 de janeiro de 2009

DESIGUALDADE POR VOLTAIRE


QUEM?
François-Marie Arouet (1694-1778), pseudônimo Voltaire, escritor ensaísta e filósofo francês.

CITAÇÃO
"Todos os homens seriam necessáriamente iguais, se não tivessem precisões. A miséria que avassala a nossa espécie subordina o homem ao homem. O verdadeiro mal não é a desigualdade: é a depedência. Pouco importa chamar tal homem Sua Alteza, tal outro Sua Santidade. Duro porém é servir um ao outro!" (pag195)

COMENTÁRIO
O livro "Dicionário Filosófico" é uma verdadeira Jóia da literatura Universal de todos os tempos. Nos dias atuais, do computador e da literatura digital, cada parágrafo do Mestre Voltaire, com toda a certeza, daria um novo post. Difícil é selecionar. Como se diz no popular: Voltaire é tudo de bom!

Livro: DICIONÁRIO FILOSÓFICO // Autor: VOLTAIRE // Editora: ATENA, SÃO PAULO, 1959
Imagem: Encontrada em... http://www.natalia-davey.co.uk/page3.htm

sábado, 10 de janeiro de 2009

DESIGUALDADE E GUERRA POR VOLTAIRE


CITAÇÃO
"Nem todo os oprimidos são absolutamente desgraçados. A maior parte nasce nesse estado, e o trabalho contínuo impede-os de sentir toda a miséria da própria situação. Quando sentem, porém, são guerras, como a do partido popular contra o partido do senado em Roma, as dos camponeses na Alemanha, Inglaterra, França. Mais cedo ou mais tarde todas essas guerras desfecham com a submissão do povo, porque os poderosos têm dinheiro e o dinheiro tudo pode no Estado." (pag195)
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COMENTÁRIO
Quando a miséria da guerra se abate sobre um povo, mais uma vez, os que têm mais condição financeira conseguem obter mais alento do que os pobres miseráveis da vala comum, os gentios como se dizia à época de Voltaire. Isto vale para Gaza, para a Inglaterra, para Roma, para o Iraque, para a Rússia e para qualquer Nação que tenha o infortúnio de submergir e submeter seu povo, geralmente inocente, em um conflito armado seja lá pelo motivo que for. As barbáries da guerra são tão tremendas que é extremamente necessário o completo isolamento do local específico do combate, como se está fazendo nesta famigerada guerra de Israel contra a Palestina, para evitar jornalistas, pois estes, com suas indiscrições inconvenientes, poderiam atrapalhar a diabólica empreita da batalha e sua perpetuação, com suas reportagens excessivamente reais de corpos mutilados e espedaçados, famílias e cidades destruídas, e ódios difundidos e disseminados nos corações dos homens, mulheres, velhos e crianças que têm de enfrentar tal tragédia. Em uma só palavra: a guerra é o fim.
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Livro: DICIONÁRIO FILOSÓFICO // Autor: VOLTAIRE // Editora: ATENA, SÃO PAULO, 1959

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

IMAGEM E SIMBOLISMO


CITAÇÃO
"Pode-se, de um bloco de mármore, fazer tão bem um fogão como uma figura de Alexandre ou Júpiter, ou qualquer outra coisa mais respeitável. A matéria de que eram formados os querubins do Santo dos Santos teria podido servir igualmente às funções mais vis. Um trono, um altar, são menos venerados porque um operário poderia ter feito com seu material uma mesa de cozinha?"
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COMENTÁRIO
Voltaire em sua sabedoria sarcástica e inteligente comenta, em tom irônico, a fragilidade do hábito de adorar ídolos e imagens.
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Livro: DICIONÁRIO FILOSÓFICO // Autor: VOLTAIRE // Editora: ATENA, SÃO PAULO, 1959
Imagem: Encontrada em... http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Voltaire_dictionary.jpg

CAMUS IMORTAL


COMENTÁRIO
Quando se escreve como Albert Camus escrevia, tudo fica muito espetacular. Parece redundâcia, mas é pura justiça sendo feita para com a memória saudosa de um Mestre da palavra escrita. Era espetacular e visceral, intenso e profundo ao mesmo tempo, sem nunca perder de vista seu leitor e a plena satisfação deste. Com certeza ele nunca pensou nisso, é óbvio, mas fato é que era exatamente isso que fazia quando escrevia: embalava o leitor em sua cantiga romanesca e revoltosa. Sim! Albert Camus é revolta, mas uma revolta elegante e centrada, intrusíva e escarnecedora. Sua especialidade, por assim dizer, era o homem revoltado e seu universo extremamente rico, e assim ele tratava de descrever o mundo com suas infinitas contradições. Mas, trazia este mundo para dentro da cabeça de seus interessantíssimos personagens - o que, com toda a certeza, era um reflexo direto de seu espírito, dando ao leitor a oportunidade única de 'ressentir' certos conflitos existenciais e existencialistas, próprios de uma época passada que pode e deve ser revisitada. Apesar da manchete tratar da morte do gênio, a citação a seguir trata propositalmente de ambos: vida, na sobrevivência, e morte, no falecimento de um antagonista da trama. Suas criações são tão reais que nos estarrecem; coisa que Camus fazia como ninguém. E ainda faz: basta lê-lo.
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CITAÇÃO
"O gatilho cedeu, toquei o ventre polído da coronha e foi aí, no barulho ao mesmo tempo seco e ensurdecer, que tudo começou. Sacudi o suor e sol. Compreendi que destruíra o equilibrio do dia, o silêncio excepcional de uma pria onde havia sido feliz. Então, atirei quatro vezes ainda num corpo inerte em que as balas se enterravam sem que se desse por isso. E era como se desse quatro batidas secas na porta da desgraça." (pág. 63)
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LIVRO: O ESTRANGEIRO // AUTOR: ALBERT CAMUS // EDITORA: RECORD // RIO DE JANEIRO, 2005, 26a edição.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

O PRIMEIRO HOMEM


CITAÇÃO
"E ele também, talvez mais do que ela, já que havia nascido numa terra sem antepassados e sem memória, em que o aniquilamento daqueles que o tinham precedido tinha sido mais radical ainda e onde a velhice não encontrava nenhum dos recursos da melancolia que encontra nos países civilizados, ele, como uma lâmina solitária e sempre vibrante destina a ser quebrada de um só golpe e para sempre, pura paixão confrontada com uma morte total, sentia hoje a vida, a juventude, as pessoas lhe escaparem, sem poder salvá-las em nada, e abandonado apenas à esperança cega, que esta força obscura que durante tantos anos o sustentara acima dos dias, o alimentara sem medida, sempre a mesma nas mais duras circunstâncias, iria fornecer-lhe também, com a mesma generosidade incansável que mostrara ao lhe dar suas razões para viver, as razões para envelhecer e morrer sem revolta." (pág. 240)
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COMENTÁRIO
Eu, como fanático aficcionado pelo autor, indico este belíssimo livro O Primeiro Homem, onde Mestre Albert Camus mostra toda a sua profundidade literária na busca insessante por suas raízes e pela memória de seu pai morto na primeira Guerra Mundial; e brilhantes são os seus escritos. Depois de ler toda a sua obra - como fiz, e razão pela qual conheci vários outros autores através dele - fica fácil indicá-lo intimamente como leitura obrigatória para quem quer saber das 'coisas'.
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LIVRO: O PRIMEIRO HOMEM // AUTOR: ALBERT CAMUS // EDITORA : NOVA FRONTEIRA // 1994/2005

CAMUS E O ABSURDO EXISTECIAL

COMENTÁRIO
Albert Camus é um escritor simplesmente fantástico. Autor de livros clássicos, como A Peste e O Estrangeiro, verdadeiras pérolas, e de muitos outros incríveis, como O Mito de Sísifo e A Inteligência e o Cadafalso, Camus era membro vitalício de uma extinta estirpe de escritores filósofos que, com suas inexoráveis capacidades criatívas, criaram obras antológicas da literatura mundial de todos os tempos. Antagonizador e contemporâneo de Sartre, era detentor de um estilo único, e escreveu com grande competência sobre a Argélia, sua terra natal. De origem pobre, Camus teve a sorte de encontrar um preceptor espetacular, que o conduziu ao ensino superior. Tendo identificado o jovem talento no ensino fundamental numa escola de periferia, tratou de plantar dentro dele a semente da literatura e do amor pelos livros. A citação que escolhi para este post vem do admirável livro A Queda, e faz referência à relação do personagem da estória em questão com o sexo oposto.
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CITAÇÃO
"Sejamos indulgentes e falemos de infermidade, de uma espécie de incapacidade congênita de ver no amor qualquer coisa mais que o ato. Esta enfermidade, afinal, era confortável. Conjugada com minha faculdade de esquecimento, favorecia minha liberdade. Ao mesmo tempo, por um certo ar de distanciamento e de independência irredutível que me dava, propiciava-me oportunidades para novos êxitos. À força de não ser romântico, eu dava um sólido alimento ao romanesco. As nossas amigas, com efeito, têm isto de comum com Bonaparte, pensam sempre ter êxito no que todo mundo fracassou." (pág. 45)
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LIVRO: "A QUEDA" // AUTOR: ALBERT CAMUS // EDITORA; RECORD // RIO DE JANEIRO, 2002, 12a. edição.
Imagem: Encontrada em... http://aarkangel.wordpress.com/2008/01

O DESTINO DE UM HOMEM


COMENTÁRIO
A literatura é russa algo assim inesgotável. Depois de ler os clássicos, e de uma pesquisa mais minuciosa, podemos descobrir autores - com o perdão da expressão - de segunda grandeza, o que de fato é uma inverdade, já que são tão bons como os primeiros, com seus estilos igualmente marcantes e humanistas, que constroem obras literárias incríveis com seus escritos. Mikhail Sholokhow é prova inconteste disto. Este habilidoso autor russo, prêmio Nobel de 1965, escreveu como ninguèm sobre sua região na enorme Mãe Russia: o Don. Mesmo em meio à desolação miserável das guerras - e todas elas o são - estes homens predestinados - talvez metabolizando com sua arte uma realidade tão aterradora - transformaram em litaratura e proza histórias de pequenas criaturas humanas sem rosto que se degladiam e se esquivam em meio ao caos e ao conflito armado. Da Redação Escriba.

CITAÇÃO
"Dois seres humanos, dois órfãos, dois grãozinhos de areia jogados em terras alheias pela força do furacão da guerra... Que os espera no futuro? E quer-se acreditar que aquele homem russo, de inquebrantável força de vontade, aguentará ainda por muito tempo, e que sob seu ombro paterno deverá crescer aquêle que, depois de grande, tudo suportará, a tudo vencerá em seu caminho, se a Pátria dele precisar." (pag95)

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

GUERRA


CITAÇÃO
"A miséria, a peste e a guerra são os três ingredientes mais famosos deste mundo vil. Podem-se colocar na classe da miséria todas as más alimentações a que a penúria nos força a recorrer para abreviar nossa vida na esperança de a suster. Compreende-se na peste todas as doenças contagiosas, que são em número de dois ou três mil. Esses dois presentes nos vêm da Providência. A guerra, porém, que reúne todos estes dons, nos vem da imaginação de trezentas ou quatrocentas pessoas disseminadas pela superfície do globo sob o nome de príncipes ou ministros; é provavelmente por essa razão que em várias dedicatórias se chamam imagens vivas da Divindade."
"É sem dúvida uma bela arte a de desolar os campos, destruir as casas e fazer morrer, anualmente, quarenta mil homens sobre cem mil."
"O maravilhoso dessa empresa infernal é que cada chefe dos matadores faz benzer suas bandeiras e invoca solenemente a Deus antes de ir exterminar o próximo."
"Que são, que me importa a humanidade, a beneficência, a modéstia, a temperança, a doçura, a sabedoria, a piedade, quando meia libra de chumbo atirada de seiscentos passos me inutiliza o corpo e morro aos vinte anos entre padecimentos inexprimíveis, no meio de cinco ou seis mil agonizantes, enquanto meus olhos que se abrem pela última vez vêem a cidade em que nasci destruída pelo fogo, e pelas chamas, e os derradeiros sons que meu ouvido percebe são gritos de mulheres e de crianças que expiram sob ruínas, tudo pelos pretensos interesses de um homem que não conhecemos?"

COMENTÁRIO
O Mestre, em sua infinita sabedoria, critica com habilidade inigualável os horrores da guerra em toda a sua complexidade maléfica e devastadora. Suas palavras, com certeza, fazem-nos pelo menos imaginar estes horrores, especialmente para nós, seres viventes dos dias atuais, que vemos tudo pela televisão a uma distância segura, protegidos e de bucho cheio, no abrigo de nossos lares. O que nos esquecemos é que enquanto houver guerra no Oriente Médio ou em qualquer outro lugar, haverá guerra no Mundo e, deste modo, todos nós, toda a humanidade, estaremos 'ancorados' nesta energia nefasta de morte e destruição. E, o que é pior: evitável e desnecessária.
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Livro: DICIONÁRIO FILOSÓFICO // Autor: VOLTAIRE // Editora: ATENA, SÃO PAULO, 1959

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

FANATISMO

COMENTÁRIO

Voltaire é mais atual que a própria atualidade. No século XVIII, quando escreveu seu clássico - Dicionário Filosófico - com certeza não imaginava que o mundo, em pleno século XXI, estaria ainda se defrontando com novos e violentos fanáticos que ignoram a vida e os direitos humanos. Nesta citação, com seu estilo literário avassalador, o filósofo francês comenta sobre as loucuras de sua época que poderiam perfeitamente se aplicar aos tristes dias de hoje em que assistimos perplexos a mais uma lamentável guerra.
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CITAÇÃO
"O fanatismo é para a superstição o que o delírio é para a febre, o que é a raiva para a cólera. Aquele que têm êxtases, visões, que considera os sonhos como realidades e as imaginações como profecias é um entusiasta; aquele que alimenta sua loucura com a morte é um fanático."

Livro: DICIONÁRIO FILOSÓFICO // Autor: VOLTAIRE // Editora: ATENA, SÃO PAULO, 1959

sábado, 3 de janeiro de 2009

AINDA SOBRE O DESTINO

CITAÇÃO
"Crê um camponês haver geado em seu campo por acaso. Mas um filósofo sabe que não existe acaso e que era impossível, na constituição deste mundo, que precisamente naquele dia não geasse precisamente naquele lugar. As pessoas que, aterroridas ante esta verdade, só concordam pela metade, como devedores que oferecem metade aos credores e pedem mora para a outra metade. Existem, dizem elas, acontecimentos necessários e acontecimentos não necessários. Engraçado um mundo metade em ordem e metade em desordem! Que parte do que acontece precisava acontecer, outra não. Basta chegar-se-lhe um pouco o nariz para ver como é absurda semelhante teoria. Mas há muitos indivíduos que nasceram para raciocinar mal, outros para não raciocinar e outros para perseguir os que raciocinam." (pag.141)
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COMENTÁRIO
Simplesmente espetacular: Voltaire.
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Livro: DICIONÁRIO FILOSÓFICO // Autor: VOLTAIRE // Editora: ATENA, SÃO PAULO, 1959

O BOM E VELHO ESTILO DE VOLTAIRE

COMENTÁRIO
Esta citação foi compilada de seu clássico "Dicionário Filosófico". Dissertando sobre o "Destino", o Mestre é cirúrgico e categórico, ferino e bem humorado, crítico mas não chato. Seu estilo de redação é marcante e, em tom de brincadeira, diz verdades que, por motivos diversos, quase sempre são preteridas. Prosa e filosofia misturadas de forma brilhante em tom descontraído no pleno exercício da pena. Saboroso e extremamente inteligente. Voltaire.
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CITAÇÃO
"Não pode o homem ter mais que certo número de dentes, cabelos e idéias. Tempo vem em que inevitavelmente perde os dentes, os cabelos e as idéias. Contraditório seria que ontem não fosse ontem e hoje não fosse hoje. Tão contraditório como se o que há de ser pudesse deixar de sê-lo. Se pudesses torcer o destino de uma môsca, nada te impediria de traçar o destino de todas as outras môscas, de todos os outros animais, de todos os homens, de toda a natureza. Enfim, serias mais poderoso que Deus." (pag.139)
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Livro: DICIONÁRIO FILOSÓFICO // Autor: VOLTAIRE // Editora: ATENA, SÃO PAULO, 1959

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

CANIBAIS


COMENTÁRIO
Que os povos 'bárbaros', trazidos à Europa da recente descoberta de terras ultramarinas, comessem uns aos outros em seus rituais tribais, tudo bem. Mas daí a andarem nus pela corte já é outra conversa! O Mestre Montaigne dedica várias páginas sobre os canibais e conclui, com muito bom humor, ressaltando o choque cultural e o fato de tais índios andarem por aí assim como foram feitos pela própria Natureza.

CITAÇÃO
"Conversei longamente com um deles, mas meu intérprete compreendia tão mal e se mostrava tão embaraçado com as perguntas que, graças à sua estupidez, não pude obter algo mais sério de meu interlocutor. Tendo-lhe perguntado de onde provinha sua ascendência sobre os seus (era um chefe e nossos marinheiros o tratavam como um rei), respondeu-me que tinha o privilégio de marchar à frente dos outros quando iam para a guerra. À minha pergunta: quantos homens o acompanhavam? Mostrou um terreno como para dizer: o que cabia naquele espaço, cerca de 5 mil homens. Indagadei ainda se nas épocas de paz ele conservava alguma autoridade, e disse-me: "Quando visito as aldeias que dependem de mim, abrem-me caminhos no mato para que eu possa passar sem incômodo." Tudo isso é, em verdade, interessante, mas, que diabo, essa gente não usa calças!" (pág. 109)

Coleção: OS PENSADORES // Volume: Michel de Montaigne // Livro: ENSAIOS I // Editora: Abril Cultural // São Paulo: 1972, 1a. edição
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