sábado, 18 de setembro de 2010

A ILUSÃO DE LIBERDADE DOS SUJEITOS ECONÔMICOS NA SOCIEDADE BURGUESA

QUEM?
Max Horkheimer (1895/1973). Filósofo e sociólogo alemão.
*
COMENTÁRIO
Teorizar sobre a teoria é tarefa hercúlea. Própria às cabeças privilegiadas e aos espíritos não resignados quanto às incertezas do mundo factual a seu redor, e que se lançam à inprovável aventura de conhecer o mundo na tentativa de representá-lo metafisicamente através de aproximações o mais exatas possíveis. Trata-se de captar, catalogar e ordenar os fatos de modo que estes possam ser acessados por qualquer um que domine os signos empregados nas abstrações com o máximo de objetividade. Teoria Tradicional e Teoria Crítica é um texto de Horkheimer dedicado a isso: a elucidar a complexa dinâmica dessas representações.
*
CITAÇÃO
"Nem a estrutura da produção industrial e agrária nem a separação entre funções diretoras e funções executivas, entre serviços e trabalhos, entre atividade intelectual e atividade manual, constituem relações eternas ou naturais, pelo contrário, estas relações emergem do modo de produção em formas determinadas de sociedade. A aparente autonomia nos processos de trabalho, cujo decorrer se pensa provir de uma essência interior a seu objeto, corresponde à ilusão de liberdade dos sujeitos econômicos na sociedade burguesa. Mesmo nos cálculos mais complicados, eles sãoexpoentes do mecanismo social invisível, embora creiam agir segundo suas decisões individuais." (pág.131)
*
LIVRO: Textos Escolhidos // AUTORES: Max Horkheimer // Título: Teoria Tradicional e Teoria Crítica // EDITORA: Abril Cultural // COLEÇÃO: Os Pensadores // São Paulo: 1975 // 1a edição

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

PETER SLOTERDIJK: CARTAS A CAMINHO DE AMIGOS DESCONHECIDOS

QUEM?
Peter Sloterdijk (1947). Filósofo alemão.
*
COMENTÁRIO
Regras para o parque humano é um livro contundente. Logo de cara, quando apresentado num evento na Baviera (1999), gerou uma polêmica fortíssima que se arrasta até os dias atuais, pois o assunto é muito novo e deveras instigante: a criação, manipulação e controle de seres humanos por seres humanos. Seara profunda e escorregadia que se faz importante devido ao exponencial avanço das bionanotecnociências. Certo, um dos pontos nevrálgicos da temática pós-humanismo, já tratada anteriormente aqui neste blog.
*
Nessas brilhantes passagens de clareza flagrante vemos o autor descrever com grande maestria as nuances do trabalho literário dos escritores filósofos que, de um modo ou de outro, fazem suas apostas cegas num possível leitor não-identificado do amanhã, e no próprio futuro como possibilidade imanifesta que repousa serenamente no por-vir - digo - no vir-a-ser.
*
CITAÇÕES
"Faz parte das regras do jogo da cultura escrita que os remetentes não possam antever seus reais destinatários; não obstante, os autores lançam-se à aventura de pôr suas cartas a caminho de amigos não-identificados." (pág.8)
*

"... o remetente desse gênero de cartas de amizade envia seus escritos ao mundo sem conhecer os destinatários - ou, caso os conheça, está consciente de que o envio das cartas os ultrapassa e consegue criar uma multiplicidade indeterminada de oportunidade de estreitar amizades com leitores anônimos muitas vezes ainda nem nascidos." (pág.9)
*
"A escrita não só estabelece uma ponte telecomunicativa entre amigos manifestos vivendo espacialmente distantes um do outro no momento do envio da correspondência, mas também põe em marcha uma operação rumo ao que não está manifesto: ela lança uma sedução ao longe, um actio in distans, no idioma da magia da antiga Europa, com o objetivo de revelar o amigo desconhecido enquanto tal e levá-lo a ingressar no círculo de amigos." (pág.10)
*
LIVRO: Regras para o parque humano // AUTOR: Peter Sloterdijk // EDITORA: Estação Liberdade // São Paulo: 2000

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

HORKHEIMER E ADORNO: A DOMINAÇÃO SOCIAL PELA DIVISÃO DO TRABALHO

QUEM?
Max Horkheimer (1895/1973). Filósofo e sociólogo alemão.
*
Theodor Ludwig Wiesengrund-Adorno (1903/1969). Filósofo, sociólogo, musicólogo e compositor alemão. É um dos expoentes da chamada Escola de Frankfurt.
*
COMENTÁRIO
O Conceito de Iluminismo de Max Horkheimer e Theodor Adorno é um texto antológico. Nele, os autores mostram toda sua competência ao dissertar sobre as dinâmicas deste momento histórico tão importante da humanidade (Iluminismo), e como ele influenciou o mundo que nos cerca e a forma como o compreendemos.
*
Nessa citação escolhida a dedo teremos uma descrição perfeita da estrutura de dominação social que se perpetua na civilização desde que o mundo é mundo, infiltrando-se também no pensamento.
*
Da redação.
*
CITAÇÃO
"A dominação confere maior força e consistência ao todo social no qual se estabelece. A divisão do trabalho, na qual a dominação se desenvolve socialmente, serve á autoconservação do todo dominado. Mas com isso, o todo como tal, a atividade da razão a ele imanente, torna-se execução do particular. A dominação faz frente ao indivíduo a título de geral, de razão na esfera da realidade. O poder de todos os membros da sociedade, que enquanto tais não dispõem de outra saída aberta, soma-se, sempre de novo, pormeio da divisão de trabalho que lheséimposta, para a realiozação justamente do todo, cuja racionalidade assim é por sua vez multiplicada. O que éfeito a todos por poucos, perfaz-se sempre pela subjugação de alguns por muitos: a opressão da sociedade exibe sempre, ao mesmo tempo, os traços da opressão exercida por um coletivo. É essa unidade de coletividade e dominação, e não a imediata generalidade social, a solidariedade, que se sedimenta nas formas dopensamento." (pág.110)
*
LIVRO: Textos Escolhidos // AUTORES: Max Horkheimer e Theodor Adorno // Título: Conceito de Iluminismo // EDITORA: Abril Cultural // COLEÇÃO: Os Pensadores // São Paulo: 1975 // 1a edição

terça-feira, 14 de setembro de 2010

MAX HORKHEIMER E THEODOR ADORNO: O MITO EXPIANDO-SE A SI

QUEM?
Theodor Ludwig Wiesengrund-Adorno (1903/1969). Filósofo, sociólogo, musicólogo e compositor alemão. É um dos expoentes da chamada Escola de Frankfurt, juntamente com Max Horkheimer, Walter Benjamin, Herbert Marcuse, Jürgen Habermas e outros.
*
Max Horkheimer (1895/1973). Filósofo e sociólogo alemão.
*
AFORISMO
"Nos mitos, todo acontecer tem que expiar seu ter acontecido." (pág.103)
*
COMENTÁRIO
Nós, da Editora Escriba, também nos ocuparemos em refletir longamente sobre isso.
*
LIVRO: Textos Escolhidos // AUTORES: Max Horkheimer e Theodor Adorno // Título: Conceito de Iluminismo // EDITORA: Abril Cultural // COLEÇÃO: Os Pensadores // São Paulo: 1975 // 1a edição

PÓS-HUMANO: SERIA ESSE O NOSSO FUTURO?

CITAÇÕES
“A diferença entre o artificial e o natural desapareceu, o natural foi tragado pela esfera do artificial...” (HANS JONAS 2006:44)
*
“Nenhum objeto, nenhum espaço, nenhum corpo é, em si, sagrado; qualquer componente pode entrar em uma relação de interface com qualquer outro desde que se possa construir o padrão e o código apropriados, que sejam capazes de processar sinais por meio de uma linguagem comum.” (DONNA HARAWAY 2009:62)

*
“Uma das características mais notáveis desta nossa era (chamem-na pelo nome que quiserem: a mim, ‘pós-moderna’ não me desagrada) é precisamente a indecente interpenetração, o promíscuo acoplamento, a desavergonhada conjunção entre o humano e a máquina. Em um nível mais abstrato, em um nível ‘mais alto’, essa promiscuidade generalizada traduz-se em uma inextrincável confusão entre ciência e política, entre tecnologia e sociedade, entre natureza e cultura.” (TOMAZ TADEU 2009:11)

*
“...há muitos entusiastas que estão convencidos de que com computadores mais poderosos e novas abordagens à computação, como as redes neurais, estamos no limiar de uma revolução em que computadores mecânicos alcançarão a consciência. Tem havido conferências e discussões sérias na tentativa de definir se seria moral desligar uma máquina como essa se e quando esse avanço ocorrer, e se precisaríamos atribuir direitos a máquinas conscientes.” (FRANCIS FUKUYAMA 2003:174)

*
“Pode uma inteligência criar outra inteligência mais inteligente do que ela própria?” (RAY KURZWEIL 2007:67)

*
“Este fenômeno que Turing
havia previsto: o de que a inteligência das máquinas se tornasse tão penetrante, tão confortável e tão bem integrada à nossa economia baseada em informação que as pessoas sequer conseguiriam se dar conta disso.” (RAY KURZWEIL 2007:108)
*
“A maioria dos aplicativos de rede neural com base em computadores, hoje, simulam seus modelos de neurônios em software.” (RAY KURZWEIL 2007:118)

*
“As ciências da comunicação e a biologia caracterizam-se como construções de objetos tecnonaturais de conhecimento, nas quais a diferença entre máquina e organismo torna-se totalmente borrada; a mente, o corpo e o instrumento mantêm, entre si, uma relação de grande intimidade.” (DONNA HARAWAY 2009:67)


segunda-feira, 13 de setembro de 2010

AFORISMO FREUDIANO

QUEM?
Conceito: Sigmund Freud (1856/1939). Médico neurologista austríaco
judeu pai da psicanálise.

Aforismo: Alexandre Quaresma (1967). Escritor e editor desse blog.
*
COMENTÁRIO
Para Sigmund Freud nós - irremediavelmente - internalizamos sempre uma série de valores e conceituações da realidade à nossa volta através das experiências sensórias na construção de nossa personalidade e sua acomodação dentro da cultura, valores esses que vão se sobrepondo uns aos outros com o desenvolvimento do indivíduo rumo à maturidade física e psíquica. Segundo ele, tais fenômenos - que impulsionam a vida - operam em cada pessoa através da interação de figuras alegóricas criadas por ele para explicar seu funcionamento, que representariam as forças primordiais e primevas que se contrapõem e se complementam na dinâmica interior da manifestação da psiquê humana. Dentro do universo freudiano o Superego (parte da mente que se ocupa com as questões éticas e morais) cumpre o importante papel de não deixar o Ego (que age a partir do Id e controla sua manifestação) fugir de controle, bem como o de administrar as invenções e aprontações treslocadas do Id (fonte da energia psíquica humana, ou seja, a libido).
*
Neste contexto, então, surge a analogia metafórica e aforística em tela.
*
Da redação.
*
AFORISMO
"A epistemologia bioética é o super-ego da tecnociência pós-moderna."
*

sábado, 11 de setembro de 2010

FRIEDRICH NIETZSCHE: SOBRE AS CONVICÇÕES

QUEM?
Nietzsche perto da morte.
*
COMENTÁRIO
Na imagem acima vemos o filósofo em seus últimos dias sobre a face da Terra sob a forma carnal. Pois seus escritos e pensamentos sobreviveriam a ele... Iriam adiante... Ele sabia.
*
AFORISMO
"Convicções são prisões." (pág.365)
*
LIVRO: Obras Incompletas // AUTOR: Friedrich Nietzsche // Coleção Os Pensadores // volume XXXII // EDITORA: Abril Cultural // São Paulo: 1974 // 1a edição

NIETZSCHE: CRÍTICA AOS FUNDAMENTOS DA LIBERDADE CIVILIZADA

QUEM?
Friedrich Nietzsche (1844/1900). Filósofo niilista alemão.
*
COMENTÁRIO
O que significa liberdade? O termo, o verbo, mas também sua essência e significado mais pleno que reside aí, nele, e que, de certa forma, implica-nos irreversivelmente a todos num enredamento invisível e extremamente absorvente. Tudo para que os homens e mulheres desse pobre e miserável mundo pudessem se amontoar e se digladiar na infame vida em sociedade. As cidades, os rebanhos, as multidões bovinas, as guerras, as crenças, as farsas, enfim, a hipocrisia humana.
*
CITAÇÃO
"Pois o que é liberdade? Ter a vontade de responsabilidade própria. Manter firme a distância que nos separa. Tornar-se indiferente a cansaço, dureza, privações, e mesmo à vida. Estar pronto a sacrificar à sua causa seres humanos, sem excluir a si próprio. Liberdade significa que os instintos viris, que se alegram com a guerra e a vitória, têm domínio sobre outros instintos, por exemplo, sobre o da 'felicidade'. O homem que se tornou livre, e ainda mais o espírito que se tornou livre, calca sob seus pés a desprezível espécie de bem-estar com que sonham merceeiros, cristãos, vacas, mulheres, ingleses e outros democratas." (pág.349)
*
LIVRO: Obras Incompletas // AUTOR: Friedrich Nietzsche // Coleção Os Pensadores // volume XXXII // EDITORA: Abril Cultural // São Paulo: 1974 // 1a edição

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

A RECURSIVIDADE OUROBÓRICA NIETZSCHEANA

QUEM?
Friedrich Nietzsche (1844/1900). Filósofo niilista alemão.
*
COMENTÁRIO
Ler o filósofo alemão Friedrich Nietzsche é para quem não sofre de vertigem. Sim, pois ele nos leva às alturas - e não devemos refugar em sua companhia ou de seus pensamentos - e de lá, do alto de suas ideias niilistas se respira, como ele mesmo nos diz, e podemos experimentar em seus pensamentos, ares mais puros de paragens mais amplas e abertas. E, de lá, dos picos enregelados da solidão do ser desamparado de um Deus, não há mais embustes nem mentiras que possam desviar nosso olhar ou nossa atenção mortal. Não há mais crença, não há mais verdades, que dirá absolutas ou permanentes, sobrando apenas - com sorte - nossa vontade mais vital e essencial diante da razão e da experiência individual: que nada mais é que - usando as palavras do próprio Nietzsche - vontade de potência.
*
CITAÇÃO
"Homem! Tua vida inteira, como uma ampulheta, será sempre desvirada outra vez e sempre escoará outra vez, - um grande minuto de tempo no intervalo, até que todas as condições, a partir das quais vieste a ser, se reúnam outra vez no curso circular do mundo. E então encontrarás cada dor e cada prazer e cada amigo e inimigo e cada esperança e cada erro e cada folha de grama e cada raio de sol outra vez, a inteira conexão de todas as coisas. Esse anel, em que és um grão, resplandece sempre outra vez." (1974:397-398)
*
LIVRO: Obras Incompletas // AUTOR: Friedrich Nietzsche // Coleção Os Pensadores // volume XXXII // EDITORA: Abril Cultural // São Paulo: 1974 // 1a edição

FRIEDRICH NIETZSCHE: A DEPENDÊNCIA VISCERAL DO CRENTE


QUEM?
Friedrich Nietzsche (1844/1900). Filósofo niilista alemão.
*
COMENTÁRIO
Nietzsche detestava os carolas, os otários, os crentes. Acreditava que eram seres menores embrulhados por seus próprios pares, por impostores espúrios igualmente inferiores e, o que é pior, ludibriados por vontade própria e pura inclinação voluntária: como cordeiros, como rebanho, como imbecis enganados e manipulados. Culpados, punidos e castigados previamente por uma moral fantasiosa de mundos improváveis pós-mundo, de compensações e castigos intermináveis que - de fato - transformam o mundo real num verdadeiro inferno invivível; pura balela. Para Nietzsche, isso era anti-vida, puro desperdício, perda de tempo. Vidas em vão... Consumidas... Para nada, para uma mentira.
*
Nessa passagem, retirada de seu livro O Anticristo, vemos transpirar em seus poros essa agonia que sentia ao divisar ou pensar sobre os cordeirinhos pastando docilmente em torno de seus pastores impostores e suas doutrinas infames. Rascante, profundo, definitivo: Nietzsche.
*
CITAÇÃO
"O homem da crença, o 'crente' de toda espécie, é necessariamente um homem dependente - um homem que não é capaz de se propor como fim, que em geral não é capaz de propor fins a partir de si. O 'crente' não se pertence, só pode ser meio, tem de ser consumido, necessita de quem o consuma." (1974:366)
*
LIVRO: Obras Incompletas // AUTOR: Friedrich Nietzsche // Coleção Os Pensadores // volume XXXII // EDITORA: Abril Cultural // São Paulo: 1974 // 1a edição

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

NIETZSCHE: O MÍNIMO POSSÍVEL DE ESTADO!

QUEM?
Friedrich Nietzsche (1844/1900). Notável filósofo alemão.
*
AFORISMO
"O mínimo possível de Estado!" (pág.184)

*
COMENTÁRIO
Nietzsche: "Todas as relações políticas e econômicas não merecem que precisamente os espíritos mais dotados possam e devam ocupar-se com elas: um tal consumo do espírito, no fundo, é pior do que um estado de indigência. São e permanecem domínios de trabalho para cabeças pequenas, e outras cabeças que não as pequenas não deveriam estar em serviço nessas oficinas..." (pág.184)
*
LIVRO: Obras Incompletas // AUTOR: Friedrich Nietzsche // Coleção Os Pensadores // volume XXXII // EDITORA: Abril Cultural // São Paulo: 1974 // 1a edição

O CRENTE E O ESPÍRITO LIVRE SEGUNDO FRIEDRICH NIETZSCHE

QUEM?
Friedrich Nietzsche (1844/1900). Notável filósofo alemão.
*
COMENTÁRIO
Nietzsche era inclemente com os imbecis. O tolos, ingênuos e cândidos (mesmo os volterianos) não tinham melhor sorte com ele. Na passagem extraída do livro Gaia Ciência vemos esse brilhante filósofo alemão niilista esbanjar seu talento e tino filosófico desalojando toda certeza crédula de falsos dogmas, transportando-as para um universo de ceticismo ateu desesperado, amparado sempre e apenas pela velha razão e experiência: grandes mestras e companheiras de jornada de todo filósofo, seja ele amador ou profissional.
*
CITAÇÃO
"Onde um homem chega à convicção fundamental de que é preciso que mandem nele, ele se torna 'crente'; inversamente, seria pensável um prazer e força da autodeterminação, uma liberdade da vontade, em que um espírito se despede de toda crença, de todo desejo de certeza, exercitado, como ele está, em poder manter-se sobre leves cordas e possibilidades, e mesmo diante de abismos dançar ainda. Um tal espírito seria o espírito livre par execellence."(pág.223)
*
LIVRO: Obras Incompletas // AUTOR: Friedrich Nietzsche // Coleção Os Pensadores // volume XXXII // EDITORA: Abril Cultural // São Paulo: 1974 // 1a edição

FRIEDRCH NIETZSCHE: O PERFIL DE CLANDESTINIDADE DO DEUS CRISTÃO

QUEM?
Friedrich Nietzsche (1844/1900). Notável filósofo alemão.
*
COMENTÁRIO
Nietzsche tinha um língua extremamente afiada. Seu pensamento, não menos poderoso, exibia e ostentava em igual potência seu ceticismo e poder crítico descomunais, ainda mais quando o assunto era fé, crença e valores e outros espinhos.
*
Aqui, nessa mordaz passagem de Assim Falou Zaratustra, esse rebelde incorrigível alemão simplesmente arrasa com as bases da doutrina cristã de uma vez por todas. Para ler e refletir.
*
CITAÇÃO
"Ele era um Deus escondido, cheio de clandestinidade. Em verdade, ele só chegou a ter um filho por vias dissimuladas. À porta de sua crença está o adultério." (pág.264)
*
LIVRO: Obras Incompletas // AUTOR: Friedrich Nietzsche // Coleção Os Pensadores // volume XXXII // EDITORA: Abril Cultural // São Paulo: 1974 // 1a edição

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

NIETZSCHE: A MORTE DE DEUS?! CONTORNOS E PRENÚNCIOS DO PÓS-HUMANO

QUEM?
Friedrich Nietzsche (1844/1900). Notável filósofo alemão.
*
COMENTÁRIO
A morte de Deus, o Pós-Humano... O próprio Friedrich Nietzsche esclarece as complexas e espinhosas questões em tela...
*
CITAÇÃO
“De fato, nós filósofos e ‘espíritos livres’ sentimo-nos à notícia de que ‘o velho Deus está morto’, como que iluminados pelos raios de uma nova aurora; nosso coração transborda de gratidão, assombro, pressentimento, expectativa – eis que enfim o horizonte nos aparece livre outra vez, posto mesmo que não esteja claro, enfim podemos lançar outra vez ao largo nossos navios, navegar a todo perigo, toda ousadia do conhecedor é outra vez permitida, o mar, nosso mar, está outra vez aberto, talvez nunca dantes houve tanto ‘mar aberto’.” (pág220)
*
LIVRO:Obras Incompletas // AUTOR: Friedrich Nietzsche // Coleção Os Pensadores // volume XXXII // EDITORA: Abril Cultural // São Paulo: 1974 // 1a edição

SENTIMENTO E SUA ORIGEM NOS JUÍZOS POR FRIEDRICH NIETZSCHE

QUEM?
Friedrich Nietzsche (1844/1900). Notável filósofo alemão.
*
COMENTÁRIO
Nietzsche era inimigo declarado das verdades absolutas. Ele sabia que ser humano é ser mutável, diverso, contraditório e não, ao contrário, estável, imutável e inabalável. Nessa passagem escolhida, vêmo-lo desconstruir um ditado popular de sua época que, de certa maneira, é válido e usado até os dias atuais. Em seu texto "Confia em teu sentimento!", que seria algo próximo de "Siga teu coração!" em nossos dias.
*
Sem dúvida, trata-se de um rebelde extremamente fundamentado e talentoso elaborando uma crítica feroz contra o estabelecido, e que, além de tudo, com a pena em punho, escrevia com paixão e clareza filosófica arrebatadoras: puro deleite intelectual para o leitor reflexivo.
*
CITAÇÃO
"Sentimentos e sua origem nos juízos. - 'Confia em teu sentimento!' - Mas sentimentos não são nada de último, originário, por trás dos sentimentos há juízos e estimativas de valor, que nos foram legados na forma de sentimentos (propensões e aversões). A inspiração que provém do sentimento é o neto de um juízo - e muitas vezes de um juízo falso! - e, em todo caso, não de teu próprio juízo! Confiar em seu sentimento - isto significa obedecer mais ao seu avô e à sua avó e aos avós deles do que aos deuses que estão em nós: nossa razão e nossa experiência."
(pág.171)
*
LIVRO: Obras Incompletas // AUTOR: Friedrich Nietzsche // Coleção Os Pensadores // volume XXXII // EDITORA: Abril Cultural // São Paulo: 1974 // 1a edição

PULSÃO DE MORTE: A CESSAÇÃO DEFINITIVA DOS DESEJOS

QUEM?
Conceito: Jacques Lacan (1901/1981). Célebre psicanalista francês.
Aforismo: Alexandre Quaresma (1967). Escritor e editor deste blog.
*
AFORIMO
"Pulsão de morte é o desejo [incontrolável*] de não ter mais desejos." (*por isso pulsão)
*
COMENTÁRIO
Para Lacan toda pulsão é de morte. Isso se dá por força de uma eterna incompletude e desemparo que todo humano experimenta desde muito cedo ao perceber que é um ser individual, despregando-se deste estado confortável de plenitude e completude com o todo, e se inscrevendo num contexto de por-gozar que, de fato, nunca se conclui, nunca se completa, pois os desejos se suscedem uns aos outros indefinidamente durante toda existência humana, e a cada desejo saciado, surge imediatamente um outro objeto de desejo, substituindo uma plenitude inalcansável, e assim, este breve gozar nunca é realmente pleno, projetando o indivíduo num mar de desejos insaciáveis sucessivos que engolem literalmente os dias e as horas da vida. Assim, pulsão de morte seria um desejo de não ter mais desejos, situação impossível, já que só na morte nada mais se deseja, daí o conceito de Lacan e o aforismo deste Escriba. Da Redação.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

FRIEDRICH NIETZSCHE: SABEDORIA É CALAR

QUEM?
Friedrich Nietzsche (1844/1900). Notável filósofo alemão.
*
COMENTÁRIO
Falar é fácil, difícil é fazer, ou seja, concretizar, realizar, concluir, enfim: superar. Calar, então, neste contexto, torna-se suprema sabedoria. Ver, enxergar, refletir... e calar: eis a sábia proposição deste incurável rebelde alemão chamado Friedrich Nietzsche.
*
AFORISMO
"Deve-se falar somente quando não se pode calar; e falar somente daquilo que se superou - tudo o mais é tagarelice,'literatura', falta de disciplina. (pág.131)
*
LIVRO: Obras Incompletas // AUTOR: Friedrich Nietzsche // Coleção Os Pensadores // volume XXXII // EDITORA: Abril Cultural // São Paulo: 1974 // 1a edição