sábado, 30 de maio de 2009

FRAGMENTOS PRECIOSOS DE JEAN-CHISTOPHE PELA PENA HÁBIL ROMAIN ROLLAND

QUEM?
Romain Rolland (1866/1944). Talentoso novelista, biógrafo e músico francês. Ganhou o Prêmio Nobel de Literatura no ano de 1915. Sua sensível obra concilia o idealismo patriótico com um internacionalismo humanista, além de demonstrar profunda compreensão sobre a alma humana. Escreveu peças de teatro, biografias como a Vida de Beethoven e Mahatma Gandhi, e o espetacular romance Jean-Christophe. Em 1923, fundou a revista Europe. Romain Rolland fez uma importante observação sobre o livro O Futuro de uma Ilusão de Freud. Esta observação foi a premissa usada por Freud para escrever o seguinte livro: O Mal-estar na Civilização. Quando o filósofo político italiano Antonio Gramsci escreveu, na prisão, que o "pessimismo da inteligência" não deveria abalar o "otimismo da vontade", estava citando Romain Rolland.
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COMENTÁRIO
Fazer e compilar citações de Jean-Christophe de Romain Rolland pode ser tarefa para lá de espinhosa, pois a obra é repleta de espírito e pensamentos elevados, transformando a resenha e compilação de partes isoladas num verdadeiro dilema. Quase tudo ali é bom. Lá pelas tantas, no terceiro volume de cinco, o autor exagera na descrição de aspectos da cultura da época, mas, até isso, lhe é desculpável, pois seus escritos nos servem também como preciso e inestimável relato histórico, sob pena, é claro, de ser por vezes cansativo, desafiando a persistência do bom e nobre Leitor. Fora isto, trata-se de uma grande obra, belíssima, de extrema sensibilidade, que encanta amantes da literatura nos quatro cantos do Planeta. Grande, bela e memorável. Assim é Jean-Christophe de Romain Rolland. Na impossibilidade de citar tudo, vão aqui algumas citações, pequenas pérolas, das muitas que abundam na obra deste brilhante autor francês do tão recente século XX.
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CITAÇÕES
Sobre os alemães:
"Agora que a vitória lhes sorria, não havia desprezo suficiente para as utopias 'à francesa': paz universal, fraternidade, progresso pacífico, direitos do homem, igualdade natural; diziam que o povo mais forte tinha contra os outros um direito absoluto, e que aos outros, na condição de mais fracos, não assistia direito contra ele." (pág251/vol.II)

Sobre um obeso cantor:
" Olhava Pottpestschimidt e perguntava a si mesmo: - Será que ele sente isto, realmente? Não via, porém, nos seus olhos outra chama a não ser a da vaidade satisfeita. Uma força inconciente movia aquela massa pesada. Aquela força cega e passiva era assim como um exército em combate, e ela obedecia, jubilosa, porque necessitava agir e entregue a si mesma não saberia como fazê-lo." (pág228/vol.II)

Sobre a juventude do personagem:
"É muito bonito negar o mundo. Mas o mundo não se deixa negar tão facilmente pelas fanfarronadas de um rapaz. Christophe era sincero; mas iludia-se, não se conhecia bem. Não era um monge, não tinha temperamento para renunciar ao mundo; e, sobretudo, não estava em idade de renúncia." (pág154/vol.II)

Sobre a crítica musical:
"Era porém, tão difícil aos melhores conceber a música como uma linguagem natural da alma, que, quando não faziam dela uma sucursal da pintura, alojavam-na nos subúrbios da ciência e reduziam-na a problemas de construção harmônica. Pessoas assim tão sábias deviam forçosamente dar lições aos músicos do passado. Encontravam erros em Beethoven, aplicavam a férula em Wagner. Quanto a Berlioz e a Gluck, divertiam-se à custa deles. Naquela hora da moda, nada existia para eles a não ser João-Sebastião Bach e Claude Debussy." (pág50/volIII)

Sobre música:
" Sob a graça displicente e o dilentantismo aparente dessas pequenas peças para piano, dessas canções, dessa música francesa de câmara, sobre a qual a arte alemã não se dignava a lançar olhos, e da qual o próprio Christophe negligenciara a poética virtuosidade, ele começava a entrever a febre de renovação, a inquietude - ignorsada do outro lado do Reno - com a qual os francese procuravam, nos terrenos incultos de sua arte, os germes que podiam fecundar o futuro." (pág33/volIV)

Sobre República e Democracia:
"Pela primeira vez, entreviu o sentido da Liberdade belicosa que eles adoravam - o gládio ameaçador da Razão. Não para eles não era uma simples retórica, uma ideologia vaga, como pensara. Num povo para ao qual as necessidades da razão eram as primeiras de todas, a luta pela razão dominava as demais. Que importava que essa luta parecesse absurda aos povos que se diazia práticos? (pág36/volIV)

Sobre o mercado livreiro de Paris: "É relativamente fácil fazer aceitar uma obra em Paris: a dificuldade está em fazê-la publicar. É preciso esperar, esperar durante meses, e se preciso for, toda a vida, caso não se tenha aprendido a arte de cortejar as pessoas, ou de importuná-las, de comparecer de quando em quando à hora do despertar desses pequenos monarcas, de lembra-lhes que existimos e que estamos dispostos a incomodá-los tanto quanto seja preciso." (pág78/volIV)

Sobre o Mundo: "Cada um vê o mundo à sua imagem. Aquêles cujo coração é desprovido de vida, vêem o universo dessecado, e não imaginam os frêmitos da espera, da esperança e do sofrimento que enchem as almas jovens; ou, se os imaginam, julgam-nos friamente, com a pesada ironia de um corpo empanturrado." (pág79/volIV)

Sobre a amizade: "Pertencia àquela elite que, para achar a beleza, tem necessidade de buscá-la nos tempos que se foram, ou nos que ainda não chegaram. Como se o vinho da vida não fôsse tão inebriante hoje como outrora! Mas, as almas fatigadas repugnam o contato direto da vida; não podem suportá-la senão através de um véu de miragens, tecido pela distância do passado e pelas palavras mortas dos que outrora existiram. A amizade de Christophe, a pouco e pouco, arrancava Olivier àqueles Limbos da arte. O sol infiltrava-se nos escaninhos de sua alma." (pág118/volIV)
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LIVRO: Jean-Christophe // AUTOR: Romain Rolland // VOLUME: II e III // EDITORA: Globo // São Paulo // 1941

O GRADE SERTÃO DE GUIMARÃES ROSA

QUEM?
João Guimarães Rosa (1908/1967). Mais conhecido como Guimarães Rosa. Um dos mais importantes escritores brasileiros de todos os tempos. Foi também médico e diplomata.
Seus contos e romances ambientam-se quase todos no chamado sertão brasileiro. A sua obra destaca-se, sobretudo, pelas espetaculares inovações de linguagem, sendo marcada pela influência de falares populares e regionais. Tudo isso, somado a sua erudição, permitiu a criação de inúmeros vocábulos a partir de arcaísmos e palavras populares, invenções e intervenções semânticas e sintáticas. Autor do épico, imortal e memorável Grande Sertão Veredas.

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CITAÇÃO
"Ah, o bom costume do jagunço. Assim que é a vida assoprada, vivida por cima. Um jagunceando, nem vê, nem repara na pobreza de todos, cisco. O senhor sabe: tanta pobreza geral, gente no duro ou no desânimo. Pobre tem de ter um triste amor á honetidade. São árvores que pegam poeira." (pág57)
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COMENTÁRIO
Guimarães Rosa era o cara. Em um tempo, não muito diferente do nosso, onde todo mundo estava com os olhos voltados para o litoral, este nobre e talentoso escritor brasileiro se ocupava em se lançar sertões adentro, em busca de uma memória e de uma identidade do povo brasileiro do interior das Terras sem fim desta Pátria. Ler o Grande Sertão de Guimarães Rosa foi um divisor de águas em minha vida de leitor. Sem sombra de dúvida, foi nele, o primeiro autor brasileiro, onde reconheci e pude ver a pura genialidade, tão marcante dos imortais da pena. O homem era um monstro da escrita. E sabia sobre o que escrever. Buscava instintivamente suas raízes. Sua temática, seus ambientes, seus romances e tramas, seus personagens e cenários nos remetem vigorosamente a um Brasil tão autêntico e belo, que chega a parecer um outro país dentro do próprio Brasil, por sua complexidade e imensa riqueza cultural. O fato é que o homem viajou pelas veredas, pelas trilhas, a cavalo, junto com os homens que realmente viviam aquele mundo tão instigante e pungente dos sertões, viu e viveu com eles suas estórias épicas, e soube, como ninguém, transpor com sua pena ágil e competente, peculiaridades, gírias típicas, modos e trejeitos de uma determinada cultura em especial muito interessante, a do Sertanejo.
Livro sem chance para erro, para ler, re-ler, re-re-ler, e , com toda a certeza, esta obra divina, do ponto de vista literário e cultural, fará o leitor atento descobrir porque somos assim como somos: brasileiros.
Recomendação especial deste velho Escriba.
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LIVRO:Grande Sertão Veredas // AUTOR: Guimarães Rosa // EDITORA: José Olympio // Rio de Janeiro // 1972

HUGO IMORTAL

QUEM?
Victor-Marie Hugo (1802-1885). Talentoso escritor e poeta francês. Autor de Os Trabalhadores do Mar e Noventa e Três, entre muitas outras obras notáveis. Esta última, belíssima aliás, trata da Revolução Francesa, romanceada, e vista por este talentoso e hábil
mestre da pena.
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COMENTÁRIO
Certos autores parecem conspirar com o próprio universo que os cercam quando estão criando suas obras geniais e imortalizando seus escritos. Gozam de uma tal hamonia criativa e, com tanta leveza, vão nos embalando através de suas cativantes narrativas, construindo com o verbo escrito todo um universo através da arte e da inspiração. São pessoas sensíveis e, de certo modo, até predestinados que, com suas penas, construíram verdadeiras jóias da literatura universal de todos os tempos.
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CITAÇÃO
"Tal era essa Convenção desmedida; campo estrincheirado do gênero humano atacado por todas as trevas ao mesmo tempo, fogos nocturnos dum exército de idéias cercadas, imenso bivaque de espíritos na vertente de um abismo. Nada na história é comparável a este grupo, ao mesmo tempo senado e populaça, coclave e galerias, areópago e praça pública, tribunal e acusado. A Convenção foi sempre levada pelo vento; mas esse vento saía da boca do povo e era o sôpro de Deus. E hoje, passados oitenta anos, de cada vez que diante do pensamento dum homem, quem quer que seja, historiador ou filósofo, a Convenção aparece, esse homem pára e medita. É impossível não ficar atento a essa imensa passagem de sombras." (pág204)
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LIVRO: Noventa e Três // AUTOR: Victor Hugo // VOLUME: I // EDITORA: Lello e Irmão Editores // Porto // Portugal // Sem data

sexta-feira, 29 de maio de 2009

UM HOMEM DA BAVIERA POR ROMAIN ROLLAND

QUEM?
Romain Rolland (1866/1944). Talentoso novelista, biógrafo e músico francês. Ganhou o Prêmio Nobel de Literatura no ano de 1915. Sua sensível obra concilia o idealismo patriótico com um internacionalismo humanista, além de demonstrar profunda compreensão sobre a alma humana. Escreveu peças de teatro, biografias como a Vida de Beethoven e Mahatma Gandhi, e o espetacular romance Jean-Christophe. Em 1923, fundou a revista Europe. Romain Rolland fez uma importante observação sobre o livro O Futuro de uma Ilusão de Freud. Esta observação foi a premissa usada por Freud para escrever o seguinte livro: O Mal-estar na Civilização. Quando o filósofo político italiano Antonio Gramsci escreveu, na prisão, que o "pessimismo da inteligência" não deveria abalar o "otimismo da vontade", estava citando Romain Rolland.
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COMENTÁRIO
Para escrever uma obra como Jean-Christophe, Romain Rolland teve que demonstrar talento e prosa fluida. Manter cativa a atenção do leitor que se aventura a ler seus 5 volumes não é fácil, afinal, cada um tem em média 400 páginas. De fato, não é possível ser medíocre em dimensões tão dilatadas. E ele não foi. Escrevia bem, em linguagem e narrativa vigorosa, constante, sem grandes malabarismos ou virtuosismos na trama, mas de uma sensibilidade e delicadeza notáveis. Na citação escolhida, vemos o autor descrever com grande habilidade um tipo de homem alemão específico, de uma região muito peculiar, a Baviera. É o gênio, com a pena em punho, descrevendo um de seus personagens secundários.
Sensacional!
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CITAÇÃO
"Era fabulosamente gordo, e grande em todas as proporções: a cabeça quadrada, os cabelos vermelhos, cortados rento o rosto barbeado, com sinais de bexiga, os olhos grandes, um nariz grande, os lábios grossos, um duplo queixo, o pescoço curto, as costas de uma largura monstruosa, o ventre rotundo como uma pipa, os braços afastados do corpo, os pés e as mãos enormes, um gigantesco montão de carne, deformado pelo abuso da comezaina e da cerveja, um dessses tonéis com rosto humano, que podem ser vistos às vezes a rola nas ruas das cidades da Baviera, os quais guardam o segredo dessa raça de homens, obtida por um sistema de ceva análogo ao das aves domnésticas postas em caixa para engorde." (pág227)
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LIVRO: Jean-Christophe // AUTOR: Romain Rolland // VOLUME: II // EDITORA: Globo // São Paulo // 1941

terça-feira, 26 de maio de 2009

UMA NECESSÁRIA TROCA DE PARADIGMAS(Ou, simplesmente, a morte dos veículos de transporte e locomoção individuais!)

QUEM?
Alexandre Quaresma (1967). Ambientalista, escritor contista e romancista brasileiro, pesquisador independente de nanotecnologia e impactos sociais. É videomaker, com mais de 25 anos de experiência pregressa, nascido em São Paulo, atual editor chefe e escriba titular deste Blog. Autor dos livros A Testemunha, conto ecológico de suspense, e Nanocaos e a Responsabilidade Global, ensaio de divulgação científica sobre nanotecnologia, ambos publicados por esta Editora virtual. Diretor dos documentários de divulgação científica Nanotecnologia O Futuro é Agóra, Para Entender as Nanotecnologias, Nanotecnologias e o Mundo do Trabalho, Reflexões Sobre o Desenvolvimento das Nanotecnologias e Nanotecnologias Sociais.
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ARTIGO
Quero tratar aqui de um assunto complexo e, para tanto, peço licença ao nobre e paciente leitor para usar de toda franqueza que me for possível, além de, sem mais delongas, adentrar lúcida e objetivamente o tema em questão. Para isso, partirei de uma máxima simples, maturada e desenvolvida por mim, em minhas repetidas e gratas visitas à magnífica cidade de São Paulo, minha terra natal, e seus intermináveis congestionamentos.
A cultura dos automóveis individuais movidos a combustíveis não renováveis e poluentes está com seus dias contados.
Sim, e isso se dará por diversos motivos importantes e convergentes. E, é justamente por isso, que tentarei ser breve neste artigo, abordando apenas alguns dos tópicos mais notáveis e gritantes relativos a este contexto de desenvolvimento social e cultural, deixando de fora as outras infinitas possibilidades de recortes e abordagens.

A primeira, e talvez, mais importante observação a ser feita aqui é de natureza matemática, proveniente das ciências exatas mas, passando, sem nenhuma sombra de dúvida, pela área de humanas, pelo bom senso e pela ponderação, virtudes que nunca se mostraram desfavoráveis ao salutar e profícuo julgamento. Todos os dias novos veículos são produzidos, enquanto que as ruas e estradas, vistas de uma maneira prática e quantitativa, continuam do mesmo tamanho. Parece filosofia rasa de botequim, mas não é nada disso. Trata-se, de fato, de uma dura realidade, imponente, dramática e inevitável, que precisamos a todo custo assimilar, nos debruçando sobre a matéria e, se preciso for, lançando mão de toda nossa criatividade – traço marcante de nossa espécie - e dela podermos tirar bons proveitos e boas lições e, acima de tudo, práticas que sejam mais viáveis, como alternativa ao frágil modelo que aí esta.
Minha segunda humilde ponderação, é que não faz mais sentido algum andarmos pelas ruas e estradas do Brasil e do Mundo, à bordo de veículos de transporte e locomoção individuais caríssimos, poluentes e – diga-se de passagem, abastecidos a partir de fontes não renováveis – para, além de tudo, nos engarrafarmos nestas vias que inevitavelmente temos que percorrer, para que a vida cotidiana possa seguir seu curso naturalmente e, especialmente, que a vida em sociedade possa funcionar.

Esta reflexão, nos remete, quase que diretamente, a uma outra. As populações do Planeta vêm crescendo vertiginosamente em termos numéricos e, impactos que não eram sentidos outrora, ou que eram considerados improváveis e incertos até tempos recentes, agora nos assustam de verdade e se multiplicam, nos obrigando a repensar nossos hábitos e até mesmo nossa cultura de uma maneira mais drástica e radical.
Deste modo, e como calamidades e problemas parecem atrair mais problemas e fenômenos de similar espécie, ou seja, de um certo modo, problemas 'chamam' ou 'atraem' mais problemas, é impossível deixarmos de lançar um olhar cauteloso e prescrutativo, sobre nossos hábitos e nossa cultura.

Vivemos em um mundo capitalista. E, dentro deste mundo agônico, midiático e consumista, operam as famigeradas leis de mercado, as quais me furtarei de comentar aqui, para o bem da narrativa e da reflexão que proponho. Neste ambiente e contexto, e isso vale para todos – países ricos ou não, emergentes, decadentes, dentro de organizações como a familiar, municipal, estadual, federal, enfim planetária – ou seja, o que todos querem é desenvolvimento, fartura e prosperidade. E é exatamente aqui surge o conflito.

Somos jovens enquanto nação, com uma história pregressa relativamente recente, especialmente, se considerarmos o resto do Globo, as culturas milenares orientais e o Velho Mundo. Daí, esta coisa que nós brasileiros infelizmente temos, de sermos deculturados, de repetirmos modelos, e de pouco valorizarmos nossa cultura, história e tradição, em detrimento de, modelos alheios a nós, gerando, conseqüentemente, os mesmos estragos e impactos que estes modelos já causaram em suas culturas de origem. Sim, pois nossas metas nacionais de desenvolvimento, nossos objetivos estratégicos de produção de riqueza e consumo de bens, é totalmente equivocada, e já deram prova de sua indubitável ineficiência.

Grosso modo, repetimos o que já deu errado. Daí a nossa importância estratégica de subdesenvolvidos, como reserva manancial para mais exploração capitalista.
É duro admitir: Somos movidos a consumo, e vivemos em função desta orientação cultural, e isto nos foi ensinado repetitivamente à exaustão através dos diversos meios de comunicação, mais especialmente através da televisão que não exclui ninguém em sua onipresença, e agora, nos dias atuais, pela internet. E a mensagem que nos é transmitida geralmente, é que nossa vida só adquire significado, enquanto somos peças integrantes da máquina capitalista de produção e consumo e, especialmente, pelo que possuimos e compramos. E, de fato, se usarmos da razão, doamos nossa vida a este cruel e massacrante sistema e, meio que sem querer, acabamos acreditando nisto como única alternativa, e nos absorvemos enquanto perpetuamos nossa própria escravidão dentro de uma ardilosa armadilha. Uma não, várias.
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Prezadíssimo leitor(a), gostaria de propor agora outra interessante reflexão sobre a matéria. Se olharmos bem, com olhos atentos e críticos, veremos que, dentro do jogo capitalista que participamos e sustentamos com nossas forças individuais de trabalho, nunca ganhamos o suficiente para nós mesmos, ou quem sabe, quimericamente, para nos libertarmos do jugo que nos é imposto por esta política que aí está. Não ganhamos o dinheiro de fato, vejamos bem, apenas o transportamos, de um lado para o outro. Labutamos o mês todo para, no dia do pagamento, corrermos para devolver para Eles, os capitalistas, todos os nossos míseros trocados, sob as mais diversas formas de consumo supérfluos e, dentro deste contexto de extrema externalização do prazer e da realização pessoal, surge, como o ápice e símbolo de ostentação e reconhecimento, o automóvel. Ainda mais em tempos de pick-ups e off-roads, associados a vidas maçantes e rotinas entediantes e sem sentido.

Para concluir esta breve argumentação crítica sobre nossos paradigmas e práticas culturais de locomoção, não poderíamos deixar de notar e comentar o absurdo que é as montadoras de automóveis, estas poderosas corporações multimilionárias transnacionais, ameaçarem os governos com suas lamentações, que nada mais são do que quedas de faturamento, em meio a crise que aí está, assustando as populações, amedrontando as nações mundo a fora com suas incompetências e falências – sendo que, na verdade, trata-se apenas de queda dos lucros. Absurdo maior ainda é, o que se pratica agora, que é os governos saírem a socorrer estes grupos já tão poderosos e privilegiados. Conduta praticada nos Estados Unidos da América, na Europa e, repetido, lamentavelmente por nós brasileiros, aqui em terras tupiniquins e terceiromundistas. Seria indesejável e inoportuno perguntar, por exemplo, porque o Governo Federal, em sua presteza bombeirística patriótica, ao invés de socorrer as riquíssimas montadoras, não socorre os pequenos e médios empresários que passam por dificuldades neste momento turbulento de incertezas, mandando ao diabo estes cretinos. Ou, quem sabe, investir pesado no setor de preservação ambiental e ecológico que, indubtavelmente, necessita de normatização, legislação, fiscalização, plano de manjo ecológico e sustentável, além, é claro, de punição exemplar para os malfeitores que insistirem em infringir as leis vigentes, devastando a natureza, já tão combalida? Não é possível que os interesses de um pequeno grupo ganancioso vá se sobrepor e prevalecer sobre a integridade e o bem estar da maioria da coletividade.

Vivemos o alvorecer de uma nova era, de um novo tempo de mudanças, onde antigos e nefastos modelos, precisam ser substituídos, o quanto antes, por alternativas menos danosas à natureza. A própria palavra Sustentabilidade, tão em voga ultimamente, e tão utilizada indiscriminadamente por estes mesmos grupos capitalistas, no intuito de agregar valor de marketing às suas imagens, que significa, antes de mais nada, gerar desenvolvimento, progresso e riqueza, sem comprometer as futuras gerações, não tem, de modo algum, sido observada e respeitada.

E, para finalizar, aparentemente, a única maneira possível de se corrigir toda esta loucura, seja proibir os automóveis particulares nas grandes cidades e estradas, ou sobretaxá-los de tal maneira, que seja inviável sair-se de carro sozinho por ai. Paralelamente a isso, é claro, e até com os recursos provenientes desta nova política educativa ambiental de arrecadação, fomentar-se novas matrizes energéticas e, especialmente, construir-se uma malha de transportes coletivos eficientes, baratos, seguros, confortáveis e menos poluentes.
Não se trata aqui de uma opinião particular, mas de bom senso e medidas que devem ser empreendidas o quanto antes, sob pena de fomentarmos um colapso em nível Global.
Não é possível que pessoas fúteis e vazias andem por aí em caminhonetes diesel, cujos motores, poderiam, por exemplo, estar levando toda uma classe de alunos carentes à escola, ou cumprindo uma outra missão igualmente digna.
Falo de medidas extremas e radicais. Basta agora, sabermos quem terá a coragem necessária para implementá-las.
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O tempo urge.
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Da Redação.

O DICIONÁRIO KAZAR DE MILORAD PÁVITCH

QUEM?
Milorad Pávitch (1929). Em sérvio: Милорад Павић. Poeta, romancista e tradutor sévio, estudioso da História da Literatura. Autor do interessante livro O Dicionário Kazar.
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COMENTÁRIO
O livro em questão de Milorad Pavitch, O Dicionário Kazar, é uma obra muito interessante. Nela o competente autor sérvio nos leva para um mundo místico de fantasia e mistérios, símbolos e signos, de lendas e estórias antiquíssimas, neste belo romance que trata do debate entre as três principais doutrinas religiosas do Planeta: O catolicismo, o islamismo, e o judaismo. Em forma de dicionário, e escrito com sabedoria e prosa intrigante, vemos através de sua pena hábil, um povo muito interessante, os Kazares, que promovem o embate filosófico entre os líderes das supracitadas religiões, no que ele, o autor, chama de A Polêmica Kazar. Prosa elegante e instigante, carregada de fatos e lendas, algúrios e simbolismos, lugares remotos e situações enigmáticas notáveis. Leitura antropológica e mística que, com certeza, alargará os horizontes do leitor atento que gosta de textos exóticos e inteligentes.

Na citação, vemos um demônio, Nikon Sevast, com uma história bem interessante e bem humorada. É só conferir e se deleitar.
Da Redação.
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CITAÇÃO
"SEVAST, NIKON (Século XVII) - Conta-se que, em certa época, o diabo viveu sob este nome, na garganta de Óvtchar, nas margens do Mórava, nos Bálcãs. Era particularmente gentil e chamava a todos por seu próprio nome: Sevast. Trabalhava como protocalígrafo no mosteiro São Nicolau. No lugar em que se sentava, deixava a marca de dois rostos e tinha um nariz no lugar da cauda. Afirmava que numa vida anterior tinha sido um demônio do inferno judeu, servindo Belial e Gueburá e enterrando cadáveres nos sótãos das sinagogas. Num outono em que os pássaros soltavam titica envenenada, queimando folhas e infectando as ervas, contratou um capanga para que o matasse. Era sua única maneira de passar do inferno judeu para o inferno cristão, e de poder servir Satã em sua nova vida.
Segundo outras narrativas, ele nem morreu. Deixou um cão lamber um pouco de seu sangue, entrou na tumba de um turco, pegou-o pelas orelhas e, tendo-o esfoladso, vestiu sua pele. Por causa disto, seus olhos de cabra miravam através de belos olhos turcos. " (pág85)
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LIVRO: O Dicionário Kazar // AUTOR: Milorad Pávitch // EDITORA: Marco Zero // Sem Data // PRIMEIRA EDIÇÃO: 1691

quarta-feira, 13 de maio de 2009

DOIS MOMENTOS DE MUDANÇA E RENOVAÇÃO NO JEAN-CHRISTOPHE DE ROMAIN ROLLAND

QUEM?
Romain Rolland (1866/1944). Talentoso novelista, biógrafo e músico francês. Ganhou o Prêmio Nobel de Literatura no ano de 1915. Sua sensível obra concilia o idealismo patriótico com um internacionalismo humanista, além de demonstrar profunda compreensão sobre a alma humana. Escreveu peças de teatro, biografias como a Vida de Beethoven e Mahatma Gandhi, e o espetacular romance Jean-Christophe. Em 1923, fundou a revista Europe. Romain Rolland fez uma importante observação sobre o livro O Futuro de uma Ilusão de Freud. Esta observação foi a premissa usada por Freud para escrever o seguinte livro: O Mal-estar na Civilização. Quando o filósofo político italiano Antonio Gramsci escreveu, na prisão, que o "pessimismo da inteligência" não deveria abalar o "otimismo da vontade", estava citando Romain Rolland.
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COMENTÁRIO
Rápido, como quem furta, duas citações da juventude de Jean-Christophe onde vemos o autor esbanjar sua refinada técnica literária na descrição precisa dos conturbados dias que o personagem vive em busca da maturidade e de sua própria personalidade. Obra indubitavelmente bela, bem construída, narrada com expantoso vigor cativante, a despeito de sua extensa compleição física: 414 páginas, apenas do primeiro volume de um total de 5.
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CITAÇÃO
"Christophe mudava de pele. Christophe mudava de alma. E vendo cair a alma gasta e murcha da infância, não suspeitava que se lhe estava formando uma nova, mais moça e mais poderosa. Da mesma forma por que se muda de corpo no decurso da vida, também se muda de alma; e a metamorfose não se opera sempre lentamente no correr dos dias; existem horas de crise em que tudo se renova num abrir e fechar de olhos. A antiga pele cai. Nessas horas de angústia, o ser julga tudo acabado. E tudo vai começar. Morre uma vida. Uma outra acaba de nascer." (pág293)
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"A mudança era por demais brusca; depois de haver por toda a parte encontrado o vácuo, quando apenas se preocupava com a própria existência e a sentia dissolver-se qual uma chuva, eis que surge por toda parte o Ser sem fim e sem limites, agora que aspirava a fundir-se no universo. Tinha a impressção de que saia de um túmulo. A vida corria transbordante; nadava nela com volúpia e, arrastado por ela, julgava-se plenamente livre. Não sabia que era menos do que nunca, que nenhum ser é livre, que a própria lei que rege o universo não é livre, e que somente a morte - talvez - liberte." (pág298)
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LIVRO: Jean-Christophe // AUTOR: Romain Rolland // VOLUME: I // EDITORA: Globo // São Paulo // 1941

QUEM NÃO LEU A METAMORFOSE DE KAFKA...

QUEM?
Franz Kafka ou, na língua tcheca, František Kafka. (1883/1924). Trata-se, nada mais, nada menos, de um dos maiores escritores de ficção da língua alemã do século XX. Nasceu numa família de classe média judia em Praga, Austria, Hungria. Suas obras escritas - a maioria incompleta e publicadas postumamente - destacam-se entre as mais influentes da Literatura Ocidental. Seu estilo literário presente em obras como a novela A Metamorfose, publicada no ano de 1915, e os romances O Processo, 1925, e O Castelo, 1926, retratam indivíduos preocupados envoltos em um mundo impessoal e burocratizado.
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COMENTÁRIO
Quem não leu a metamorfose de Franz Kafka...
Tem que ler.
Especialmente se for, como eu sou, amante das boas letras. Sim, porque trata-se de um clássico da literatura universal, termo muito usado em vão, todavia, totalmente aplicável a este talentoso autor. Signo recorrente, de um estilo e formato de redação interessantíssimo, a realidade fantástica de A Metamorfose, vai além do que é natural se esperar de um bom texto, para lançar-nos sem piedade, num mundo mágico de fantasia e arte indescritíveis. O realístico e fantástico homem-barata-homem de Kafka é leitura obrigatória, para quem é do ramo da Literatura, e sabe o que é bom em termos de obras imortais.
Aqui, vemos Gregor, o personagem principal, numa passagem brilhante onde os vizinhos divisam a escalafobética criatura numa situação fantástica de surrealismo e criatividade indubitável, letristicamente falando, é claro!
Da Redação.
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CITAÇÃO
"O pai considerou mais necessário acalmar os inquilinos do que expulsar Gregor, embora eles não estivessem agitados, e pareciam estar mais entretidos com Gregor do que com o violino. Correu até eles com os braços abertos tentando empurrá-los para o quarto e, ao mesmo tempo, tapar-lhes a visão de Gregor com o corpo." (pág94)
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LIVRO: A Metamorfose // AUTOR: Franz Kafka //EDITORA: Nova Cultura // São Paulo // 2002

terça-feira, 12 de maio de 2009

UMA QUALIDADE PRECIOSA PARA VIDA POR ROMAIN ROLLAND

QUEM?
Romain Rolland (1866/1944). Talentoso novelista, biógrafo e músico francês. Ganhou o Prêmio Nobel de Literatura no ano de 1915. Sua sensível obra concilia o idealismo patriótico com um internacionalismo humanista, além de demonstrar profunda compreensão sobre a alma humana. Escreveu peças de teatro, biografias como a Vida de Beethoven e Mahatma Gandhi, e o espetacular romance Jean-Christophe. Em 1923, fundou a revista Europe. Romain Rolland fez uma importante observação sobre o livro O Futuro de uma Ilusão de Freud. Esta observação foi a premissa usada por Freud para escrever o seguinte livro: O Mal-estar na Civilização. Quando o filósofo político italiano Antonio Gramsci escreveu, na prisão, que o "pessimismo da inteligência" não deveria abalar o "otimismo da vontade", estava citando Romain Rolland.
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COMENTÁRIO
Escrever, sem dúvida, é um dom. E Romain Rolland tinha este dom. Escrevia com grande habilidade, num texto leve, direto e flúido, e dava seu recado com grande êxito além, é claro, de ser um artista do verbo escrito, ou seja, um mestre da pena. Vejamos esta belíssima passagem de Jean-Christophe, onde o autor, com muita precisão, descreve um padrão interessante na formação do caráter dos homens de sua época. Além disso, sem dúvida, um momento notável da literatura universal de todos os tempos.
Da Redação.
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CITAÇÃO
"Possuía a qualidade mais preciosa da vida: uma curiosidade juvenil, que os anos não alteravam, e que renascia todas as manhãs. Não tinha talento bastante para utilizar êsse dom, mas quanta gente de talento o teria invejado! A maioria dos homens morre dos vinte aos trinta anos; decorrido êsse período, nada mais são do que um reflexo de si mesmos; passam o resto da vida a macaquearem a si mesmos; e repetirem de modo cada vez mais mecânico e caricatural, o que disseram, fizeram, pensaram, amaram, no tempo em que eram." (pág266)
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LIVRO: Jean-Christophe // AUTOR: Romain Rolland // VOLUME: I // EDITORA: Globo // São Paulo // 1941

domingo, 10 de maio de 2009

JEAN-CHRISTOPHE DE ROMAIN ROLLAND

QUEM?
Romain Rolland (1866/1944). Talentoso novelista, biógrafo e músico francês. Ganhou o Prêmio Nobel de Literatura no ano de 1915. Sua sensível obra concilia o idealismo patriótico com um internacionalismo humanista, além de demonstrar profunda compreenção sobre a alma humana. Escreveu peças de teatro, biografias como a Vida de Beethoven e Mahatma Gandhi, e o espetacular romance Jean-Christophe. Em 1923, fundou a revista Europe. Romain Rolland fez uma importante observação sobre o livro O Futuro de uma Ilusão de Freud. Esta observação foi a premissa usada por Freud para escrever o seguinte livro: O Mal-estar na Civilização. Quando o filósofo político italiano Antonio Gramsci escreveu, na prisão, que o "pessimismo da inteligência" não deveria abalar o "otimismo da vontade", estava citando Romain Rolland.
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COMENTÁRIO
Eis aqui um grande humanista Ás da pena: Romain Rolland. Hábil que era, não poupava talento e espírito na descrição de seus personagens no belo romance Jean-Christophe sempre, é claro, sendo direto, categórico, espirituoso e bem sucedido na arte do verbo escrito, fluído, vemos o autor acabar com um destes personagens, um sujeito sem caráter da estória, fazendo menção a sua insignificância de maneira surpreendente, reduzindo-o a algo inerte e inanimado que, movido pela gravidade, arrasta consigo tudo e todos a seu redor, em sua inevitável queda. É a marca do gênio impressa em sua obra. Trata-se de um parágrafo de uma importância e beleza notáveis, simples, todavia amplo, abrangente, complexo além de, diga-se de passagem e, acima de tudo, ser adaptável às frágeis almas humanas, e suas múltiplas facetas e susceptibilidades. Numa palavra: sensacional!
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CITAÇÃO
"Não era um mau homem, mas, sim, um homem bom pela metade, o que talvez seja pior; fraco, sem energia, sem força moral, embora julgando-se bom pai, bom filho, bom marido, bom homem, e sendo-o talvez, se para isso bastasse uma bondade fácil, que se enternece facilmente, e essa afeição animal que faz querer aos seus como a uma parte de si mesmo. Nem mesmo se podia dizer que era egoísta: não possuioa bastante personalidade para sê-lo. Não era nada. Coisa terrível na vida, essas pessoas que não são nada! Como um peso inerte, que se solta no ar, elas tendem a cair e é preciso absolutamente que caiam; e, na queda, arrasatam tudo o que está com elas." (pág36)
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LIVRO: Jean-Christophe // AUTOR: Romain Rolland // VOLUME: I // EDITORA: Globo // São Paulo // 1941

terça-feira, 5 de maio de 2009

H1N1: ÊTA MUNDINHO BESTA ESTE NOSSO! BESTA E FRÁGIL.

QUEM?
Alexandre Quaresma (1967). Ambientalista, escritor contista e romancista brasileiro, pesquisador independente de nanotecnologia e impactos sociais, videomaker com mais de 25 anos de experiência pregressa, nascido em São Paulo, atual editor chefe e escriba titular deste Blog. Autor dos livros A Testemunha, conto ecológico de suspense, e Nanocaos e a Responsabilidade Global, ensaio de divulgação científica sobre nanotecnologia, ambos publicados por esta Editora virtual. Diretor dos documentários de divulgação científica Nanotecnologia O Futuro é Agóra, Para Entender as Nanotecnologias, Nanotecnologias e o Mundo do Trabalho, Reflexões Sobre o Desenvolvimento das Nanotecnologias e Nanotecnologias Sociais.
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ARTIGO
Êta mundinho besta este nosso! Besta e frágil. Estamos todos nós agora, neste instante, nos borrando de medo - uns mais que outros, é verdade - só por causa de um minúsculo inimigo invisível chamado vulgarmente de vírus da gripe do porco, convenientemente re-batizada de Influenza-A bem no meio da crise dos primeiros dias; tudo, é lógico, para não atrapalhar inconvenientemente a turma do agronegócio, que vende carne suína a dar com o pau, enquanto o número de casos da gripe no mundo vai subindo. Nós, como bons brasileiros que somos, não ficamos atrás neste bonde, e não dispensamos um bom porquinho nas diversas receitas tradicionais de nossa cultura; e assim, o Brasil figura no cenário mundial como notável produtor e consumidor deste, atualmente, combalido animal.
O Estado, as autoridades competentíssimas, sempre - como classe mais que preparada que é para exercer suas nobres funções - correm à mídia para tranquilizar a receosa população brasileira, dizendo que já estão prontas para enfrentar a tal gripe, sendo que ao contrário, e na verdade - e nós sabemos desta muito bem e da pior maneira possível, ou seja, na prática - que a saúde pública brasileira vive um período negro de descaso e miséria total, onde falta gaze, esparadrapos, remédios, equipamentos, médicos, enfermeiros e, por vezes, até mesmo hospitais. O que se dirá se chegasse aqui um vírus letal de verdade.
Mas, o que ninguém diz mesmo sobre o coitado do porquinho é que ele - além de ser servido no rolete, como disse sábia e espirituosamente o Ministro Rudolf Estephanes, pode ser apreciado também sem rolete, na brasa sob a forma de churrasco, ou então na feijoada, no forno à pururuca, frito como torresmo, embutido em forma de linguiça e companhia limitada - serve também, o porco, por sua impressionante similaridade genética conosco, os humanos, para fazer parte de nossos próprios aparatos biológicos através, por exemplo, de válvulas cardíacas. Sim, nós somos fisiologicamente muito parecidos com os nossos gripados e saborosos amigos suínos, que suas partes físicas podem nos servir, e têm nos servido de fato, como reserva viva de tecidos para implante em diversas partes do organismo humano.
Vamos e venhamos, esta maldita gripe suína, que nos ameaça e amedronta, nada mais é que um resultado de nossa atividade exploratória que se estende a todos os seres vivos, e até mesmo ao Planeta que nos sustenta em sua infinita generosidade. É público, notório, óbvio e ululante: capitalismo e ecologia não se dão. Alguns mais espertos que outros, agora, em tempos de aquecimento global e outras mazelas planetárias, dizem-se verdes e sustentáveis desde o dia de seus nascimentos, quando na verdade querem apenas camuflar suas verdadeiras intenções capitalistas com discursos sócio-ambientais, enquanto continuam a ganhar seus mesquinhos lucros astronômicos. É claro que se a humanidade realmente quisesse, e se desse ao trabalho de rever suas práticas insustentáveis e anti-éticas, poder-se-ia, reduzindo margens de faturamento por um lado e priorizando questões sociais por outro, buscar novas matrizes energéticas mais perenes e menos poluentes e geradoras de resíduos, mudar drasticamente o nefasto panorama que se delineia bem diante de nós, em um futuro bem pouco distante. Todavia, com efeito e, lamentavelmente, não há um mínimo de vontade de mudar nada que está aí posto e praticado. Geramos lixo ‘pra burro, andamos em carros individuais, extremamente caros e dispendiosos de se produzir e alimentar com combustíveis, combustíveis estes, é bom lembrar, não renováveis, limitados e, que se não bastasse tudo isso, ainda estão contribuindo com sua poluição para a dramática alteração climática que vivemos, ameaçando a sutil harmonia terrestre.
Neste ambiente hostil, em um mundo de gritantes contradições, globalizado e ganancioso, massificado e consumista, obeso e ao mesmo tempo faminto, veloz e midiático, burro, raso e vazio, surge imponenete, oriunda de nossa própria mesa quintais e galpões de fábrica, a temida e famigerada gripe do porco, que virou a gripe do porco-homem, ou homem-porco, como preferirmos, pois não faz a menor diferença, e que pode virar no futuro sabe-se lá o quê, pois o vírus é mutante, como todo vírus! Mesmo que esta pequena e poderosa praga não nos varra da face da Terra agora - o que não deixaria de ser uma boa coisa para as demais espécies vivas - trata-se, sem sombra de dúvida, de um claro aviso sistêmico de alerta, que nos diz respeito certamente, resultado direto e diametral de nossa promiscuidade cruel e desumana para com as outras espécies vivas e o próprio planeta que tão gentilmente nos abriga, nossos maus hábitos industriais e alimentares, nossa desmedida ganância antropocêntrica por poder e domínio, lucro e, por fim, e não menos significativo por isso, por nossa indubitável insustentabilidade nata, traço marcante e característico de nossa espécie. Enquanto fusionarmos nosso gozo existencial a hábitos fúteis e torpes de consumo exacerbado, pouca esperança haverá para nós e para o nosso ambiente.
Resumindo a novela da gripe homem-porco-homem: Êta mundinho besta este nosso! Besta e frágil.

MOBY DICK: A IMORTAL BALEIA DE MELVILLE

QUEM?
Herman Melville (1819-1891). Notório escritor norte-americano que, entre outras coisas, marinheiro que era, escreveu sobre as aventuras dos mares do mundo com grande talento. Autor da imortal Moby Dick, a lendária baleia branca, dentre outras belíssimas estórias do mar.
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COMENTÁRIO
Perseguir e predar outras espécies vivas sempre foi a 'nossa'. Quero dizer, nossa especialidade. Andamos por ai, através dos mares e dos vastos territórios do Planeta caçando, espicaçando e devorando os demais seres viventes, seja para nos alimentarmos ou para vendermos os seus corpos, como se só nós tivéssemos direito à vida, numa barbárie antropocêntrica, cruel e insustentável, que se arrasta pelos tempos desde que o mundo é mundo. Uma lástima. Nem mesmo animais gigantescos como as baleias cachalotes, que chegam a medir 18 metros de comprimento, e pesar mais que 45 toneladas, conseguiram se esquivar de nossa ferrenha e sanguinária perseguição. Estes enormes, magníficos e delicados seres marinhos, em suas inocências puras e imaculadas, não são capazes de competir com nossa extraordinária engenhosidade predatória, e vão sucumbindo copiosamente às centenas, pois seus corpos e, especialmente, sua gordura, são extremamente valorizados no mercado mundial.
Trata-se de algo assim, como direi eu, humilde Escriba, inacreditável. Em pleno século XXI, em pleno alvorecer de uma nova era digital de convergência tecnológica, em um mundo fascinado e atônito pela física quântica e pela nanotecnologia, de avanços científicos inimaginados, ainda hoje, continuamos matando legiões de baleias a arpoadas, a despeito de toda crise e colapso ambiental que nos assola, perpetuando insanamente, esta tragédia descomunal que é a intolerância para com as demais espécies vivas. Ademais, subsiste ainda, sólida e inabalável, a própria questão basilar e contraditória de não respeitarmos nem mesmo o ambiente que nos gera e sustenta.
Mesmo assim, com tudo isso, mesmo sendo Moby Dick uma estória de caça à baleia nos idos do século XIX - e assim podemos ver que a tradição predatória corta a história humana na Terra há mais de duzentos anos - o romance do mestre norte-americano da pena Herman Melville, é uma pérola da literatura universal de todos os tempos. Muito além da perseguição à poderosa baleia branca da estória, que se recusa a se subjugar perante o homem, existe uma procura pelo sentido da própria existência humana, dentro do fantástico ambiente que é estar-se numa casquinha de noz a singrar os sete mares do mundo. Vale lembrar ainda que Melville, antes de ser escritor, foi marinheiro, e vivenciou de perto a vida marítima, embarcado a bordo de naus, e toda esta angústia que é viver a perseguir estes gigantescos peixes, a caçá-los e exterminá-los.
A magnífica baleia cachalote de Melville é leitura selecionada e indispensável às pessoas que tem sensibilidade para perceber a vida em toda a sua pungência, e para os amantes inveterados dos romances de aventura. Na passagem em questão, vemos a tensão dos personagens no momento exato da caça à baleia.
Moby Dick: cinco peninhas de ouro Escriba.
Da Redação.
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CITAÇÃO
"Um som breve e sibilante se estendeu pelo espaço, erguendo-se do bote. Queequeg tinha disparado o arpão. Imediatamente um puxão inesperado, partindo da pôpa, fêz estremecer o nosso bote, ao passo que a parte dianteira parecia ter esbarrado num recife. A vela arriou e estalou; uma onda de vapor escaldante explodiu bem perto e qualquer coisa rolou trepidando debaixo do bote, como um terremoto. A tripulação aos trambolhões e envolta em brancos coágolos de espuma, parecia meio asfixiada. Temporal, baleia e arpão fundiram-se num instante, porém a baleia, apenas arranhada pelo arpão, escapou-se." (pág374)
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LIVRO: Moby Dick // AUTOR: Herman Melville // VOLUME: I // EDITORA: José Olympio // Rio de Janeiro // 1957

segunda-feira, 4 de maio de 2009

NANOTECNOLOGIA - O FUTURO É AGORA

QUEM?
Alexandre Quaresma (1967). Ambientalista, escritor contista e romancista brasileiro, pesquisador independente de nanotecnologia e impactos sociais, videomaker com mais de 25 anos de experiência pregressa, nascido em São Paulo, atual editor chefe e escriba titular deste Blog. Autor dos livros A Testemunha, conto ecológico de suspense, e Nanocaos e a Responsabilidade Global, ensaio de divulgação científica sobre nanotecnologia, ambos publicados por esta Editora virtual. Diretor dos documentários de divulgação científica Nanotecnologia O Futuro é Agóra, Para Entender as Nanotecnologias, Nanotecnologias e o Mundo do Trabalho, Reflexões Sobre o Desenvolvimento das Nanotecnologias e Nanotecnologias Sociais.
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ARTIGO
Nanotecnologia: O Futuro é Agora. Nano é uma escala de tamanho referente a proporções muito pequenas. Um nanômetro equivale a um bilionésimo de metro. A nanoescala faz menção a essa diminuta magnitude. Logo, nanotecnologia (NT) é basicamente tudo que pode ser construído, forjado, manipulado e controlado nesta escala de tamanho.

Quando se considera um avanço cientifico e tecnológico, acredita-se erroneamente que este pertença a toda a humanidade, quando apenas uma minoria goza de seus reais benefícios. Fomos ao espaço, mas aqui na Terra populações ainda morrem de fome diante destas mesmas tecnologias. Avanços científicos nem sempre mitigam desigualdades sociais. Ao contrário, na maioria das vezes criam novas exclusões e acabam por ampliar as desigualdades já existentes. A população global não sabe quase nada sobre NT. E, quando sabe, é através de mensagens pré-fabricadas apresentadas pela mídia para criar um imaginário cor-de-rosa; tipo a cura para todos os males, o que não é uma verdade. O discurso sobre a NT é sempre 'nano-otimista', e todo o P&D (pesquisa e desenvolvimento) é financiado pela iniciativa privada e governos dos países ricos. As NT's ainda não são reguladas por nenhum órgão e vão se consolidando na sociedade à revelia dela própria, o que é muito perigoso. As NT's suscitam várias questões de cunho ético e de segurança. Não há pesquisas de impacto ambiental, nem para saúde humana. Fala-se de nano-robôs capazes de realizar tarefas inimagináveis. Porém, nem os próprios cientistas sabem o que pode acontecer em caso de acidentes. Os produtos com NT em suas fórmulas já estão sendo vendidos livremente, sem menção nos rótulos, transformando a população mundial em cobaias. Fala-se também de 'humanos melhorados' com as NT's, mas quem terá acesso a tais benefícios? E os 'não-melhorados'? E quem controlará as NT's? As mega-corporações transnacionais? Faz-se urgente o debate ético e público sobre as NT's. Ignorar nestes tempos velozes pode ser perigoso demais.

Nanotecnologia: o futuro é agora.

NANOTECNOLOGIA NA GRINGOLÂNDIA

QUEM?
Alexandre Quaresma (1967). Ambientalista, escritor contista e romancista brasileiro, pesquisador independente de nanotecnologia e impactos sociais, videomaker com mais de 25 anos de experiência pregressa, nascido em São Paulo, atual editor chefe e escriba titular deste Blog. Autor dos livros A Testemunha, conto ecológico de suspense, e Nanocaos e a Responsabilidade Global, ensaio de divulgação científica sobre nanotecnologia, ambos publicados por esta Editora virtual. Diretor dos documentários de divulgação científica Nanotecnologia O Futuro é Agóra, Para Entender as Nanotecnologias, Nanotecnologias e o Mundo do Trabalho, Reflexões Sobre o Desenvolvimento das Nanotecnologias e Nanotecnologias Sociais.
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ARTIGO
Os avanços das nanotecnologias (NT's) na Gringolândia, ou seja, nos países mais ricos Mundo afora, anda de vento em popa, ou melhor, com dinheiro e caixa, fazendo progressos fantásticos e ao mesmo tempo assustadores. Sim, porque as NT's já são uma realidade e estão sendo desenvolvidas e aplicadas meio que na 'encolha', e à revelia da própria sociedade que não é informada de que já a está consumindo e, lamentavelmente, sempre sob a proteção de leis capitalistas de sigilo industrial. Isto é um tanto óbvio se não fosse assustador e preocupante. Declaro isto pois ouvi, de fonte segura, da boca de quem trabalha nas tais corporações transnacionais justamente nestes ambientes de desenvolvimento tecnológico de produtos contendo NT's, que ninguém sabe o que se está fazendo e avançando em P&D's de NT's sequer na sala ao lado. Ou seja, no outro laboratório, às vezes, da mesma empresa, existe um outro técnico especialista, um outro cientista trabalhando, que também não pode, sob pena de ser punido judicialmente, mencionar os seus projetos a absolutamente ninguém. Isto é uma regra geral, é claro que há exceções. Todavia, com efeito, isso tudo nos indica que, provavelmente, sabemos bem menos do que o que se dá de fato em termos concretos no que diz respeito aos níveis de avanços em nanotecnologia no momento presente.
Isso tudo, é claro, sem falar do grande engano que é considerarmos estes avanços como pertencentes a toda a humanidade. Na verdade, no mundo real, no universo das patentes, por exemplo, no mundo dos homens, as nanotecnologias significam negócios, nada mais. É um equívoco acreditarmos num mundo em que os grandes capitalistas desenvolvem dentro de si sentimentos e princípios humanistas, pois isto nunca irá acontecer. Prova disto é que muito em nanotecnologia - como não poderia deixar de ser, especialmente considerando os países envolvidos - já está sendo aplicado em armamentos e produtos bélicos. São muitas as suas possíveis utilizações em diversas áreas, não só na militar. A miniaturização, por exemplo, é a mais óbvia, mas os potenciais vão bem além disso, e tratam de manipulação da informação de uma maneira geral: a otimização e potencialização de propriedades, como as explosivas, por exemplo; mas tratam também de rastrear, controlar pessoas e materiais com nanochips; e, finalmente, de alterar gens, clonar e fabricar novos organismos vivos, organismos estes, órfãos da cadeia evolutiva natural, o que pode ser um enorme perigo de incomensuráveis impactos.
Poderíamos dizer, sem medo de engano, que as nanotecnologias servem para quase tudo. Com a diminuição para a escala nano, um bilionésimo de um metro, embalagens, por exemplo, podem continuar a levar informações ao fabricante, mesmo depois de serem adquiridas. É possível que estes produtos continuem a trabalhar mesmo em nossas casas, enviando sinais do momento da abertura do próprio produto, sua localização física no espaço, se foi consumido inteira ou parcialmente, ou seja, tais avanços e aplicações comerciais e estratégicas, no mínimo, levantam quetões amplíssimas de cunho ético, filosófico e social.
Há que se atentar para as nanotecnologias sob pena de sermos engolidos por elas.
Toda vez que uma nova tecnologia chega, infalivelmente, destrói ou reduz drasticamente suas predecessoras. Assim, o Brasil precisa estar atento às questões relativas às nanotecnologias. Estamos numa verdadeira encruzilhada histórica: por um lado, um imenso potencial de desenvolvimento e aplicações destas técnicas, para que possamos, além de sanar nossas mazelas sociais, competir de igual para igual com os outros países; e, por outro, imensos riscos, e a necessidade premente de mais pesquisas de impacto na saúde humana e no meio ambiente, além da carência monumental de regulação do setor. Como se costuma dizer no popular, deixar para as próprias corporações a responsabilidade de se auto-regular, é um ato tão insano quanto tentar amarrar cachorro com linguiça. Estes grupos pensam em números, e não em pessoas.
Vale lembrar também que outras tecnologias já surgiram na história da humanidade, e que as desigualdades gritantes continuaram e até pioraram depois delas. As tecnologias, em si, não alteram a realidade sozinhas. Não mudam nada por si mesmas. São apenas ferramentas em mãos humanas.
Em um mundo consumista, capitalista e massificado, as NT's chegam para aguçar a ganância de alguns, e a preocupação de outros que pesquisam, como eu, por exemplo. Deste modo, direto da Redação, segue aqui a dica deste humilde editor Escriba: Populações do Planeta, olho vivo com as NT's!

domingo, 3 de maio de 2009

AS ALMAS MORTAS DE GÓGOL

QUEM?
Nicolau Gógol (1809-1852). Brilhante escritor ucraniano, autor de obras fantásticas como o conto O Capote e o romance o Almas Mortas.
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COMENTÁRIO
O Romance Almas Mortas de Nikolai Gógol é uma jóia. Trata-se de uma obra filosófica e bem humorada que, distraidamente, nos faz pensar no que significa a vida humana afinal, além de abordar com sabedorioa toda a questão existencialista, enquanto faz uma ferrenha crítica ao modo russo de dominação feudal, e a exploração de seres humanos por outros humanos. Enquanto isso, o leitor terá a oportunidade ímpar de conhecer esta cultura tão diversa da nossa, e que ainda assim, em toda a sua diferença, ainda se assemelha em réplica de modelo exploratório e em miséria e resitência de seu bravo povo. Livro interessante, leve, a despeito do título, indiscutivelmente, sombrio. Na estória, vemos um simpático personsagem percorrer fazendas e propriedades ruarais russas de seu tempo, início do século XIX, numa busca incessante e frenética por adquirir suas almas mortas; pessoas falecidas, ainda não resensiadas. Na passagem escolhida, vemos o talento do autor na descrição da qualiodade do sono desfrutada por seu personagem, além de indentificarmos hábitos alimentares russos pouco ortodóxos, que, facilmente, poderíamos comparar com os nossos, aqui do Brasil.
Brilhante!
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CITAÇÃO
"Depois da jornada daquele dia, sentia-se muito fatigado. Tendo pedido o mais leve dos jantares, constante de um simples leitão, despiu-se sem perda de tempo e, enrodilhando-se debaixo do corbetor, adormeceu logo, num sono forte e profundo, um sono maravilhoso como só é dado dormir áqueles felizardos que não conhecem nem as hemorróidas, nem as pulgas, nem os dotes intelectuais excessivos." (pág156)
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LIVRO: Almas Mortas // AUTOR: Nikolai Gógol // EDITORA: Abril Cultural // São Paulo // 1979

sábado, 2 de maio de 2009

A DESUMANIDADE DA VELHICE POR NIKOLAI GÓGOL


QUEM?
Nicolau Gógol (1809-1852). Brilhante escritor ucraniano, autor de obras fantásticas como o conto O Capote e o romance o Almas Mortas.
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COMENTÁRIO
Com seu estilo clássico e marcante, o talentoso Nikolai Gógol nos mostra em seus belos e cativantes escritos, peculiaridades da alma humana, como esta excepcional passagem de Almas Mortas, que aborda com refinada sabedoria filosófica, as mazelas e desventuras da velhice humana. Leitura de primeira linha!
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CITAÇÃO
"Tudo parece possível, qualquer coisa pode acontecer com um ser humano. O impetuoso jovem de hoje recuaria horrorizado se lhe mostrassem o próprio retrato, depois de velho. Tratai pois de levar convosco, para o caminho, ao sair dos doces anos da juventude para a áspera e embrutecedora maturidade, cuidai de levar convosco todos os impulsos humanos, não os deixeis pelo caminho, não podereis recolhê-los mais tarde! É terrível, aterradora a velhice que vos espera no futuro, ela nada faz retornar, não devolve nada! A sepultura é mais clemente do que ela, na sepultura se inscreverá: "Aqui jaz um homem!" Mas nada se poderá ler nas linhas insensíveis da desumana velhice." (pág150)
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LIVRO: Almas Mortas // AUTOR: Nikolai Gógol // EDITORA: Abril Cultural // São Paulo // 1979