sábado, 30 de maio de 2009

FRAGMENTOS PRECIOSOS DE JEAN-CHISTOPHE PELA PENA HÁBIL ROMAIN ROLLAND

QUEM?
Romain Rolland (1866/1944). Talentoso novelista, biógrafo e músico francês. Ganhou o Prêmio Nobel de Literatura no ano de 1915. Sua sensível obra concilia o idealismo patriótico com um internacionalismo humanista, além de demonstrar profunda compreensão sobre a alma humana. Escreveu peças de teatro, biografias como a Vida de Beethoven e Mahatma Gandhi, e o espetacular romance Jean-Christophe. Em 1923, fundou a revista Europe. Romain Rolland fez uma importante observação sobre o livro O Futuro de uma Ilusão de Freud. Esta observação foi a premissa usada por Freud para escrever o seguinte livro: O Mal-estar na Civilização. Quando o filósofo político italiano Antonio Gramsci escreveu, na prisão, que o "pessimismo da inteligência" não deveria abalar o "otimismo da vontade", estava citando Romain Rolland.
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COMENTÁRIO
Fazer e compilar citações de Jean-Christophe de Romain Rolland pode ser tarefa para lá de espinhosa, pois a obra é repleta de espírito e pensamentos elevados, transformando a resenha e compilação de partes isoladas num verdadeiro dilema. Quase tudo ali é bom. Lá pelas tantas, no terceiro volume de cinco, o autor exagera na descrição de aspectos da cultura da época, mas, até isso, lhe é desculpável, pois seus escritos nos servem também como preciso e inestimável relato histórico, sob pena, é claro, de ser por vezes cansativo, desafiando a persistência do bom e nobre Leitor. Fora isto, trata-se de uma grande obra, belíssima, de extrema sensibilidade, que encanta amantes da literatura nos quatro cantos do Planeta. Grande, bela e memorável. Assim é Jean-Christophe de Romain Rolland. Na impossibilidade de citar tudo, vão aqui algumas citações, pequenas pérolas, das muitas que abundam na obra deste brilhante autor francês do tão recente século XX.
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CITAÇÕES
Sobre os alemães:
"Agora que a vitória lhes sorria, não havia desprezo suficiente para as utopias 'à francesa': paz universal, fraternidade, progresso pacífico, direitos do homem, igualdade natural; diziam que o povo mais forte tinha contra os outros um direito absoluto, e que aos outros, na condição de mais fracos, não assistia direito contra ele." (pág251/vol.II)

Sobre um obeso cantor:
" Olhava Pottpestschimidt e perguntava a si mesmo: - Será que ele sente isto, realmente? Não via, porém, nos seus olhos outra chama a não ser a da vaidade satisfeita. Uma força inconciente movia aquela massa pesada. Aquela força cega e passiva era assim como um exército em combate, e ela obedecia, jubilosa, porque necessitava agir e entregue a si mesma não saberia como fazê-lo." (pág228/vol.II)

Sobre a juventude do personagem:
"É muito bonito negar o mundo. Mas o mundo não se deixa negar tão facilmente pelas fanfarronadas de um rapaz. Christophe era sincero; mas iludia-se, não se conhecia bem. Não era um monge, não tinha temperamento para renunciar ao mundo; e, sobretudo, não estava em idade de renúncia." (pág154/vol.II)

Sobre a crítica musical:
"Era porém, tão difícil aos melhores conceber a música como uma linguagem natural da alma, que, quando não faziam dela uma sucursal da pintura, alojavam-na nos subúrbios da ciência e reduziam-na a problemas de construção harmônica. Pessoas assim tão sábias deviam forçosamente dar lições aos músicos do passado. Encontravam erros em Beethoven, aplicavam a férula em Wagner. Quanto a Berlioz e a Gluck, divertiam-se à custa deles. Naquela hora da moda, nada existia para eles a não ser João-Sebastião Bach e Claude Debussy." (pág50/volIII)

Sobre música:
" Sob a graça displicente e o dilentantismo aparente dessas pequenas peças para piano, dessas canções, dessa música francesa de câmara, sobre a qual a arte alemã não se dignava a lançar olhos, e da qual o próprio Christophe negligenciara a poética virtuosidade, ele começava a entrever a febre de renovação, a inquietude - ignorsada do outro lado do Reno - com a qual os francese procuravam, nos terrenos incultos de sua arte, os germes que podiam fecundar o futuro." (pág33/volIV)

Sobre República e Democracia:
"Pela primeira vez, entreviu o sentido da Liberdade belicosa que eles adoravam - o gládio ameaçador da Razão. Não para eles não era uma simples retórica, uma ideologia vaga, como pensara. Num povo para ao qual as necessidades da razão eram as primeiras de todas, a luta pela razão dominava as demais. Que importava que essa luta parecesse absurda aos povos que se diazia práticos? (pág36/volIV)

Sobre o mercado livreiro de Paris: "É relativamente fácil fazer aceitar uma obra em Paris: a dificuldade está em fazê-la publicar. É preciso esperar, esperar durante meses, e se preciso for, toda a vida, caso não se tenha aprendido a arte de cortejar as pessoas, ou de importuná-las, de comparecer de quando em quando à hora do despertar desses pequenos monarcas, de lembra-lhes que existimos e que estamos dispostos a incomodá-los tanto quanto seja preciso." (pág78/volIV)

Sobre o Mundo: "Cada um vê o mundo à sua imagem. Aquêles cujo coração é desprovido de vida, vêem o universo dessecado, e não imaginam os frêmitos da espera, da esperança e do sofrimento que enchem as almas jovens; ou, se os imaginam, julgam-nos friamente, com a pesada ironia de um corpo empanturrado." (pág79/volIV)

Sobre a amizade: "Pertencia àquela elite que, para achar a beleza, tem necessidade de buscá-la nos tempos que se foram, ou nos que ainda não chegaram. Como se o vinho da vida não fôsse tão inebriante hoje como outrora! Mas, as almas fatigadas repugnam o contato direto da vida; não podem suportá-la senão através de um véu de miragens, tecido pela distância do passado e pelas palavras mortas dos que outrora existiram. A amizade de Christophe, a pouco e pouco, arrancava Olivier àqueles Limbos da arte. O sol infiltrava-se nos escaninhos de sua alma." (pág118/volIV)
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LIVRO: Jean-Christophe // AUTOR: Romain Rolland // VOLUME: II e III // EDITORA: Globo // São Paulo // 1941

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