quarta-feira, 13 de maio de 2009

DOIS MOMENTOS DE MUDANÇA E RENOVAÇÃO NO JEAN-CHRISTOPHE DE ROMAIN ROLLAND

QUEM?
Romain Rolland (1866/1944). Talentoso novelista, biógrafo e músico francês. Ganhou o Prêmio Nobel de Literatura no ano de 1915. Sua sensível obra concilia o idealismo patriótico com um internacionalismo humanista, além de demonstrar profunda compreensão sobre a alma humana. Escreveu peças de teatro, biografias como a Vida de Beethoven e Mahatma Gandhi, e o espetacular romance Jean-Christophe. Em 1923, fundou a revista Europe. Romain Rolland fez uma importante observação sobre o livro O Futuro de uma Ilusão de Freud. Esta observação foi a premissa usada por Freud para escrever o seguinte livro: O Mal-estar na Civilização. Quando o filósofo político italiano Antonio Gramsci escreveu, na prisão, que o "pessimismo da inteligência" não deveria abalar o "otimismo da vontade", estava citando Romain Rolland.
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COMENTÁRIO
Rápido, como quem furta, duas citações da juventude de Jean-Christophe onde vemos o autor esbanjar sua refinada técnica literária na descrição precisa dos conturbados dias que o personagem vive em busca da maturidade e de sua própria personalidade. Obra indubitavelmente bela, bem construída, narrada com expantoso vigor cativante, a despeito de sua extensa compleição física: 414 páginas, apenas do primeiro volume de um total de 5.
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CITAÇÃO
"Christophe mudava de pele. Christophe mudava de alma. E vendo cair a alma gasta e murcha da infância, não suspeitava que se lhe estava formando uma nova, mais moça e mais poderosa. Da mesma forma por que se muda de corpo no decurso da vida, também se muda de alma; e a metamorfose não se opera sempre lentamente no correr dos dias; existem horas de crise em que tudo se renova num abrir e fechar de olhos. A antiga pele cai. Nessas horas de angústia, o ser julga tudo acabado. E tudo vai começar. Morre uma vida. Uma outra acaba de nascer." (pág293)
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"A mudança era por demais brusca; depois de haver por toda a parte encontrado o vácuo, quando apenas se preocupava com a própria existência e a sentia dissolver-se qual uma chuva, eis que surge por toda parte o Ser sem fim e sem limites, agora que aspirava a fundir-se no universo. Tinha a impressção de que saia de um túmulo. A vida corria transbordante; nadava nela com volúpia e, arrastado por ela, julgava-se plenamente livre. Não sabia que era menos do que nunca, que nenhum ser é livre, que a própria lei que rege o universo não é livre, e que somente a morte - talvez - liberte." (pág298)
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LIVRO: Jean-Christophe // AUTOR: Romain Rolland // VOLUME: I // EDITORA: Globo // São Paulo // 1941

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