QUEM?
Alexandre Quaresma (1967). Ambientalista, escritor contista e romancista brasileiro, pesquisador independente de nanotecnologia e impactos sociais, videomaker com mais de 25 anos de experiência pregressa, nascido em São Paulo, atual editor chefe e escriba titular deste Blog. Autor dos livros A Testemunha, conto ecológico de suspense, e Nanocaos e a Responsabilidade Global, ensaio de divulgação científica sobre nanotecnologia, ambos publicados por esta Editora virtual. Diretor dos documentários de divulgação científica Nanotecnologia O Futuro é Agóra, Para Entender as Nanotecnologias, Nanotecnologias e o Mundo do Trabalho, Reflexões Sobre o Desenvolvimento das Nanotecnologias e Nanotecnologias Sociais.
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ARTIGO
Êta mundinho besta este nosso! Besta e frágil. Estamos todos nós agora, neste instante, nos borrando de medo - uns mais que outros, é verdade - só por causa de um minúsculo inimigo invisível chamado vulgarmente de vírus da gripe do porco, convenientemente re-batizada de Influenza-A bem no meio da crise dos primeiros dias; tudo, é lógico, para não atrapalhar inconvenientemente a turma do agronegócio, que vende carne suína a dar com o pau, enquanto o número de casos da gripe no mundo vai subindo. Nós, como bons brasileiros que somos, não ficamos atrás neste bonde, e não dispensamos um bom porquinho nas diversas receitas tradicionais de nossa cultura; e assim, o Brasil figura no cenário mundial como notável produtor e consumidor deste, atualmente, combalido animal.
O Estado, as autoridades competentíssimas, sempre - como classe mais que preparada que é para exercer suas nobres funções - correm à mídia para tranquilizar a receosa população brasileira, dizendo que já estão prontas para enfrentar a tal gripe, sendo que ao contrário, e na verdade - e nós sabemos desta muito bem e da pior maneira possível, ou seja, na prática - que a saúde pública brasileira vive um período negro de descaso e miséria total, onde falta gaze, esparadrapos, remédios, equipamentos, médicos, enfermeiros e, por vezes, até mesmo hospitais. O que se dirá se chegasse aqui um vírus letal de verdade.
Mas, o que ninguém diz mesmo sobre o coitado do porquinho é que ele - além de ser servido no rolete, como disse sábia e espirituosamente o Ministro Rudolf Estephanes, pode ser apreciado também sem rolete, na brasa sob a forma de churrasco, ou então na feijoada, no forno à pururuca, frito como torresmo, embutido em forma de linguiça e companhia limitada - serve também, o porco, por sua impressionante similaridade genética conosco, os humanos, para fazer parte de nossos próprios aparatos biológicos através, por exemplo, de válvulas cardíacas. Sim, nós somos fisiologicamente muito parecidos com os nossos gripados e saborosos amigos suínos, que suas partes físicas podem nos servir, e têm nos servido de fato, como reserva viva de tecidos para implante em diversas partes do organismo humano.
Vamos e venhamos, esta maldita gripe suína, que nos ameaça e amedronta, nada mais é que um resultado de nossa atividade exploratória que se estende a todos os seres vivos, e até mesmo ao Planeta que nos sustenta em sua infinita generosidade. É público, notório, óbvio e ululante: capitalismo e ecologia não se dão. Alguns mais espertos que outros, agora, em tempos de aquecimento global e outras mazelas planetárias, dizem-se verdes e sustentáveis desde o dia de seus nascimentos, quando na verdade querem apenas camuflar suas verdadeiras intenções capitalistas com discursos sócio-ambientais, enquanto continuam a ganhar seus mesquinhos lucros astronômicos. É claro que se a humanidade realmente quisesse, e se desse ao trabalho de rever suas práticas insustentáveis e anti-éticas, poder-se-ia, reduzindo margens de faturamento por um lado e priorizando questões sociais por outro, buscar novas matrizes energéticas mais perenes e menos poluentes e geradoras de resíduos, mudar drasticamente o nefasto panorama que se delineia bem diante de nós, em um futuro bem pouco distante. Todavia, com efeito e, lamentavelmente, não há um mínimo de vontade de mudar nada que está aí posto e praticado. Geramos lixo ‘pra burro, andamos em carros individuais, extremamente caros e dispendiosos de se produzir e alimentar com combustíveis, combustíveis estes, é bom lembrar, não renováveis, limitados e, que se não bastasse tudo isso, ainda estão contribuindo com sua poluição para a dramática alteração climática que vivemos, ameaçando a sutil harmonia terrestre.
Neste ambiente hostil, em um mundo de gritantes contradições, globalizado e ganancioso, massificado e consumista, obeso e ao mesmo tempo faminto, veloz e midiático, burro, raso e vazio, surge imponenete, oriunda de nossa própria mesa quintais e galpões de fábrica, a temida e famigerada gripe do porco, que virou a gripe do porco-homem, ou homem-porco, como preferirmos, pois não faz a menor diferença, e que pode virar no futuro sabe-se lá o quê, pois o vírus é mutante, como todo vírus! Mesmo que esta pequena e poderosa praga não nos varra da face da Terra agora - o que não deixaria de ser uma boa coisa para as demais espécies vivas - trata-se, sem sombra de dúvida, de um claro aviso sistêmico de alerta, que nos diz respeito certamente, resultado direto e diametral de nossa promiscuidade cruel e desumana para com as outras espécies vivas e o próprio planeta que tão gentilmente nos abriga, nossos maus hábitos industriais e alimentares, nossa desmedida ganância antropocêntrica por poder e domínio, lucro e, por fim, e não menos significativo por isso, por nossa indubitável insustentabilidade nata, traço marcante e característico de nossa espécie. Enquanto fusionarmos nosso gozo existencial a hábitos fúteis e torpes de consumo exacerbado, pouca esperança haverá para nós e para o nosso ambiente.
Resumindo a novela da gripe homem-porco-homem: Êta mundinho besta este nosso! Besta e frágil.
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