"A desumanidade humana agora extrapola qualquer parâmetro, e as pessoas desse novo mundo 'moderno' apertavam-se cada vez mais para caber nestes sistemas urbanos, antigos, obsoletos e fadados ao fracasso. Na verdade, vivíamos num mundo pós-colapso; e nesse mundo não era fácil se viver.
O transe de trabalhar compulsivamente já não oferecia nenhuma esperança viável, e o pouco que restava de sincero e de importante no mundo acontecia ali, dentro daquele minúsculoo apartamento.
Eram caixas de concreto armado onde todos se espremiam em busca de abrigo e proteção. Lá fora, por falta de espaço ou simples mau gosto, o mundo se empilhava, e as edificações projetavam-se cada vez mais para os céus.
Pássaros, depois da varanda, pareciam conversar animadamente seus assuntos aéreos e voadores. Em seus discursos, podia-se sentir a alegria da vida e o quão bom era voar. Aqueles fabulosos seres alados tinham sobrevivido à extinção das árvores e nidificavam agora no concreto armado das cidades sem árvore; mas, ainda assim, pareciam felizes."
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