domingo, 28 de dezembro de 2008

DA ALMA

COMENTÁRIO
Escrito belissimamente em forma de ensaio, inspirado talvez em Plutarco e Montaigne, VOLTAIRE disse o que quis e bem entendeu sobre todos os assuntos que desejava. Em seu clássico DICIONÁRIO FILOSÓFICO, logo em um dos primeiros escritos, questiona e critica com sabedoria a existência da alma humana. O que Monsieur VOLTAIRE não imaginava - e nem poderia, pois nasceu no final do século XVII, no ano de 1694, e veio a falecer aos 84 anos, na segunda metade do século XVII, em 1778 - é que o ser humano, no início do Terceiro Milênio, estaria prescrutando o comportamento dos átomos e moléculas com o advento das nanotecnologias.

CITAÇÕES
"Pode a tua razão só por só dar-te luzes suficientes para concluires, sem um recurso sobrenatural, que tens uma alma?
Os primeiros filósofos, quer caldéus, quer egípcios, disseram: forçoso é haver em nós algo que produza o pensamento; esse algo deve ser extremamente sutil: sopro, éter, substrato, um tênue simulacro, uma enteléquia, um número, uma harmonia. Finalmente, segundo divido Platão, é um composto do mesmo e do outro. São átomos que pensam em nós, disse Epicuro, depois de Demócrito. Mas, meu amigo, como pensa o átomo?
Confessa que nem o imaginas. Aceita-se seja a alma um ser imaterial. Mas vós não concebeis o que seja este ente imaterial." (pag14)
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"Cícero não tinha mais que dúvidas. Seus netos aprederam a verdade com os primeiros Galileus que arribaram a Roma. Mas antes disso, e até depois disso, em todo o resto da Terra onde não penetraram os apóstolos, cada um devia dizer à própria: Quem és tu? De onde vens? Que fazes? Para onde vais? Tu és não sei o que, que pensa e que sente. Mas ainda que pensasses e sentisses cem bilhões de anos, nada saberias por tuas próprias luzes, sem o auxílio de Deus. Homem! Deus outorgou-te o entendimento para bem procederes e não para penetrares a essência das cousas por Ele criadas." (pag21)

Livro: DICIONÁRIO FILOSÓFICO // Autor: VOLTAIRE // Editora: ATENA, SÃO PAULO, 1959

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