sexta-feira, 18 de setembro de 2009

EM QUE CRÊEM OS QUE NÃO CRÊEM? POR ECO, MARTINI E COMPANHIA LIMITADA

QUEM?
Dom Carlos Maria Martini (1927). É cardeal italiano, arcebispo emérito de Milão e escritor.
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COMENTÁRIO
A fala mansa de Martini - antagonizando premeditadamente com o Eco provocador, além de outros entendidos participantes - deu origem a uma obra muito agradável do ponto de vista ético e existencialista do significa sermos humanos, que é o livro Em que crêem os que não crêem?, pois trata de coisas que com certeza atormentam todos nós, independentemente de nossa crença religiosa. Estes conhecedores discutem copiosa e animadamente a existência ou não de um Deus único e pessoal, e o dúbio discernimento do fator que nos definiria irrefutavelmente como seres humanos. Entre muitos outros assuntos igualmente polêmicos, tudo isso se dá - vejamos nós - num universo de calma e reflexão plena, em um ambiente democrático e filosófico, e, felizmente, salvaguardando as integridades físicas, morais e intelectuais de seus protagonistas; ou seja, um avanço e tanto - digo - para a humanidade. Não há como esquecer as tragédias do passado praticados pela igreja católica em nome Dele, o Criador; mas, reconheçamos, os tempos são outros e com eles mudaram também as conjunturas. Hoje, falam de igual para igual expoentes totalmente antagônicos e diversos, num clima cordato de sensibilidade e tolerância para com o diferente, o que seria simplesmente inimaginável em outras épocas não muito distantes da nossa.
Na citação escolhida, vemos Eco em um bom momento do livro, quando trata inflamado da questão do reconhecimento do outro - segundo ele, e eu concordo - como premissa fundamental à nossa sobrevivência.
Em que crêem os que não crêem? Para ler e pensar.
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CITAÇÃO
"Nós (assim como não conseguimos viver sem comer ou sem dormir) não conseguimos compreender quem somos sem o olhar e sem a resposta do outro. Mesmo quem mata, estupra, rouba, espanca o faz em momentos excepcionais, e pelo resto da vida lá estará a mendigar aprovação, amor, respeito, elogios de seus semelhantes. E mesmo àqueles a quem humilha ele pede o reconhecimento do medo e da submissão. Na falta desse reconhecimento, o recém-nascido abandonado na floresta não se humaniza (ou, como Tarzan, busca o outro a qualquer custo no rosto de uma macaca), e poderíamos morrer ou enlouquecer se vivêssemos em uma comunidade na qual, sistematicamente, todos tivessem decidido não nos olhar jamais ou comportar-se como se não existíssimos." (pág83)
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LIVRO: Em que crêem os que não crêem? // AUTORES: Umberto Eco e Carlo Maria Martini // EDITORA: Record // Rio de Janeiro // 2001

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