Umberto Eco é escritor e professor titular da cadeira de Semiótica e diretor da Escola Superior de Ciências Humanas na Universidade de Bolonha. Autor do clássico O Nome da Rosa.
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COMENTÁRIO
Há que se crer em algo para se seguir adiante. Sim! Pois sem fé nada há. As crenças variam mas ninguém pode preteri-las sem crer em absolutamente nada, pois o próprio fato de se refletir sobre o assunto já implica numa crença implícita e inseparável na própria experiência e observação intelectual. Todos crêem em algo, mesmo que este algo seja justamente acreditar piamente que não acredita em absolutamente nada. Todavia é o caráter de debate livre e sem traumas que encanta neste belo livro coletânea de artigos; onde vemos jovialmente que a tolerância e a aceitação do outro e do diferente passa a ser um campo fértil no qual se move intencionalmente a razão humana em busca de sua ética e de seus valores. Ao nos debruçarmos por sobre temas mais que espinhosos, guiados por Eco e Martini, deparamo-nos com questões complexas - como: a existência ou não de um Deus único e pessoal; o direito das mulheres à prática do aborto; a proibição do exercício do sacerdócio para as mesmas; e a dual fé cristã amparada nos opostos exclusores, rasos e diabolizantes bem e mal - e percebemos um pouco da amplidão vertiginosa que é tentar sondar os mistérios que nos cerca a vida, e que sem dúvida adornam nossa existência. Enfim, trata-se de um livro muito interessante. Para ler e refletir. Na citação escolhida - dentro do democrático e participativo debate promovido pela revista italiana Liberal, que deu orígem ao livro e que inclui Eco, Martini e outros teóricos -, vemos um trecho do texto de Eugenio Scalfari que é jornalista e que também participou da referida obra.
Da Redação.
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CITAÇÃO
"Qual é, portanto, o fundamento da moral no qual todos, crentes ou não-crentes, podemos nos reconhecer? Pessoalmente sustento que ele reside na pertinência biológica dos homens a uma espécie. Sustento que na pessoa se defrontam e convivem dois instintos essenciais: o da sobrevivência do indivíduo [ontogênico] e o da sobrevivêncioa da espécie [filogênico]. O primeiro dá lugar ao egoísmo [narcisismo], necessário e positivo desde que não supere um limite além do qual se torna devastador para a comunidade [o Outro]; o segundo produz o sentimento de moralidade, isto é, a necessidade de responder pelo sofrimento do outro e pelo bem comum. Cada indivíduo elabora estes dois instintos profundos e biológicos com a própria inteligência e a própria mente. As normas da moral mudam e devem mudar, pois muda a realidade à qual são aplicadas. " (pág116)
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LIVRO: Em que crêem os que não crêem? // AUTORES: Umberto Eco e Carlo Maria Martini // EDITORA: Record // Rio de Janeiro // 2001
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