QUEM?
Xavier de Maistre (1763/1792). Escritor francês, mais conhecido pelo seu famoso livro Viagem à roda do meu quarto, e sua continuação Expedição noturna à roda do meu quarto.
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COMENTÁRIO
Xavier de Maistre é hilário. Com a pena em punho então, vira um monstro. Consegue a proeza de escrever do mesmo modo como pensa, e sua cabeça - diga-se - vai às alturas. Envolto em um estilo elegante e adornado por sua indiscutível erudição, o autor nos faz embarcar em sua magnífica estória às voltas de sua imaginação e criatividade, onde vai coletando e colando uma série de fragmentos de sua própria rotina diária, recheando-os com sua eloquência vivaz e, acima de tudo, com seu humor fino, crítico, irônico - típico de sua época - que nos faz deslizar por sua prosa lírica e agradável, assim como uma folha flutua tranquila num manso regato. Vale notar que cheguei a Maistre através de minha pesquisa compulsiva em sebos, aliada, é claro, à descolada dica de nosso bibliófilo maior, José Mindlin, que recomenda Maistre em seu último lançamento, No Mundo dos Livros, que acabo de ler. Na impossibilidade tácita de citar tudo desta interessantíssima obra, escolho aqui, a dedo, algumas passagens onde podemos notar claramente a genialidade deste singular autor francês. A ilustração do post é de autoria do genial Gustavo Doré, mestre incontestável da pena, todavia da pena plástica e visual.
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CITAÇÃO
Sobre o amor ao observar um porta-retratos:
"Eu existi por um instante no passado, e remocei contra a ordem da natureza. - Sim, ei-la, esta mulher adorada, é ela mesma, eu a vejo sorrindo; ela vai falar para dizer que me ama. - Que olhar! Vem, que eu te aperto contra o meu coração, alma da minha vida, minha segunda existência! Vem participar de minha embriaguéz e de minha felicidade! - Esse momento foi breve, mas foi arrebatador: a fria razão recuperou logo seu império, e , num abrir e fechar de olhos, envelheci um ano inteiro - meu coração se tornou frio, gelado, e me encontrei nivelado com a multidão dos indiferentes que pesam sobre o globo." (pág20)
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Sobre a relação do autor com sua cadelinha:
"E porque haveria eu de recusar minha afeição a esse ser carinhoso que nunca deixou de me amar desde a época em que principiamos a viver juntos? A minha memória não seria suficiente para fazer a enumeração das pessoas que se interessaram por mim e que me esqueceram. Tive alguns amigos, várias amantes, uma quantidade de ligações, mais ainda conhecimentos - e agora não sou nada para toda essa gente, que esqueceu até o meu nome. Quantos protestos, quantos oferecimentos de serviços! Eu podia contar com sua fortuna, com uma amizade eterna e sem reserva! A minha querida Rosina, que nunca me ofereceu serviços, presta-me o maior serviço que se possa prestar à humanidade: ela me amava outrora, e me ama ainda hoje. Por isso, não receio dizê-lo, eu a amo com uma porção do mesmo sentimento que consagro aos meus amigos. Digam o que quiserem." (pág29)
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Sobre a fragilidade de tudo:
"A destruição insensível dos seres e todas as desgraças da humanidade nada contam no grande todo. - A morte de um homem sensível que expira no meio dos seus amigos desolados e a de uma borboleta que o ar frio da manhã faz morrer no cálice de uma flor são duas épocas semelhantes no curso da natureza. O homem não é mais que um fantasma, uma sombra, um vapor que se dissipa nos ares..." (pág34)
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LIVRO: Viagem à roda do meu quarto // AUTOR: Xavier de Maistre // EDITORA: Estação Liberdade // São Paulo // 1989
quinta-feira, 17 de setembro de 2009
VIAJANDO À RODA DO PRÓPRIO QUARTO COM XAVIER MAISTRE
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