sábado, 19 de setembro de 2009

A PLENA FELICIDADE DE UM CÃO POR XAVIER DE MAISTRE E QUÁCULA

QUEM?
Xavier de Maistre (1763/1792). Escritor francês, mais conhecido pelo seu famoso livro Viagem à roda do meu quarto, e sua continuação Expedição noturna à roda do meu quarto.
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CITAÇÃO
"E, visto que tal é a natureza dos homens que a felicidade parece não ser feita para eles, visto que o amigo ofende o seu amigo sem querer, e os próprios amantes não podem viver sem questões e arrufos; visto enfim que, desde de Licurgo até nossos dias, todos os legisladores têm soçobrado nos seus esforços para tornar felizes os homens, terei ao menos a consolação de ter feito a felicidade de um cão." (pág89)
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COMENTÁRIO
Esta 'pessoa' branca e peluda que aparece neste instantâneo eletrônico, este cara-de-pau, este picareta oportunista, contumaz dormitador de biblioteca e adorador compulsivo de passeios na praia, este quadrúpede incorrígível e sem vergonha é o Jojoba. Sim! O fiel cão deste humilde Escribista pós-tudo da decadente e rasa era digital. Filho do saudoso Sansão, sem trocadilho, um grande cão! Figura canina singular de alma nobre com a qual tive a sorte de também conviver por aproximadamente uma década. Trata-se - na foto - de um malandro, sem dúvida, e 'de marca maior', mas, ainda assim, um grande coração humano com uma alma 'do tamanho de um bonde'. É! É isso, mesmo caríssimo Leitor(a)! Na minha casa, cachorro é gente. Ser humano Igual. Grande sabedoria bípede a minha, modéstia à parte. E foi só depois de viver um bocado, conviver e aprender com eles, estes simpáticos seres que são os cães (e os gatos) domésticos, que pude, então, perceber o quão sensíveis são estes caras que - ao contrário do que imaginamos antropocentristicamente nós - escolheram-nos para acompanhá-los nesta impressionante aventura que é singrar os dias e as idades do homem e da Terra sem nunca esmorecer. Eles estão sempre firmes ao nosso lado, já reparou? Um convívio milenar, harmonioso e, especialmente, simbiótico; vindo às vias de fato numa espécie de acordo mútuo e silencioso pactuado lá atrás, no alvorecer das Eras. Acordo este ancestral. E é justamente desde o início dos tempos que eles, os cães, acompanham-nos gentilmente Mundo afora em nossa aventura nestas paragens terrestres.
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Dignos de nosso amor, atenção, afeto, carinho, cuidado e respeito eles merecem tudo isto e muito mais, pois são eles sempre limpos de alma e coração nesta relação muitas vezes injusta e desigual, são-nos além disso fiéis até a morte - se assim puderem - e não guardam mágoas nem rancores de nossas desumanidades animalescas. Mesmo que não intencionais. Somente estas últimas qualidades já seriam bastante dignas de toda a nossa admiração, mas se não bastasse tudo isso, eles nos amam de verdade. E amam de uma maneira que poucas vezes somos em vida amados: inteiros, assim como somos, imperfeitos. Deste modo, e, segundo meu caráter e minha sólida inclinação pessoal, trato-os, a todos - os bichos - com o mesmo ou até com mais respeito do que eu trataria um semelhante meu humano, pois estes seres sensíveis nos são muito mais caros do que sequer damos conta de imaginar.
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Numa só sentença: na minha casa cachorro é gente.
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E, parafraseando Maistre, digam os outros o que quiserem!
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LIVRO: Viagem à roda do meu quarto // AUTOR: Xavier de Maistre // EDITORA: Estação Liberdade // São Paulo // 1989 // FOTO: Juliano Thuran
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2 comentários:

CaminhodoMeio disse...

Gostei muito , não só da foto e do texto mas também das entrelinhas, que revelam o coração do Escriba.Parabéns.
Tania

CaminhodoMeio disse...

Mesmo nas correrias do momento(que também passarão) tenho acompanhado o blog do escriba, e cada dia mais fico feliz por conhecer escritores nunca lidos por mim.Digo conhecer, é verdade, sem ter mergulhado nas obras.No entanto, os sensíveis comentários e a seleção fina dos textos citados, despertam meu apetite literário.Como ainda vou viver muito, terei tempo para ler muitos deles, em tardes mornas, deitada em uma rede.Tania