sábado, 4 de julho de 2009

CRÔNICA DE UM ESCRIBA PÓS-TUDO

ARTIGO
04/07/2009 dC, tempo admirável! Vão acelerados os dias de inverno. Dias curtos, frios e fugidios. Questões! Intermináveis questões! O que faz uma realidade se tornar notável a ponto de ser digna de ser escrita e descrita em linguagem literária? Ou ainda: em que manancial simbólico e sígnico o autor vai buscar e extrair seus elementos de composição literária, fundindo - como sabemos ser corriqueiro - realidade, fantasia, mitos, crenças e medos? Depois de responder a estas difíceis e impositivas questões, outra maior e mais singular surge: transpor para o léxico, para a língua falada e escrita, o sentimento obtido, a informação desejada; vista, vivida, experimentada. Ou seja, capturar o momento e ser capaz de transpô-lo, refletindo no escrito o acontecido, vivido ou criado. Isso tudo, é claro, sem deixar de fora atributo e virtude importantíssimo que é saber escrever com graça. Com estilo. E isto, definitivamente, não é fácil. Eleger as palavras certas, compor sentenças satisfatórias e, especialmente, que sejam capazes de transmitir uma gama infinita de nuances que uma realidade inexoravelmente traz em seu bojo, que dificilmente serão plenamente descritas em texto - transportando o leitor ou trazendo a história até ele - é tarefa árdua. E, superados todos estes obstáculos abstratos - mas não menos importantes por causa disto - o escritor ou escriba, mesmo que aspirante, virá a se deparar com toda uma realidade e conjuntura específica do negócio livreiro, de publicações, voltados para o mercado consumidor, é claro, que vai com a moda, que vai com os costumes, que vai com a cultura, que vai os interesses, ou seja; que vai com todo mundo. Lê-se muito no Brasil, mas lê-se mal. Nas livrarias abundam porcarias de toda espécie, que não valem a tinta com a qual foram impressas. Nossa cultura ama mesmo a televisão. Como um elemento agravante, vem a falta de capacidade da população comum de entender o que leu, ou seja, um estudo mostrou que 80% dos pesquisados que leram algo específico, não conseguiu falar absolutamente nada sobre o que leram. Tiveram a capacidade de ler, de entender e operar dentro do sistema representativo de códigos verbais escritos, mas não foram capazes de sintetizar o que leram. Não foram sequer capazes de escrever uma linha sobre. Não absorveram. Sem dúvida, no Brasil e quem sabe no mundo, os livros são para a elite privilegiada, geralmente de buxo cheio, e a filosofar pelos demais menos favorecidos. E, para ser publicado, ou publicável nobre leitor, há que se ter conteúdo e se enquadrar. O queres tu dizer aos outros? Aos demais? Já pensaste nisso? Porque queres fazê-lo? Já paraste para analisar? O que move a ti a ser um escritor? Seria mera vaidade vulgar? E mais, o que dirás tu, será o que quer ouvir o demais? Pelas massas leitoras?

Enigmas! Enigmas indecifráveis!

Da Redação.

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