terça-feira, 21 de julho de 2009

ÚLTIMOS FRAGMENTOS SELECIONADOS DO JEAN-CHRISTOPHE DE ROMAIN ROLLAND

QUEM?
Romain Rolland (1866/1944). Talentoso novelista, biógrafo e músico francês. Ganhou o Prêmio Nobel de Literatura no ano de 1915. Sua sensível obra concilia o idealismo patriótico com um internacionalismo humanista, além de demonstrar profunda compreensão sobre a alma humana. Escreveu peças de teatro, biografias como a Vida de Beethoven e Mahatma Gandhi, e o espetacular romance Jean-Christophe. Em 1923, fundou a revista Europe. Romain Rolland fez uma importante observação sobre o livro O Futuro de uma Ilusão de Freud. Esta observação foi a premissa usada por Freud para escrever o seguinte livro: O Mal-estar na Civilização. Quando o filósofo político italiano Antonio Gramsci escreveu, na prisão, que o "pessimismo da inteligência" não deveria abalar o "otimismo da vontade", estava citando Romain Rolland.
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COMENTÁRIO
Em minha longa e rápida leitura de Jean-Christophe de Romain Rolland - quase mil e novescentas páginas em cinco volumes lidos em sessenta dias corridos entrecortados com outras pequenas leituras - pude me deter em diversas passagens notáveis e dignas de citação para ésta coluna de blogagens literárias. Deste modo, mesmo já tendo escrito e postado barbaridade sobre esta bela obra, e citado muitos trechos - afinal, foram sete posts comentados só sobre Jean-Christophe - concluo os trabalhos de resenha e seleção desta interessantíssima obra com o restante de trechos selecionados do quinto e derradeiro volume. Citações sobre assuntos diversos que, enquanto lia, ainda ficaram marcados para publicação. Jean-Christophe de Romain Rolland: é indicação especial deste Escriba digital pós-tudo.
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CITAÇÕES

Sobre a crítica:
"Ora! às vezes encontram-se entre esses dois ou três bons sujeitos, e quanto bem eles podem fazer! Isso de animais ruins existe em toda parte, não é coisa do ofício. Conheces algo pior que um artista sem bondade, vaidoso e azedo, para quem o mundo é uma presa, que se torna furioso por não poder mastigá-la? É preciso armar-se de paciência. Não há mal que não possa servir para algum bem. O pior crítico nos é útil; é um treinador; não nos permite flanar em caminho. Cada vez que julgamos ter alcançado a meta, a matilha nos morde as nádegas. Em marcha! Mais longe! Mais alto! Mais depressa ela cansará de me perseguir do que eu de caminhar adiante dela." (pág333/volV)
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Sobre os animais de estimação e seus donos:
"Os animais refletem o meio em que vivem. Sua fisionomia refina-se conforme os amos de sua intimidade. O gato de um imbecil não tem o mesmo olhar que o de um homem de espírito. Um animal doméstico pode tornar-se bom ou mau, franco ou sorrateiro, delicado ou estúpido, não somente segundo as lições que lhe dá o dono, mas também conforme o que este mesmo é." (pág 363/volV)
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O personagem principal, Jean-Christophe, em vias de sua morte, reflete brilhantemente sobre o sentido e a essência da música como expressão e arte:
"A arte é a sombra do homem projetada sobre a natureza. Que desapareçam juntos, sorvidos pelo sol! O imenso tesouro da natureza passa através de nossos dedos. A inteligência humana quer colher a água que corre nas malhas de uma rede. Nossa música é ilusão. A nossa escala de sons, as nossas gamas são invenções. Não correspondem a nenhum som existente. É uma convenção do espírito entre os sons reais, uma aplicação do sistema métrico ao infinito móbil. O espírito carecia dessa mentira para compreender o incompreensível; e, como queria nele acreditar, acabou acreditando. Mas isso não é verdade. Isso não tem vida. E a satisfação que proporciona ao espírito essa ordem criada por ele, só foi conseguida ao falsearmos a intuição direta do que existe. De tempos em tempos, em contato passageiro com a terra, um gênio entrevê bruscamente a torrente da realidade que está fora dos quadros da arte. Racham-se as represas. A natureza torna a entrar por uma frincha. Mas logo depois a brecha é tapada. Salvaguarda necessária à razão humana! Esta pereceria, caso seus olhos encontrassem o de Jeová." (pág377/volV)
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LIVRO: Jean-Christophe // AUTOR: Romain Rolland // EDITORA: Globo // São Paulo // 1941

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