quarta-feira, 15 de abril de 2009

A MORTE PELA PENA VAGA-LUME DO SICILIANO LUIGI PIRANDELLO


QUEM?
Luigi Pirandello (1867/1936). Notório dramaturgo, poeta, escritor e romancista siciliano. Seus contos falam da Sicília, da província, e refletem a alma bela de seu povo e de sua região. Autor do belíssimo livro, Novelas para um Ano - O Velho Deus. Ganhou o Prêmio Nobel de Literatura no ano de 1934.
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COMENTÁRIO
A morte sempre foi, e sempre será, um fascínio para o homem impotente, diante de sua absoluta inexorabilidade. Uma boa morte, ou seja, uma boa pitada de tal ingrediente numa estória escrita, é algo que aviva, por assim dizer, a trama narrada, conferindo-lhe brilho e beleza, por uma questão, eu diria, de mera comparação. Este contraste de existir, e ter que depois, nescessária e infalivelmente, extinguir-se, é um tema instigante e profícuo, fértil para boas redações. Muitos já se debruçaram sobre o tema, escrevendo sobre ela, a morte, e muitos outros ainda hão de fazê-lo, pois trata-se, sem dúvida, de matéria fascinante que, com certeza, interessa a todos nós que ainda estamos por aqui, como direi, vivos.
Na citação escolhida, mestre Pirandello, em O Falecido Mattia Pascal, novela aprazível e competente - através da voz de um de seus personagens - interessantíssimos, diga-se de passagem - questiona este dilema que é viver, e ter que, inevitavelmente, morrer. Um drama existencial lúdico, atualíssimo, bem humorado, numa trama genialmente bem elaborada que, com toda a certeza, trará ao leitor, uma série de reflexões interessantes, enquanto este se deleitará com a bela e romanesca estória deste clássico autor italiano. Bravíssimo!
Da Redação.
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CITAÇÃO
"Mas eu agora pergunto, Senhor Meis: e se toda essa escuridão, esse enorme mistério, a cujo respeito debalde especularam, inicialmente, os filósofos e a ciência, agora, se bem que renunciando a investigá-lo, não exclui; se esse mistério não passasse, no fundo, de um engano como outro qualquer, um engano da nossa mente, uma fantasia que não se colore? Se nós, finalmente, nos convencêssemos de que este mistério todo não existe fora de nós, mas somente em nós e, ali, de forma necessária graças ao famoso privilégio do sentimento que temos da vida, isto é, a lanterninha de que te falei até aqui? Se a morte, em suma, que nos mete tanto medo, não existisse? Se fosse tão-só não a extinção da vida, mas o sopro que apaga em nós a lanterninha, ou seja, o infeliz sentimento que dela temos? É um sentimento penoso, assustador, porque limitado, definido por esse círculo de sombra fictícia que se acha para lá do pequeno âmbito da escassa luz, que nós, pobres vaga-lumes perdidos, projetando em torno a nós e em que a nossa vida fica como que aprisionada, como se fosse excluída, por algum tempo, da vida universal, eterna, na qual parece-nos que, algum dia, deveremos reentrar, Mas a verdade é que nela já estamos e nela sempre permaneceremos, mas, aí, sem mais esse sentimento de exílio que nos atromenta. O limite é ilusório, é relativo ao nosso pouco lume, o da nossa individualidade: na realidade da natureza não existe. Nós (não sei se isso pode dar-lhe prazer), nós sempre vivemos e sempre viveremos no universo; também agora, em nossa fórmula atual, participamos de todas as manifestações do universo; só que não o sabemos, não o vemos, porque, infelizmente, a maldita lanterninha bruxuleante nos faz ver somente o pouco até onde seu lume alcança. E se, ao menos, nos permitissimos vê-lo tal como é na realidde! Não, senhor: apresenta-o a nossos olhos com a cor que ela lhe dá e nos faz certas coisas, que devemos realmente lamentar, com a breca! mas das quais, noutra forma de existência, não teríamos, talvez, boca bastante para rir às gargalhadas. Gargalhadas, Senhor Meis, por todas as vãs, estúpidas atribulações que ela nos proporcionou, por todas as sombras, por todos os estranhos e ambiciosos fantasmas que fez surgir diante e em torno de nós, pelo medo que nos inspirou!" (pag206)
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LIVRO: O Falecido Mattia Pascal - Seis Personagens a Procura de um Autor // AUTOR: Luigi Pirandello // EDITORA: Abril Cultural // São Paulo // 1981

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