quinta-feira, 16 de abril de 2009

A MULHER LOBA DE HUGO

QUEM?
Victor-Marie Hugo (1802-1885). Talentoso escritor e poeta francês. Autor de Os Trabalhadores do Mar e Noventa e Três, entre muitas outras obras notáveis. Esta última, belíssima aliás, trata da Revolução Francesa, só que romanceada, e vista por este mestre imortal da pena.
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COMENTÁRIO
A arte de escrever com maestria requer do sujeito bem mais do que se imagina. Especialmente, se considerarmos as grandes obras, escritas através dos tempos, pelos gênios da pena e da prosa. Ao se descrever cenas e situações, há que se ter espírito, para poder-se captar a beleza da vida, manifesta em toda sua pungência, e mais, ater-se a não cometer excessos, como fantasiar de mais, ou de menos, não se deter em demasia em certos acontecimentos ou trechos da trama, além de não fazer grandes digressões; ao mesmo tempo que, é necessária, e até mesmo, indispensável, a utilização destes mesmos elementos, tão imprescindíveis nas grandes estórias, mas sempre, e nunca de outro modo, guiado por uma misteriosa e mágica voz interior, que indica o caminho certo, e guia o escritor na imparcialidade necessária, na imensidão que é brincar de Deus, em querer ser um escritor bem sucedido. Sim, porque criar uma estória, personagens, acontecimentos, trançá-los e mesclá-los ao bel prazer, amalgamando os seres e as coisas, conforme e segundo seu próprio desejo, não seria brincar de ser - nem que por alguns momentos apenas - o Criador da vida e do próprio universo? Uma espécie de Deus? Da estória em si, pelo menos? E, ainda, além de tudo, querer ser reconhecido socialmente por tal feito, devido a beleza e graça da obra executada. Não seria querer um pouco demais?
Pois é, escrever tem seus mil e um mistérios. Seria algo como incorporar no trabalho escrito, uma mistura perfeita e sutil de dotes, virtudes e qualidades, como: cultura, criatividade, domínio da técnica, arte, bagagem de vida, talento, habilidade, sensibilidade e uma série de outros ingredientes preciosos que, infelizmente, até agora, são desconhecidos de nós, pobres mortais que almejamos quiméricamente alcançar com nossas penas o mundo das letras imortais.
Por hora, basta, para confirmar minha hipótese teórica, recorrermos a esta luminosa e visceral passagem de Victor Hugo em Noventa e Três, onde uma pobre mãe, que já sofrera tudo que se possa imaginar - como ser fuzilada, por exemplo, e, por milagre, sobreviver - que vê à distância, perplexa, os três filhos, na eminência de serem consumidos pelas chamas de um enorme incêndio e, com efeito, acaba proferindo seu gutural e assustador uivo de pavor, rompendo o espaço sideral da trágica noite francesa daqueles dias conflituosos e memoráveis. Ao lermos o trecho em questão e, principalmente, pela forma descritiva precisa e emocionada deste notável autor francês, podemos quase que sentir, na própria carne, sua dor surda de mãe ferida na alma, ao ver ameaçada sua prole. Em uma palavra: Brilhante!
93 é leitura fina e obrigatória para quem gosta de boa prosa, e deseja saber porque o Mundo é assim como é.
Da redação Escriba.
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CITAÇÃO
"A mãe reconheceu os filhos.
Soltou um grito horrível.
Esse grito da angústia inexprimível só é dado às mães. Nada mais feroz nem mais comovente. Quando é soltado por uma mãe julga ouvir-se uma lôba, quando é dado por uma lôba julga ouvir-se uma mãe.
O grito de Micaela Fléchard foi um bramido. Hécula latiu, disse Homero." (pág197)
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LIVRO: Noventa e Três // AUTOR: Victor Hugo // VOLUME: II // EDITORA: Lello e Irmão Editores // Porto // Portugal // Sem data

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