quarta-feira, 1 de abril de 2009

O MENDIGO TELLMARCH DE VICTOR HUGO: UM SENSÍVEL EM MEIO AO CAOS

QUEM?
Victor-Marie Hugo (1802-1885). Talentoso escritor e poeta francês. Autor de Os Trabalhadores do Mar e Noventa e Três, entre muitas outras obras notáveis. Esta última, belíssima aliás, trata da Revolução Francesa, só que romanceada, e vista por este mestre imortal da pena.
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COMENTÁRIO
O que a Revolução Francesa tem a ver conosco?
A resposta é simples: tudo. Sim, porque foi ali, naquele conturbado ano de 1793, banhado de sangue de culpados ou não, que a história da humanidade deu uma enorme e brusca guinada. Movimento radical dos homens e das coisas, arremessando a cultura ocidental para um novo patamar de igualdade e direitos nunca dantes visto, e tudo naquele ano 93, um verdadeiro colosso diante do último século precedente.
E eis que, em meio ao torpor da guerra, da revolta, do conflito e da aflição das massas humanas em choque entre si, da barbárie e do degladio bruto de Vendeanos e Realistas, da França contra a França, surge Tellmarch, um ser sensível e humano, dentro do caos intempestivo dos ânimos e da furia de titãns.
Bravíssimo!
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CITAÇÕES
"Não se falava de boa vontade de Lantenac e não se falava de boa vontade de Tellmarch. Os aldeões tem um gênero de suspeita especial. Não gostavam de Telmarch. Telmarch-o-Mendigo era um homem inquietante. Que tinha ele sempre que contemplar no céu? Que fazia e em que pensava nas suas longas horas de imobilidade? Pelo menos, era extravagante. Naquela terra em plena conflagração, em plena combustão, em que todos os homens só tratavam duma cousa, a devastação, e dum trabalho, a carnificina, onde só se pensava em queimar uma casa, esganar uma família, massacrar um posto da guarda, roubar uma aldeia, e que se empregava o tempo unicamente em arranjar emboscadas, atrair a ciladas, e em se matarem uns aos outros, aquele solitário, absorto na natureza, como se submerso na paz imensa das cousas, colhendo ervas e plantas, apenas ocupado com as flores, com as aves e com as estrêlas, era evidentemente perigoso. Visivelmente não estava em uso de razão; não se emboscava por trás de uma moita, não dava tiros em ninguém. Daí um certo receio que lhe tinham." (pag61)
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LIVRO: Noventa e Três // AUTOR: Victor Hugo // VOLUME: II // EDITORA: Lello e Irmão Editores // Porto // Portugal // Sem data

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