QUEM?
Alphonse Daudet (1840-1897). Escritor e romancista francês conhecido por seu estilo elegante que unia realismo e poesia. Escreveu, entre outras obras, os contos da coletânea Cartas de meu Moinho, e Cartas de Segunda-feira, contendo estórias belíssimas.
COMENTÁRIO
A espécie humana é como uma praga que espalha seu rastro de destruição por toda parte, esgotando o ambiente do qual depende, subjugando, explorando e dizimando todos os outros seres vivos cruelmente, considerando erroneamente que os animais, vegetais e demais seres viventes sejam destituidos de espiríto, ou alma - tanto faz o termo que queiramos aplicar aqui - e vai extinguindo assim a vida no Planeta. Não é a toa que o Mundo está a balbúrdia que está, e tenhamos resolvido despejar nossos esgotos nos mares e rios de nossas próprias cidades, nestes mananciais da vida; e que tenhamos envenenado o ar que respiramos, despejando todo tipo de toxínas nele, tornando-o pesado e insalubre de se respirar; e que por fim tenhamos virado uma espécie de praga antropocêntrica extremamente bem adaptada, insustentável e voraz, que como um câncer, vai matando seu hospedeiro - o Planeta - a despeito de morrer junto com ele, em um colapso Global.
Nesta triste e muito bem escrita passagem do francês Alphonse Daudet somos capazes de ver a sua angústia de escritor humanista e sensível diante das barbáries contra os animais - já naquela época - das quais nós humanos somos capazes, desde de que o mundo é mundo. Mesmo hoje, quase duzentos anos depois, mais conscientes e sábios, ainda permitimos que existam hábitos atrozes e selvagens de caçadas e mortandades contra os animais da fauna planetária, a despeito de comprometermos o equilíbrio ecológico de forma tão dramatica, a ponto de por em risco nossa própria sobrevivência; enquanto os pobres animais, nossos meio-irmãos, nossos companheirinhos de viagem - inocentes co-tripulantes a bordo desta imensa nave a singrar o Cosmo - vão sendo perseguimos e sacrificamos ao sabor de nossas brutais crueldades. Criaturas que, de tão puras, são imcapazes de se defender de nós, humanos, seres ditos racionais, evoluídos e superiores. Maldita superioridade!
Nesta citação escolhida a dedo, vemos uma jovem e simpática perdiz contando sua estória na primeira pessoa, vivendo perplexa os pavores de uma abertura da temporada de caça na província francesa do século dezenove; as famigeradas caçadas de Provance. Trecho triste mas, infelizmente, real, especialmente se considerarmos o contexto em que vivemos, e nossos persistentes hábitos egocêntricos, marcados por carnificínas imemoriais através da história do homem na Terra. Uma verdadeira lástima! Leitura nobre e atualíssima do Mestre Daudet.
Da Redação.
CITAÇÃO
" O dia declinava. As detonações distanciavam-se, tornavam-se mais raras. Depois tudo silenciou. Terminara a caçada. Então voltamos lentamente para a planície, a fim de termos notícias do nosso bando. Ao passar diante da casinha de madeira um pavoroso quadro me reteve os olhos. Lebres de pelo ruço, coelinhos cinzentos de cauda branca jaziam lado a lado no rebordo de um fosso. As pequenas patas que a morte juntara, pareciam implorar misericórdia, os olhos velados pareciam chorar. Também vi perdízes encarnadas, perdizes cinzentas com ferradura como minha companheira, e perdizes novas, nascidas nesse ano e que, tal comoeu, ainda conservavam penugem sob as penas. Haverá algo mais triste do que um pássaro morto? As asas Têm tanta vida! Vê-las dobradas e frias dá-nos calafrios... Um grande cabrito-montês, na sua calma soberba, parecia dormir, com a língua cor-de-rosa pendendo um pouco sobre os beiços como se quisesse lambê-los.
E os caçadores lá estavam, curvados sobre essa carnificina, contando suas patas sangrentas, as asas dilaceradas e atirando-as dentro de suas bolsas, sem o mínimo de respeito pelas feridas ainda sangrentas. Os cães, atrelados para o regresso, framziam os beiços imobilizados, como se novamente quisessem precipitar-se na mata." (pág122)
LIVRO: Novelas // AUTOR: Alfhonse Daudet // Editora Melhoramentos // São Paulo // Sem data
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