QUEM?
Luigi Pirandello (1867/1936). Notório dramaturgo, poeta, escritor e romancista siciliano. Seus contos falam da Sicília, da província, e refletem a alma bela de seu povo e de sua região. Autor do belíssimo livro, Novelas para um Ano - O Velho Deus. Ganhou o Prêmio Nobel de Literatura no ano de 1934.
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COMENTÁRIO
Quem nunca se sentiu meio esquisito, indisposto, com a alma inquieta, como se fosse mesmo um estranho dentro de sua própria vida? Um sentimento de despertencimento profundo e isso, com tudo estando aparentemente bem? Pois é, este sentimento absorvente de vazio pode chegar de repente e nos pregar uma peça, desamparando-nos psiquicamente, desorganizando-nos. Do nada, tudo à nossa volta se apresenta assim meio que sem sentido, em aparente desordem, pelo menos aos nossos olhos, e aí: vai-se a bendita tranquilidade e paz de espírito que tanto prezamos. Por vezes, tal força pode transcender em poder o sujeito que sofre a sua ação, a sua influência, sobrepujando-o, devorando sua existência vorazmente, sem que ele mesmo sequer perceba sua manifestação. O contrário oposto também pode acontecer: estarmos em meio a uma vida sem nenhum sentido cognocível, vagando pelos dias e, do nada, tudo se reverte drasticamente em paz, harmonia e pertencimento - pleno e profundo. Geralmente, os gatilhos de tais situações, que disparam o dispositivo interno desta mudança radical de estado de espírito, apresentam-se a nós sob a forma de um acontecimento ou pessoa marcante, que vem, se impõe e nos transforma. É disso que Pirandello trata com maestria em seu belíssimo conto A Luz da Outra Casa. O personagem principal da estória é uma figura solitária, que teve uma infância difícil, que perdeu a mãe em situação trágica pelas mãos do pai bêbado, e que passa os dias da vida assim, como se esta não lhe pertencesse de fato, até que um acontecimento mágico e inusitado muda o seu destino de maneira dramática e radical.
Leitura sensível, finíssima, que reflete os mais profundos meandros da alma humana em sua inexorável amplidão, e que nos faz pensar sobre o que nos move a vida, e o que confere a esta sentido ou não. Numa só palavra: sensacional!
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CITAÇÃO
"Daquele dia em diante, todas as tardes, ao sair da repartição, em lugar de dar seus habituais passeios solitários, voltava para casa; esperava todas as noites que a escuridão do seu quartinho se aclarasse suavemente com a luz da outra casa, e ali ficava, por detrás dos vidros, como um mendigo, saboreando com infinita angústia a doce e feliz intimidade, o conforto familiar de que os outros gozavam, e de que ele, em criança também gozara em alguma rara noite de paz quando a mãe... a sua mãe... como aquela...
E chorava." (pág116)
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LIVRO: Obras Escolhidas // AUTOR: Luigi Pirandello // CONTO: A Luz da Outra Casa // EDITORA: Martins Fontes // São Paulo // 1960
Luigi Pirandello (1867/1936). Notório dramaturgo, poeta, escritor e romancista siciliano. Seus contos falam da Sicília, da província, e refletem a alma bela de seu povo e de sua região. Autor do belíssimo livro, Novelas para um Ano - O Velho Deus. Ganhou o Prêmio Nobel de Literatura no ano de 1934.
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COMENTÁRIO
Quem nunca se sentiu meio esquisito, indisposto, com a alma inquieta, como se fosse mesmo um estranho dentro de sua própria vida? Um sentimento de despertencimento profundo e isso, com tudo estando aparentemente bem? Pois é, este sentimento absorvente de vazio pode chegar de repente e nos pregar uma peça, desamparando-nos psiquicamente, desorganizando-nos. Do nada, tudo à nossa volta se apresenta assim meio que sem sentido, em aparente desordem, pelo menos aos nossos olhos, e aí: vai-se a bendita tranquilidade e paz de espírito que tanto prezamos. Por vezes, tal força pode transcender em poder o sujeito que sofre a sua ação, a sua influência, sobrepujando-o, devorando sua existência vorazmente, sem que ele mesmo sequer perceba sua manifestação. O contrário oposto também pode acontecer: estarmos em meio a uma vida sem nenhum sentido cognocível, vagando pelos dias e, do nada, tudo se reverte drasticamente em paz, harmonia e pertencimento - pleno e profundo. Geralmente, os gatilhos de tais situações, que disparam o dispositivo interno desta mudança radical de estado de espírito, apresentam-se a nós sob a forma de um acontecimento ou pessoa marcante, que vem, se impõe e nos transforma. É disso que Pirandello trata com maestria em seu belíssimo conto A Luz da Outra Casa. O personagem principal da estória é uma figura solitária, que teve uma infância difícil, que perdeu a mãe em situação trágica pelas mãos do pai bêbado, e que passa os dias da vida assim, como se esta não lhe pertencesse de fato, até que um acontecimento mágico e inusitado muda o seu destino de maneira dramática e radical.
Leitura sensível, finíssima, que reflete os mais profundos meandros da alma humana em sua inexorável amplidão, e que nos faz pensar sobre o que nos move a vida, e o que confere a esta sentido ou não. Numa só palavra: sensacional!
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CITAÇÃO
"Daquele dia em diante, todas as tardes, ao sair da repartição, em lugar de dar seus habituais passeios solitários, voltava para casa; esperava todas as noites que a escuridão do seu quartinho se aclarasse suavemente com a luz da outra casa, e ali ficava, por detrás dos vidros, como um mendigo, saboreando com infinita angústia a doce e feliz intimidade, o conforto familiar de que os outros gozavam, e de que ele, em criança também gozara em alguma rara noite de paz quando a mãe... a sua mãe... como aquela...
E chorava." (pág116)
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LIVRO: Obras Escolhidas // AUTOR: Luigi Pirandello // CONTO: A Luz da Outra Casa // EDITORA: Martins Fontes // São Paulo // 1960
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