QUEM?
Máximo Gorki (Максим Горький), pseudônimo de Aleksei Maksimovich Peshkov (em russo, Алексей Максимович Пешков) (1868/1936). Famoso escritor, romancista, dramaturgo, contista e ativista político russo. Gorki foi escritor de escola naturalista que formou uma espécie de ponte entre as gerações de Tchekhov e Tolstói, e a nova geração de escritores soviéticos.
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COMENTÁRIO
O que nos move à vida? O que faz com que nos movamos em direção a algo ou algum lugar? Desejos de todos os tipos e gêneros. Alguns são viciados em trabalho, outros em comida, pornografia, drogas, compras; muitas são as compulsões e vícios, sabe-se lá! Poucos são ricos e abastados. Estes não se preocupam com quase nada que não seja ganhar mais dinheiro - o que não é fácil, convenhamos - e estão sempre bem; entra ano, sai ano. Outros tipos, geralmente engravatados, revestidos de empáfia e muito solícitos, vivem como sangue-sugas, rondando o poder, e recolhendo sorrateiramente suas migalhas, que lhe garantem a subsistência e a subserviência; mas não importa, são os parasitas políticos que nós elegemos - talvez por mera incompetência em cuidarmos de nossos próprios destinos sozinhos - e a quem re-confiamos nosso futuro, há cada quatro anos. Outros sujeitos ainda vivem à margem do próprio Contrato Social, militando solenemente na marginalidade, e acabam, mais dia menos dia, sendo engolidos pelo sistema que não admite ser contrariado, e deste modo vivem pouco, ou são presos, onde ficam reclusos e separados dos demais. E, finalmente, a ampla maioria da população comum, que se resigna com sua miséria plena e monumental e são engolfados pela força descomunal do desprezo, de modo que, pouco a pouco, são inundados por um sentimento de não valerem nada - nem para si, nem para os outros - tornando-os assim como uma espécie de lixo vivo - o que os projeta para dentro de um lastimável mundo obscuro de exclusão, iniquidade e pouquissima auto-estima. Mundo pobre e desigual, sem charme e em um contexto real de drama existencial, drama este que ninguém gosta de ver e, nem muito menos, de lembrar. São os esquecidos. Pessoas que, por não poderem consumir nada além do básico para se alimentar, passam a ser desconsideradas, especialmente, nesta era de consumismo capitalista, onde o ser humano desprovido de posses não vale absolutamente nada.
Neste ambiente agônico e crítico, surgem Os Vagabundos de Máximo Gorky. Grande e renomado autor, que soube como ninguém, decifrar a alma desta gente forte simples da mãe Russia que, com toda certeza, também tinha suas misérias e desigualdades gritantes. Este brilhante escritor nos mostra que muitas vezes estes vagabundos, que encaram a existência assim mais despreocupadamente, na flauta, acabam levando uma vida bem mais tranquila e menos sofrida do que os ricos e bem abastados senhores, cheios de bens a zelar e compromissos e responsabilidades a cumprir. Ou seja, viver é um mistério danado!
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CITAÇÃO
"Konovalov tirou aparas não sei de onde, amontou lenha e dali a instantes, por entre o fumo tênue e azulado, surgiram fagulhas crepitantes que pouco a pouco incendiaram a lenha numa grande flor roxo amarelado...
Konovalov pôs uma cafeteira no fogo e pôs-se a contemplar as chamas com expressão sonhadora.
- Os homens fizeram as cidades, edificaram casas onde se amontoam, fustigam a terra, afogam-se e inutilizam-se atoamente... Será isto viver? Não, a verdadeira vida é a nossa..." (pag155)
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LIVRO: Os Vagabundos // AUTOR: Máximo Gorgy // EDITORA: Irmãos Pongetti // Rio de Janeiro // 1944
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